Vocais berrados e intensos, bateria potente e precisa, guitarra com cordas de baixo; ao ouvir, parece que cinco pessoas estão tocando. O que mais surpreende é quando descobrimos que são apenas dois caras que criam toda essa barulheira! O duo, originário da zona sul de São Paulo, já é um velho conhecido do underground paulista. Eles tocaram juntos no Sistema Sangria, o que revela a incrível sincronia da dupla – eles se completam como yin e yang. Nader é extrovertido, enquanto Igor é mais tranquilo, mas ao vivo, a energia é liberada sem restrições, formando uma unidade sólida. A parceria é duradoura, desde a infância. Esses dois caras não têm medo de nada e até encararam uma turnê internacional no estilo “Faça você mesmo”. Bati um papo com Nader, ele contou um pouco de tudo isso.

Dischavizer ao vivo. Foto de Dani Moreira


Primeiramente, uma honra poder bater um papo aqui com vocês. Como dito na introdução, vocês tocam juntos há muito tempo, me conta a trajetória de vocês até aqui.

Nader: Eu vou primeiramente agradecer aí mano, a oportunidade de contar um pouco a nossa história aí. Valeu pelo convite. Então, cara, eu e o Igor a gente se conhece praticamente desde os dois anos de idade, assim. Eu me mudei pra rua deles quando eu era pequenininho, minha mãe ainda tava grávida da minha irmã. Eu devia ter uns dois anos. E minha mãe e a mãe do Igor são amigas também, se conheciam já da escola e tudo mais. E a gente começou a brincar junto ali, né, mano? Vizinho e tal, nossas mães já se conheciam. Meu pai tem banda, na época ele ensaiava com a banda lá em casa, aí o pai e o tio do Igor ouviram o som, falaram “tem uns roqueiros ali, vamos fazer uma amizade” e nessas, os caras começaram a frequentar os ensaios. E né, os caras começaram a frequentar os ensaios da banda do meu pai, e o Igor ia lá, e a gente ficava lá curtindo o som, brincando ali no quintal, e aí desde então a gente sempre curtiu música, sempre cu

Nader e Igor se conhecem desde crianças

rtiu banda, a gente sempre falou que a gente tinha nossa bandinha lá e tal, fingia que tava tocando. Quando os caras davam o intervalo a gente ia lá fuçar nos instrumentos e foi assim que começou nossa música, mano, isso daí é de muitos anos mesmo, cara, acho que tipo desde 1983/ 84 mais ou menos que a gente já tá na correria aí de amizade e começou a fazer essas paradas com o som, já faz uns anos já, uns 30 e poucos anos de amizade.

Nader, é um agitador cultural do underground e é responsável por um dos festivais mais podreiras do Brasil, o Masters of Noise. Me conta como é organizar essa parada toda, e quais serão as próximas novidades do Fest?

Nader: O Masters of Noise é um festival que eu criei pensando em juntar a galera e a gente criar a nossa própria oportunidade de tocar uns eventos com mais gente, uma parada mais voltada para o nosso rolê mesmo, porque é difícil receber um convite para tocar festivais grandes, de renome, com bandas grandes. Então a ideia foi criar um festival nosso, da galera do underground mesmo. Não é muito fácil organizar não, cara.

Uma média de 80 bandas. Esse ano, a gente está comemorando 10 anos do festival. Eu já fiz uma versão especial na cidade de Salto, no interior de São Paulo, com 30 bandas. Rolou agora em julho. E agora em dezembro a gente está fazendo a festa completa mesmo aí. Festival completo, serão 80 bandas corridas no palco de baixo, mais algumas atrações diferentes como monobandas e harsh noise, essas paradas assim com pedais e tal, que vai rolar na parte de cima junto com exposição de arte e talvez uma Suspensão, alguma coisa assim. Eu tô trabalhando em cima disso agora, né? É legal organizar, eu tô contando com

Cartaz da próxima edição do festival Masters of Noise

a força de uma galera aí, o apoio dos amigos, né mano, me ajudando na divulgação, daqui uns dias tá tudo pronto, o line-up já tá completo também desse ano.

Daqui pra frente a galera vai recebendo as notícias do que vai rolar.

Em algumas entrevistas, Nader havia afirmado que o Dischavizer não estava disponível nas plataformas de streaming. No entanto, atualmente, todo o material está disponível nessas plataformas. O que você pensa a respeito desse meio de distribuição de mídia?

Foto promocional

Nader: Pois é, até um tempo atrás a gente não tinha nenhum material em plataforma, justamente pelo fato de eu ser muito perdido com essa questão mais moderna de streaming, internet, divulgações de mídias sociais. É uma coisa para mim que ainda é meio complicado de mexer, porque eu nunca tive muito acesso a isso. Meu primeiro computador eu já tinha filho, já era casado, então… não vivia aquela fase adolescente de fuçar os bagulhos, de conhecer um programa de computador, de conversar nos MSN da vida que existia. Então, cara, foi difícil, eu consegui. Agora eu aprendi, com os amigos me deram um toque, e eu consegui colocar as músicas nas plataformas através de um canal lá que acho que chama One RPM. Consegui colocar tudo e esse canal distribui, acho que, para todas as plataformas. Mas, sinceramente, nunca vi nenhum resultado financeiro.

O que melhorou foi porque agora eu consigo postar um cartaz num show e colocar uma música nossa pra rolar, e facilita também pra galera de outros lugares do mundo, né, mano? Pesquisar e acabar encontrando nosso som por ali. Mas eu relutei muito, cara, foi difícil pra mim aceitar entrar pra esse tipo de esquema. Mas tá aí, tá rolando, vamos ver o que vai dar ao futuro aí o resultado disso. Dinheiro que é bom, não vi nenhum um centavo.

O primeiro material de vocês é de 2016, Extinção. O que mudou forma de compor ou de gravar até o último material, Balthazaier de 2023, muito bom e bem produzido, por sinal!?

Nader: Nosso primeiro material que foi essa demo,  Extinção, na verdade a gente foi bem no comecinho da banda ali, então a gente ainda estava procurando um tipo de som para criar, a gente estava criando ainda uma característica para a banda, a gente não tinha muita ideia do que seria o resultado final, do que a gente tem feito hoje com as músicas do Dischavizer, era meio diferente de compor porque eu ainda estava aprendendo a me adaptar com guitarra e vocal, sempre toquei baixo no Sistema Sangria. Então, quando eu montei o Dischavizer para mim foi um pouco difícil entender como compor uma guitarra e cantar junto sem me perder ali nos riffs e tal. Ao longo do tempo a gente foi aprendendo. A gente produziu esse primeiro material, foi com o João Kombi, do Test. Ele gravou meio que ao vivo para a gente, só ligou os microfones lá e a gente gravou tudo no pau, e o vocal eu coloquei separado. Agora, hoje em dia, a gente produz diferente, a gente já grava tudo canal por canal mesmo, a bateria separada, eu coloco as guitarras depois e os vocais depois. E quem tem produzido a gente nos últimos discos foi é o Fábio Godoi, que tocava com a gente no Sistema Sangria, e toca também no Ódio Social, e mais uma 300 bandas aí. E ele que tem produzido. Agora, a última gravação que a gente fez, a gente não soltou ainda.

Ela vai para um split com uma banda da República Tcheca, mas a gente gravou esse daí com o Tonhão do Downhatta, que ele está produzindo também agora no estúdio, que ele tem um estúdio próprio na casa dele, convidou a gente para gravar lá. E a gente gravou e o resultado ficou legal. Esse daí vai demorar um pouquinho para sair porque eu vou esperar a gente conseguir lançar esse material em físico, né? No caso seria um vinil 7 polegadas

Vocês fizeram uma tour na gringa, no verdadeiro espírito underground, conta como foi e o que podemos extrair de bom do que é feito lá?

Em 2018, nós fizemos uma turnê pela Europa, fizemos 16 shows em 19 dias, mas foi totalmente assim cara, “do it yourself”. Começou assim, primeiro a gente comprou as passagens, que tava mais barata da época. Falei “mano essa é a passagem mais barata que existe, vamos pegar”. Aí compramos as passagens, a partir daí eu comecei a agendar os shows.

Foi meio no susto, tá ligado? A gente foi na loucura mesmo, compramos as passagens e depois marcamos os shows, mas deu tudo certo. A gente foi mantendo contato com a galera que eu já conhecia, algumas bandas que já vinham passado pelo Brasil. E eu fui entrando em contato com essa galera e eles foram fazendo as conexões para mim, me pa

Ao vivo na tour europeia

ssando outros contatos. Mano, curti para caramba. Uma aventura, né mano? Pegamos um carro lá em Amsterdã (NER) e saímos tocando pela Europa inteira até chegar na Bratislava (Eslováquia), subimos para a Polônia, vários países por ali. E é legal assim, cara, uma coisa que a gente tem que aprender muito com a cena europeia,  é que lá, mano, todo dia é dia de show.Todo dia é dia de show, segunda a segunda, você consegue fazer só turnê sem day off, se quiser, cara, você toca todos os dias. E outra coisa é que a galera consome bem o merchandising, mano, eles querem ajudar a banda de alguma forma. Então se o cara tá duro ali, ele compra um patch, ele compra um bottom, se o cara tem uma grana, ele pega camiseta, pega CD, pega vinil.

Então é isso, cara. A diferença é que a galera lá tem condições de consumir o merchandising e frequenta shows de segunda a segunda. Uma coisa que a gente pode usar isso como exemplo para fazer aqui futuramente, e aliás já está até demorando para a gente ter esse tipo de atitude de tocar todo dia. A diferença é essa.

No fim do ano, nesse mesmo ano de 2018, a gente ainda foi para o Chile, tocamos uns quatro shows lá, tocamos um festival grande que se chama Sobredosis, foi muito louco, então foi um ano bem produtivo ali em 2018, cara, acho que vale muito a pena as bandas excursionarem pra fora pra entender um pouco da questão cultural de cada país e de como funciona o underground pelo mundo. Uma coisa assim também muito parecida com aqui, cara, o underground é a mesma coisa no mundo inteiro, o que muda é a estrutura e a forma de fazer, mas a cena é a mesma.

Conta um pouco da adaptação que você fez para a sua guitarra, o que você estava buscando nessa adaptação.

Nader: Eu acabei adaptando ela com corda de baixo. Porque eu tava usando corda de guitarra cada vez mais grossa, só que continuava quebrando corda, não tava conseguindo deixar o som mais completão, mais cheião, e aí eu fazia o que que dava, e aí eu fui subindo o calibre, qualquer em uma, depois qualquer outra, e fui testando, meu irmão é luthier né, ele me deu uma ideia de a gente trocar as tarrachas da guitarra pra por tarracha de baixo, dar uma mexida ali no capotraste e tudo mais, e ele acabou adaptando pra mim essa guitarra e transformou ela num guitaxo, que eu costumo falar e elas são quatro cordas de baixo tirei todos os potenciômetros, deixei só o de volume e tô tocando com ela agora ela ficou com um som mais pesadão, um pouco mais de grave e aí nessa adaptação aí que eu acabei achando o verdadeiro som do guitaxo aí pro Dischavizer ela é totalmente fuçada, mas nunca troquei peça nenhuma além das tarraxas.

Fale um pouco sobre as principais influências e quais bandas vocês têm ouvido ultimamente

Eu e o Igor temos um  gosto bem parecido assim, porém algumas coisas diferenças, por exemplo, a gente sempre gostou muito de Sepultura, desde pivete, Ratos de Porão, são bandas que a gente sempre escutou muito cara, mas a gente também sempre gostou das bandas mais rock n’ roll, por causa dos nossos pais, então a gente escutava muito Black Sabbath, Deep Purple, Dio, essas bandas assim, e ultimamente,  a gente escuta muito hardcore e hardcore melódico também. O que eu tenho escutado muito ultimamente é Pennywise, Bad Religion, essas bandas de hardcore melódico, mas também estou escutando muito metal, tipo, as bandas mais clichezão, tipo Megadeth eu curto pra caramba, escuto bastante, Cavalera Conspiracy, que tenho escutado bem, aquele Morbid Visions, Bestial Devastation relançado ali, eu curto umas pegadas bem porradas também cara, uns grindcore, tenho escutado uns Wormrot, o próprio Rot, o Óbitto, banda que escuto bastante. E assim, eu tenho me influenciado também nas bandas dos amigos, cara, a gente tem tocado junto aí, Discurso de Pobre, várias bandas, então uma banda acaba influenciando a outra por estar muito junto nos rolês e tal. E é assim, cara, a gente escuta de tudo na verdade, mas o que eu tenho escutado mais ultimamente é isso aí.

Por fim, agradeço a oportunidade de saber mais sobre vocês, o espaço está aberto!

Quero agradecer o espaço aí pela oportunidade de a gente mostrar um pouco o nosso trabalho, falar um pouco sobre nossa vida, sobre nossa banda e o nosso festival. Agradeço ao Cultura em Peso e toda a galera que vai ver essa entrevista aí. Deixou muito obrigado, um grande abraço pra todo mundo. Já deixo o convite aí pra quem estiver na disposição, nos dias 2, 3, 9 e 10 de dezembro. Vamos estar desenrolando esse Masters of Noise aí, comemoração de 10 anos do Fest.

Então o convite tá feito pra todo mundo encostar aí, curtir com a gente aquela confraternização da firma no fim do ano. Vai ser muito louco e é isso aí. Obrigado Igor, obrigado todo mundo aí, valeu pelo espaço, grande abraço aí do Nader, valeu!

Saiba mais sobre a banda, clique aqui.

Nader – “guitaxo”/voz

Igor – bateria

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