Donos de um visual único, músicas cativantes e letras misteriosas, Ghost finalmente voltou ao Brasil com dois shows esgotados após seis longos anos desde sua última vinda. Os fãs estavam ansiosos e emocionados para ver o grupo sueco e eles certamente não decepcionaram. Formada em 2008 pelo vocalista e líder Tobias Forge, a banda ganhou notoriedade ao incorporar elementos de rock e metal em suas músicas, combinando riffs pesados e melódicos com vocal poderoso.
O retorno da banda ao Brasil provocou uma empolgação sem precedentes, com ingressos esgotados em menos de 2 minutos nas duas datas anunciadas. Após tantos anos de espera, os fãs teriam a chance de testemunhar novamente a performance eletrizante do Ghost no palco. E foi exatamente isso que aconteceu. Os shows foram verdadeiras experiências transcendentais, embora no segundo dia de show (21) o público tenha reagido mais calorosamente e intensamente à apresentação. Com sua teatralidade característica e muito bem coreografada, a banda se apresentou com uma intensidade avassaladora em ambos os dias.
O esquenta ficou a cargo da banda Crypta, mas devido a atraso na logística da banda Ghost no dia 20, tiveram seu show de abertura cancelado. No entanto, entregaram tudo no show do dia 21, marcando o início da nova turnê de divulgação do álbum “Shades Of Sorrow”. Fernanda Lira, como sempre, dona do palco, mostrou-se imponente com seu gutural e sua presença de palco. Jéssica Di Falchi e Tainá Bergamasch não ficaram para trás, em perfeita sincronia, com riffs perfeitamente executados. Foi impossível não querer bater cabelo com o som pesadíssimo característico da banda. Para fechar o pacote, Luana Dametto com sua bateria nervosa aqueceu ainda mais o público, que em pouco tempo lotou o espaço Unimed.
Após Crypta deixar o palco, não demorou muito para começar a longa introdução antes do Papa Emeritus e seus Nameless Ghouls entrarem no palco. Começando com “Klara Stjärnor” de Jan Johansson e logo em seguida “Miserere” de Gregorio Allegri. Notei que em ambos os dias, o público ficava mais ansioso a cada minuto que passava com a interminável introdução, era um levanta e abaixa celular em looping (todos ansiosos para filmar a queda das cortinas).
Durante esses 15 minutos, algumas vezes era possível ver uma mão passando pela cortina, deixando os fãs cada vez mais ansiosos para o início do show. No apagar das luzes, entra “Imperium”, música que abre o álbum “Impera”, e antes mesmo das cortinas caírem, os fãs brasileiros fizeram jus à fama de melhor público do mundo. “Kaisarion” entra rasgando, e a energia que a música transmite ao vivo é mais contagiante do que ouvir no álbum de estúdio. Papa Emeritus IV faz sua entrada e é recebido com o público cantando a música com todas as forças ali guardadas. Sem pausa para descanso, “Rats” entra logo em seguida, fazendo o público cantar junto em coro o refrão “whooaaaa”.
A próxima faixa seguiu o padrão que a banda vem adotando na turnê: em um show, eles tocam “Faith”, e no outro tocam “From The Pinnacle To The Pit”. Os fãs mais assíduos que compareceram nos dois dias puderam aproveitar essa mudança no repertório. Sem mais surpresas, “Spillways”, que já é uma presença fixa na setlist, não ficou para trás no coro. A tão aguardada “Cirice” pelos fãs, que anseiam pela interação, foi o momento de mais empurra-empurra na grade. Afinal, qual fã não gostaria de ser “ciriced” pelo Papa enquanto canta olhando fixamente em seus olhos? “Absolution” entrou para ficar, substituindo “Hunter’s Moon” na metade da turnê pra cá, deixando alguns fãs desolados pela falta da música no repertório. Na sequência, sou suspeita de falar, mas a música mais aguardada por mim era a tão aclamada “Ritual”. O jogo de iluminação no momento em que a música fica mais “pesada”, fazendo contraluz com a máscara do Papa, dando um ar ainda mais demoníaco, foi a cereja do bolo.
Após uma pequena pausa, com todas as luzes apagadas e apenas uma vibração ensurdecedora para quem estava bem alinhado com o centro do palco, Phanton começa dedilhando “Call me Little Sunshine”. Papa Emeritus IV deixa de lado um pouco suas dancinhas e gingado e adota um ar mais sério, ficando mais estático ao centro do palco. Enquanto ele performa a música, é impossível não reparar nos detalhes do Pluvial e da Mitra Papal. Que música! O inconfundível baixo de “Con Clavi Con Dio” agita os fãs mais “old school” e Papa retorna ao palco com um Turíbulo aceso. O fundo montado imita uma igreja, com vitrais projetados. A iluminação e o tom como a música é cantada formam um pacote completo para você se sentir numa missa, nesse caso, num Culto Satânico.
“Watcher in the Sky”, mais uma música do álbum “Impera”, já garantiu seu espacinho entre as mais amadas pelos fãs, mas é inegável a força que “Year Zero” tem quando o coral nomeando alguns demônios começa. Foi mais um momento de interação do Papa com o público e uma grande surpresa para mim, pois fui escolhida para ser hipnotizada por sua “Ancient Serpent Deceiver”. Foi como se minha alma tivesse sido arrancada do meu corpo por alguns instantes, o olhar congelante do Papa no fundo de sua alma é intenso. Agora entendo por que todo fã deseja esses segundos de atenção. Hora de acalmar os ânimos e relaxar ao som da música fofinha da banda “He is”, que foi recebida com coro do início ao fim. Papa deixa o palco e a instrumental “Miasma” começa, o ponto alto da música é a ressurreição do Papa Nihil para o seu famoso solo de Saxofone onde é possível ver mais interações dos roadies com a própria banda, reafirmando ainda mais a teatralidade e a proposta da banda.
Na sequência, a música que viralizou nas trends do Tik Tok, “Mary on a Cross”, fez o público perder o fôlego restante que tinha, mostrando mais uma vez para o que veio. A música, com mais de 400 milhões de reproduções somente no Spotify, une os fãs de todas as “gerações” de Ghost, e até quem não conhece acaba ficando com a música grudada na cabeça. “Mummy Dust”, uma música que destoa um pouco do resto da setlist, dá lugar a uma voz “meio” gutural e a um solo de Keytar executado pela Ghoulette Cirrus, finalizando com uma chuva de papel picado e “Mummy Bucks” (666 Dólares da União do Clero do Ghost). Com uma falsa sensação de show finalizado com “Respite on the Spitalfields”, não tem como não se derreter na harmonia do solo. Papa se despede e agradece a todos rapidamente, deixando o palco ao som do coro de Aurora e Swiss, finalizando a música. Momentos depois, Papa retorna usando sua roupa de Gala e pergunta ao público o que ainda estão fazendo ali, pois o show já havia acabado.
O público quer mais, e Papa começa a negociar quantas músicas ainda deve tocar antes de encerrar de vez. Nos dois dias de show, esse foi o momento em que começou um coro pedindo “Twenties” (música inspirada em um ritmo brasileiro). No dia 20, esse coro foi ignorado pelo frontman, mas no dia 21 foi respondido com não apenas um, mas dois belos “nãos”, com a promessa de que ficaria para a próxima vinda ao Brasil. Para fechar o show de vez, na minha opinião, não poderiam ser outras músicas, senão as escolhidas: “Kiss The Go-Goat”, com uma pegada sessentista, encaixando perfeitamente com a lore da banda; “Dance Macabre”, numa pegada dançante, com direito a uma fã reproduzindo cenas do videoclipe, com uma chuva de sangue (falso) sobre o rosto; e por último, para fechar com chave de ouro, “Square Hammer”, que, apesar de ocupar o segundo lugar das músicas mais reproduzidas no Spotify, considero a melhor música do Ghost, e o público concordou, agitando e pulando até o último riff.
Ao som de “Sorrow in the Wind” de Emmylou Harris, Papa e seus Nameless Ghouls, fazem uma última interação, distribuindo as setlists do palco, jogando palhetas e dando um último adeus com uma linda saudação com todos os 9 membros abraçados.Aos gritos dos fãs até o último segundo, Papa sobe a escadaria onde fica a bateria e, com uma última saudação, as luzes se apagam.
A sensação ao terminar os dois shows foi de sair com a alma lavada, tantos anos de espera valeram a pena, pois Ghost entregou tudo. Depois de 2 dias apreciando esse espetáculo, consigo entender como a banda ficou grande e o porquê carrega uma onda gigantesca de fãs fiéis. A equipe internacional foi extremamente solícita e a todo momento se preocupou com o bem-estar de todos ali presentes, não é à toa que a equipe é tão amada quanto a banda.
Espero que eles não demorem a voltar, pois, apesar de ser uma banda que entrou recentemente na minha vida, já me sinto parte do rebanho e aguardo ansiosamente pelos próximos anúncios do Clero. (Por favor, não matem o Cópia)
Setlist 20 de Setembro de 2023
Klara Stjärnor (Jan Johansen Song)
Miserere mei, Deus (Gregorio Allegri Song)
Imperium
1. Kaisarion
2. Rats
3. Faith
4. Spillways
5. Cirice
6. Absolution
7. Ritual
8. Call Me Little Sunshine
9. Con Clavi Con Dio
10. Watcher in the Sky
11. Year Zero
Spöksonat
12. He Is
13. Miasma
14. Mary on a Cross
15. Mummy Dust
16. Respite on the Spitalfields
Encore:
17. Kiss the Go-Goat
18. Dance Macabre
19. Square Hammer
Sorrow In The Wind (Emmylou Harris Song)
Setlist 21 de Setembro de 2023
Klara Stjärnor (Jan Johansen Song)
Miserere mei, Deus (Gregorio Allegri Song)
Imperium
1. Kaisarion
2. Rats
3. From the Pinnacle to the Pit
4. Spillways
5. Cirice
6. Absolution
7. Ritual
8. Call Me Little Sunshine
9. Con Clavi Con Dio
10. Watcher in the Sky
11. Year Zero
Spöksonat
12. He Is
13. Miasma
14. Mary on a Cross
15. Mummy Dust
16. Respite on the Spitalfields
Encore:
17. Kiss the Go-Goat
18. Dance Macabre
19. Square Hammer
Sorrow In The Wind (Emmylou Harris Song)
Data: 20 e 21 de Setembro de 2023 – 21h00 | Espaço Unimed – Rua Tagipuru, 795 – Barra Funda – São Paulo – SP
Organizador: Move Concerts
Texto e Fotos por: Ellen Artie