Fotos: Jessica Kuhne
O último 6 de outubro, data do primeiro turno das eleições para prefeitos e vereadores em todo Brasil, foi também dia de receber os politizadíssimos Garotos Podres, banda de punk rock na ativa há nada menos do que 42 anos. Coincidência ou não, o fato é que o clima não poderia estar mais propenso para receber a banda, conhecida pelo seu discurso antifascista e ideologicamente situado no campo da extrema esquerda, com músicas com letras politizadas, que denunciam a desigualdade, a opressão e a alienação social. O evento ocorreu no Opinião, em Porto Alegre, e contou com a abertura da banda punk, Punkzilla! e da banda de trash metal, Leviaethan. O evento foi promovido pela Pisca Produtora.
A Punkzilla!, que está na estrada desde 2014, e há pouco disponibilizou o ao vivo “Lokozilla Punkolive” (2024) nos serviços digitais, tem também um novo videoclipe rodando no Youtube, para o single “Crônicas de um Motoboy”. Eles animaram bastante com músicas engraçadas, como “Eu odeio o véio da van!.
Logo depois foi a vez de um dos representantes seminais do thrash metal no Rio Grande do Sul, o Leviaethan, que apresentou seu mais recente trabalho de estúdio, “D-Evil in Me”. O registro, que chegou às plataformas de streaming em junho, interrompe um hiato criativo de mais de 30 anos. Os clássicos “Disturbed Mind” (1992) e “Smile!” (1990) são os seus antecessores. De maneira geral, pode-se dizer junção de shows (altamente pontuais, diga-se) de punk rock e trash metal foi interessante do ponto de vista das convivência das tribos.
Mas o show mais aguardado da noite seria o do lendário grupo de punk rock Garotos Podres, é claro, que fez uma apresentação inesquecível que ficará marcada na memória dos fãs. Com a pista mais lotada do que nas apresentações anteriores, a banda fez aquilo que melhor sabe por cerca de 1h30min, tocando clássicos como “Rock de subúrbio”, “Johnny”, “Anarquia Oi!”, entre outros tantos. Sucesso garantido, “Puta Vomitada” foi cantada em coro. O mesmo ocorreu com “Vomitaram no trem”.
O vocalista Mao, em ótima forma, um ícone de uma geração, e que também é professor universitário de História, deu literalmente uma aula antes de cada música, com sua postura irreverente, piadas provocativas e comentários ácidos sobre a situação política do país, algo que sempre foi marca registrada da banda. O som cru, com guitarras distorcidas, baixos pesados e uma bateria enérgica, manteve o clima vibrante e caótico do início ao fim.
“Sempre nos perguntam que tipo de som a gente faz. Pois eu vou contar pra vocês: a gente faz rock de subúrbio”, disse Mao, antes da música propriamente dita. Já antes de tocarem “Johnny”, Mao contou que teve uma época no Brasil que todas as músicas que eram feita passavam pelo departamento de censura da Polícia Federal. “Era necessário enviar 10 cópias, com cópia do RG, endereço, o que por si proprio já era uma forma de repressão, e eles poderiam aprovar ou não a sua musiquinha”, contou Mao, em meio a gritos de oioioi.
Ao final, ficou claro que, apesar dos anos, a força do Garotos Podres permanece inabalável. O show foi uma prova de que o punk rock continua vivo e relevante, ainda mais em tempos de crise e questionamentos sociais. Quem esteve presente saiu com a sensação de ter vivido uma noite histórica, reafirmando o poder transformador do punk rock. Longa vida aos Garotos Podres!