1)CULTURA EM PESO (CEP) – Pra quem ainda não conhece a Daimonos, como apresentaria a banda?
Mirella Jambo – DAIMONOS é uma banda de Death Metal de Natal-RN. Um duo comigo, Mirella Jambo nas vozes e letras, e Lucas Daniel nas composições, guitarra, baixo e samplers. Nos trabalhos iniciais, DAIMONOS EP e Intense Madness, quando éramos um quarteto, nosso som era mais voltado pro técnico havendo bastante solos de guitarra. A partir da mudança de formação, no In the Name of… e Fail Yourself, a sonoridade já passou a ser diferente havendo mais peso, menos solos e mais groove. A temática anti religião é a mesma desde o começo e hoje estamos bem focados na questão de transtornos psíquicos, mas sempre trazendo as mesmas reflexões. Atualmente estamos gravando material com frequência e seguindo em busca de convites e mais outros músicos para tocar ao vivo.
2) CEP – O nome da banda é uma homenagem ao som do Behemoth? Aproveitando, quais são as principais influências de vocês?
Mirella Jambo – Sim. O nome DAIMONOS foi tirado de um trecho da música Decade of Therion do Behemoth que na época de formação da nossa banda, quando ainda estávamos começando a ensaiar pra ver no que ia dar, trocávamos alguns covers e era uma das bandas que todos na época gostavam. Nossas principais influências hoje, são Cannibal Corpse, Thy Art is Murder, Aborted, Benighted, Devourment, Fit For an Autopsy, Pathology, Sepultura e Brujeria. Como vocalista, tenho admiração por estes, mas principalmente por Angela Gossow que foi uma grande influência quando comecei a cantar gutural e Paul Kuhr do Novembers Doom.
3) CEP – Já fez parte de outra banda antes da Daimonos?
Mirella Jambo – Sim. Comecei a ter bandas desde meus 16 anos. Comecei cantando limpo em uma banda de metal progressivo mas era somente banda cover. Eu tive uma banda chamada Bulwark que foi onde descobri que poderia cantar gutural. Havia outra garota no baixo e ter uma mulher ao meu lado no palco era especial pra mim. Fazíamos covers de bandas de metal alternativo e progressivo mas me perguntaram se eu sabia fazer gutural, sem nem saber o que era aquilo direito eu tentei fazer e deu certo. Logo mudamos pra Death Metal melódico, fazendo covers de Arch Enemy e Amon Amarth. Nós chegamos a ter músicas próprias gravadas, duas se não me engano. Mas nenhum álbum ou EP lançados.
4) CEP – O que te fez seguir pelo som extremo?
Mirella Jambo – A mensagem. Eu me identifico com a ideia que o metal extremo transmite. Desde criança, sempre tive muita raiva dentro de mim, eu era bem revoltada mas isso não tem uma explicação real ou um grande motivo. Hoje sou mais calma, mas o som extremo me relaxa. É como se fossem outras pessoas mostrando que me compreendem e sabem o que se passa. Mas além disso, eu vejo muita beleza nessa arte. É um tipo de “lugar” que você pode ser livre. Você questiona e não abaixa sua cabeça, cada beat ou grito está liberando sua presença no mundo. É algo complexo demais pra explicar, mas é definitivamente algo que me completa.
5) CEP – A Daimonos existe desde 2013, mas após algumas mudanças de formação passou a ser um duo e durante este período já lançou 01 full e 01 EP, e está por vir mais um álbum em 2021. Acha que com a banda mais enxuta facilita a composição? Ou são os tempos pandêmicos que proporcionam maior tempo para criação?
Mirella Jambo – Cada cabeça é um mundo. Dois mundos ao invés de quatro ou cinco, agiliza mais o processo. Hahaha! Eu e Lucas pensamos muito parecido em relação a muitas coisas e na música nós somos muito ágeis juntos. É como se ele fosse o começo e eu a conclusão. Acho que no final das contas, ter essa mudança de formação foi o que fez a gente produzir bem mais e se entender melhor. Só prejudicou na questão de tocar ao vivo porque onde moramos existem muito poucos músicos e todos já estão em várias bandas ou tem outras prioridades. A pandemia não influenciou em nada para a banda porque raramente somos chamados para tocar nos poucos shows que tem por aqui. Em relação a tempo pra criação, sempre arranjamos porque a banda é uma prioridade pra nós dois.
6) CEP – Mesmo nestes tempos caóticos de restrições e confinamentos, a Daimonos se demonstra bem atuante no cenário. Qual a importância de participar de fests online?
Mirella Jambo – Esses fests online dão um upgrade na gente. Até pela questão de não termos a banda completa pra um som ao vivo, o fest online nos dá a oportunidade de mostrar o que temos de novo. Nos ajudam a nos fazer presentes na questão de “shows” e publicidade. Ganhamos bastante visualização, pessoas que nem imaginariam que existimos acabam nos conhecendo. Sem falar que conhecemos organizadores que já levam a entrevistas como essa e pessoal de outras bandas q inclusive geram parceria. Você acaba tocando pra bem mais pessoas do que tocaria em um show ao vivo, além de dividir o cast com bandas renomadas. Não tem aquela mesma emoção mas também tem seus valores.
7) CEP – Além de estarem nas plataformas digitais, vocês têm o material físico. Sabemos que para prensar um álbum tem um custo bastante alto para uma banda independente. Como fazem os lançamentos? E qual a importância de ter o CD ainda?
Mirella Jambo – Nós lançamos material físico através de parcerias com selos de outros estados. Reunimos os selos e deixamos uma pessoa responsável pra ir na fábrica fazer os ajustes. Geralmente de 7 a 9 selos se unem e cada um dá uma quantia pra fechar o valor pedido pela fábrica. Cada um fica com um número acertado de cópias e trocam ou vendem pra onde quiserem. Temos parceiros fixos que já estão conosco há um tempo que são a Tales From the Pit, Kaotic Records e Violent Records. Consideramos importante ter o CD pela tradição e pra quem gosta de colecionar. Claro, gera uma grana pro artista e pra os selos também. Comprar material é uma forma de apoiar e dar motivação ao artista e a todos por trás disso.
8) CEP – As letras relatam o lado mais obscuro da mente humana. Como é o teu processo para compor? A insanidade vem de experiências próprias?
Mirella Jambo – Meu processo pra compor pode vir vivências próprias, segredos que eu conto entrelinhas, pensamentos indecentes… Acho que todos nós somos insanos no final. Sou uma pessoa observadora, então as referências podem ser pessoais, de filmes, documentários, pesadelos, trechos de livros etc. A inspiração pode vir até de uma situação corriqueira. Eu gosto de analisar todos os lados, então eu penso: “e se eu fosse essa pessoa?” gosto de dar umas viajadas e pensar que não existem coisas improváveis nas letras da DAIMONOS. É onde tudo pode acontecer.
9) CEP – Na introdução do som “Pain is not Bad” há uma gravação, que presumo seja a voz do Charles Manson. O que podemos tirar de proveito em uma situação de dor no teu ver?
Mirella Jambo – Sim, é a voz dele. Como falamos sobre insanidade, ele é um grande símbolo do tema pra o mundo. Mas claro, sabemos que não é o único. Ele fala: “A dor não é ruim, é boa… te ensina coisas.” Eu me identifiquei com essa frase. Eu tinha um tio esquizofrênico que falava muita coisa sem nexo. Mas se você fosse realmente analisar o que ele dizia, você acabava achando que o doido era você por não ter percebido que na verdade ele tinha razão. Nossa mente pode nos destruir se não tivermos cuidado. Você já parou pra pensar que “fulano é imaturo mas a vida vai ensinar a ele.”? Acredito que a maioria das pessoas sabe que a dor ensina e te faz mais forte. Você vai criando uma segunda pele, como falo na letra. Uma armadura. E pode acreditar, ele não estava delirando quando falou isso.
10) CEP – Na faixa “Deceased” do EP “Fail Yourself” tem a participação de Luiz Louzada do Vulcano. Como se deu esta participação?
Mirella Jambo – Essa participação foi uma homenagem que fizemos a ele. Só não foi mais longa devido a questões “pandêmicas” hahaha! Esse cara nos salvou de uma enrascada quando fomos lançar nosso primeiro full álbum onde um doido deu um golpe nos selos, deixando todo mundo na mão. O Luiz viu potencial em nós e tomou a frente do lançamento, reunindo novamente os selos e chamando outros e fez acontecer. Continuou a parceria no segundo full álbum e sempre coloca nosso som pra tocar nos programas dele. Até hoje mantemos contato e quem sabe essa parceria continue.
11) CEP – Como está o processo de gravação do novo álbum, Dementia? Há previsão de lançamento?
Mirella Jambo – Já estamos finalizando os vocais e mandamos começar as artes. Pretendemos lançar até julho de 2021 porque tem toda aquela questão dos selos e fabricação. Se tudo der certo, até julho vai rolar!!
12) CEP – Deixe um recado para os leitores do Cultura em Peso. Desejo sucesso brutal para a Daimonos!
Mirella Jambo – Agradeço demais o convite feito pela Débora, é uma honra pra mim. Parabéns pela Losna, admiro muito mulheres que tocam e cantam. Parabéns pra o Cultura em Peso por manter viva essa chama do underground, dando espaço e colaborando nas divulgações. Adorei a pauta, perguntas interessantes e sempre será um prazer responder. Aos leitores, agradeço mais ainda, pois sem vocês nada se manteria. Nós fazemos isso juntos, somos fortes assim. Me orgulho do lugar que faço parte e me enche de entusiasmo quando recebemos convites deste tipo e existem pessoas que se interessam pelo nosso trabalho. Grande abraço a todos, vida longa ao metal!