A apresentação do Gojira nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 tem gerado uma onda de opiniões variadas e um interesse considerável. Esta inclusão da banda de metal francesa na cerimonia de abertura de um dos eventos esportivos mais prestigiosos do mundo constitui um marco tanto para o metal como para o reconhecimento da banda no panorama musical global.
Gojira, conhecida por seu potente som que mistura elementos de death metal com mensagens de consciência ambiental e espiritual, se une a um elenco diverso na cerimonia de apertura que inclui artistas de diferentes géneros. Sua atuação prometia ser uma mistura única, já que colaboraram com a mezzo soprano Marina Viotti, aportando uma fusão inusual de metal e ópera. Bueno, inusual para as pessoas não imersas no mundo do metal sinfónico.
A reação na França tem sido mista. Por um lado, muitos fanáticos do metal e seguidores da banda ao redor do mundo tem recebido a noticia com entusiasmo, vendo isso como uma validação do género em um cenário tão proeminente. Por outro lado, alguns setores mais tradicionais e conservadores do público francês tem expressado surpresa e descontento, considerando que o estilo agressivo do Gojira não se encaixa com a imagem solene dos Jogos Olímpicos, isso, de acordo com uma nota do Times Now.
Outra coisa similar foi a representação de Maria Antonieta decapitada na Conciergerie. A casa da corte, convertida em prisão, foi o calabozo da desgraciada rainha na Ilha de la Cité. Nas suas janelas, apareceram varias figuras decapitadas ataviadas de vermelho, e nas grades, outras ataviadas de preto, falando com a canção que aparece em um principio, acompanhada depois da versão do Gojira: forte, consistente, e por cima, contestatária. Nas mídias, o desconforto dos setores de direita se fez presente, não apenas com a banda, mas com a organização, considerando-a rude e polêmica.
Ao respeito, circula uma imagem que, supostamente, retrata a reação dos reis de Espanha ao ver a representação da desgraciada rainha.
A figura decapitada tem gerado uma significativa polémica e reflexão sobre sua ressignificação no contexto atual. Se convertendo num símbolo potente e provocador. Historicamente, sua execução representou o clímax da Revolução Francesa, um ato que marcou o fim da monarquia absoluta e o inicio de uma era de câmbios radicais na França. No cenário dos Jogos Olímpicos, esta imagem se ressignifica, não apenas como uma reflexão sobre a historia da França mas também como uma crítica e recordatório da violência e do poder que as figuras políticas podem exercer e sofrer.
Em termos de ressignificação, a apresentação em um evento global como os Jogos Olímpicos, geralmente associado com a paz e a competência amigável, introduze uma tensão entre a celebração e a crítica histórica. A imagem da Maria Antonieta decapitada pode se interpretar como um comentário sobre o poder e a justiça, e como esses conceitos se manipulam nos diferentes contextos históricos e modernos.
Aliás, o uso de esta figura em um espetáculo público destaca como os eventos culturais e esportivos podem ser plataformas para explorar e questionar narrativas históricas, conectando com audiências internacionais de maneira inesperada. A música, em este caso com a banda Gojira, também cumpre um papel crucial ao evocar emoções e provocar reflexões sobre esses temas, mostrando como a arte e a cultura podem servir como veículos para o debate social e político.
A recepção do público francês tem sido mista, com reações que vão desde admiração pela audácia da posta em cena, até críticas pela sua possível insensibilidade. Esta diversidade de respostas reflete a complexidade e a carga emocional que a figura de Maria Antonieta ainda tem na memoria cultural de uma França dividida entre posições conservadoras e a ideia de projetar-se como uma nação que hasteou a bandeira da liberdade.
Isso se desenvolve em um marco em que, as criticas a tolerância e o respeito do governo francês tem sido posto em duvida por coletivos defensores de D.D.H.H., já que, periodistas do The New York Times, reportes do Le Reverse de la Médaille, Anistia Internacional e a Red em Defesa dos Direitos Digitais (R3D) tem dado conta das violações dos direitos humanos que estão se levando a cabo no pós da experiencia do turista olímpico.
A função social da música e da ressignificação dos eventos globais
A participação do Gojira na apertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 representa uma ressignificação importante no contexto dos espetáculos massivos em eventos de esta magnitude. Tradicionalmente, as cerimonias de apertura dos Jogos Olímpicos tem destacado géneros musicais mais convencionais, mas a inclusão de uma banda de metal como Gojira mostra uma apertura à diversidade cultural e musical. Este câmbio poderia sinalar um movimento para uma maior inclusão de géneros e subculturas menos convencionais em eventos globais, refletindo uma aceitação mais ampla de diversas formas de expressão artística. Isso não apenas rompe com os moldes tradicionais, mas também reconhece a importância e o impacto de géneros como o metal na cultura contemporânea global.
Desde a perspectiva do livro Uma Historia Social da Música de Henry Raynor, a música sempre teve uma função social significativa. Segundo Raynor, a música não reflete apenas os valores e emoções de uma sociedade, mas também tem o poder de influir no câmbio social. Gojira, com seu enfoque em temas ambientais e sociais, utiliza sua plataforma para educar aos seus ouvintes. Sua atuação nos Jogos Olímpicos amplifica estes mensagens, mostrando como a música pode ser um veiculo para a consciência social e o câmbio, em consonância com a função histórica da música como um meio para a reflexão e a ação social.
A presença do Gojira nos Jogos Olímpicos, pelo tanto, não é só uma vitoria para o reconhecimento do metal como um género legítimo e relevante, mas também uma oportunidade para que a música cumpra sua função social ao abordar questiones globais urgentes. Esta integração de arte e mensagem num forum tão visível pode inspirar aos espectadores a considerar mais profundamente os temas presentados e a reconhecer a música como um catalizador para o câmbio social. A cerimonia de apertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, com sua mistura de tradição e modernidade, oferece uma nova perspectiva sobre como os eventos globais podem ser plataformas para o diálogo cultural e a exploração de temas complexos.
e tudo caminhará…
Disclaimer: Esta é uma opinião, o qual não representa a postura do Cultura em Peso, e sim de quem assina e escreve.
Traduzido por: Karla Sweden
Fontes:
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Raynor, H. (1972). Una historia social de la música: Desde la Edad Media hasta Beethoven. Siglo XXI Editores.
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