Com 3 palcos, 37 bandas de excelente qualidade e um público atento às fraudes que têm ocorrido na cena mexicana, a organização teve o desafio de trazer pela primeira vez este festival para a Cidade do México (anteriormente era realizado em Monterrey).
Os palcos MX e MF eram grandes palcos gêmeos, um lado do outro, com telões gigantes nas laterais, para que o público interessado nas bandas ali apresentadas não precisasse se deslocar entre eles. A área preferida (em frente à área geral) era ampla e preenchida. De referir que a área geral ficou suficientemente próxima do palco para poder desfrutar de todo o evento.
O palco do Trve era muito bom, com bandas de muita qualidade e por ser menor e não ter área preferencial deu a todos a oportunidade de ter uma experiência mais próxima das bandas.
Houve venda de mercadorias e produtos de boa qualidade da cena, como patches, broches, botas de couro e camisetas. O preço das bebidas e comidas era alto, US$ 180 o litro de cerveja, US$ 60 o ml de água de US$ 350, cesta de tacos por US$ 100 e outras compras que não perguntamos. Havia banheiros suficientes.
As atividades no palco MX começaram com o ícone espanhol do heavy metal Leo Jiménez, que continua a comemorar sua turnê “30 anos após o apocalipse”. Para os primeiros participantes, foi um prazer culposo vê-lo aparecer com sua banda, começando com as primeiras notas de “With or without reason”. Sob um sol implacável, Leo conseguiu fazer o público que continuava chegando ao local pular e cantar. O clássico “Ventos da Guerra”, que marcou uma época de ouro com Saratoga, tornou-se um dos momentos mais memoráveis, entoado a plenos pulmões pelos presentes. Para encerrar a participação, cantou “Desde a infância”, acompanhada de emocionados agradecimentos e votos de felicidades ao festival e ao público.
O pôster dizia que o Enforcer abriria o palco do MF, então foi uma surpresa ver o logotipo da Voltax no palco. Achamos que o Enforcer teve que cancelar e a banda mexicana foi chamada para preencher a lacuna. A apresentação desta banda mexicana foi muito boa, como costumam oferecer. Assim mesmo não tendo podido ver o Enforcer tivemos uma performance pesada de qualidade, embora com um som mais adaptativo, que nesta ocasião nos ofereceu um som mais pesado, muito em linha com o festival. Houve algumas falhas no som e havia muito poucas pessoas, mas a recepção e a apreciação pelo som foram perceptíveis.
Fomos ao palco do Trve ver um pouco de Urtikaria Anal. A esta hora da tarde o clima neste palco era muito melhor do que nos palcos principais. Teve mosh, wall of death e muito animada, Urtikaria é uma banda de Monterrey, bastante conhecida e seguida na Cidade do México. Com o traje característico de tanga, seios falsos e máscara, a vocalista animou o público alternando o grind e o pornogore da banda. Quando tocaram em Glande pediram que o mosh fosse exclusivo para mulheres, que não hesitaram em responder e aumentar a adrenalina dançando um pouco.
Na apresentação de Legion of the Damned a conexão com o público se destacou, foi perceptível que a banda prestou atenção nisso, o que foi muito bom, pois já havia chegado um bom número de pessoas, então a banda ajudou a estabelecer o ambiente.
Homicide veio do Chile, uma banda brutal com cordas e bateria rápidas, e guturais com muito boa técnica. Essa banda não é tão conhecida internacionalmente, mas pessoalmente (Josshua) preferi vê-los do que Legion of the Damned. Foram necessárias cerca de 5 músicas para as pessoas se animarem e fazerem mosh, onde um chileno se destacou agitando sua bandeira. Na segunda metade do show o público entrou no clima, se divertindo, dançando e gritando de bom humor.
Quase às 17h Samael começou no palco do MF, a essa altura a área preferencial já estava lotada e a área geral tinha um grande número de pessoas. Samael é uma banda clássica que não hesitou em experimentar e se manter atual, e que se reflete no palco com uma atitude sólida e livre, ora enérgica, ora solene. Algo único em ver Samael ao vivo é que a bateria é tocada em pé, enquanto Xy alterna entre bateria e teclado. “É bom estar de volta ao México”, disse Vorph (vocal) em espanhol. Samael! Samael!, gritava o povo. Depois das bandas death, o set deles ficou mais calmo e sério, sem moshpit, mas com muita gente balançando a cabeça, alguns deles, que os ouviam desde os anos 90, como Ricardo e Nereyda que viajou do extremo noroeste do país para o festival.
Benediction ofereceu um ótimo cenário, com muita atitude e adrenalina. O som deles era digerível e agradável, mesmo para espectadores que não conheciam bem a banda (como Afrika). Havia muita gente que conhecia a banda, que é muito conhecida nos Estados Unidos, outras, embora não a conhecessem, era o tipo de som que procuravam.
A questão da acessibilidade para pessoas com deficiência poderá ser considerada em eventos futuros. As MX e MF podiam ser acessadas com cadeira de rodas, embora não facilmente. Mas para o Trve era necessário subir e descer escadas. Depois que Samael terminou, ajudamos uma pessoa em cadeira de rodas a chegar até aquele palco para ver Cynic. Porém, houve uma mudança não anunciada no cronograma daquela etapa, então, no lugar de Cynic, Luzbel foi titular.
Luzbel fez uma apresentação do tamanho do nome. Energia e paixão foram demonstradas pelos membros que hoje pertencem a diferentes gerações. “A lenda ainda está viva e é graças a todos vocês”, mencionou o vocal. Coros, gritos, vivas e em geral uma ótima recepção do público. O vocalista mencionou que foi um prazer estar em sua cidade após uma turnê por outros países. Mencionou também que “El greñas” (guitarrista) é quem mantém a banda viva, já que é o único fundador presente. A banda foi formada em 1982 e “El greñas” sem dúvida mantém a atitude e habilidade com a guitarra. O guitarrista mencionou alegremente que foi um prazer estarmos gostando tanto do novo material.
Arkona, Arkona!! Uma performance verdadeiramente notável desta banda de metal pagão. Uma grande presença de palco, principalmente de Masha, a líder da banda, que dançava, balançava a cabeça e alternava entre poderosos guturais e cantos russos. Muito ad hoc, eles tocaram no palco do Trve e havia muita gente que os conhecia e estava lá para vê-los. Eles apresentavam principalmente músicas de seu álbum Kob’, com tendências de blackmetal. As pessoas pediram Yarilo, um de seus clássicos folclóricos, mas tiveram pouco tempo e não puderam mais tocá-la.
Depois de Arkona, o palco estava mais do que montado para Ne Obliviscaris, os australianos que misturam a brutalidade dos guturais poderosos com a beleza dos arranjos de violino e refrões limpos e progressões de cordas. “Lindo, lindo, mamacito” foram algumas das coisas que gritaram para Tim (violino e voz limpa). 6 pessoas no palco, todas sentindo a música, interagindo entre si e com o público. Eles mencionaram diversas vezes que o México era um dos seus lugares favoritos para jogar. Neo! Neo!, gritavam as pessoas, enquanto Tim fazia sinais de que sentia o apreço em seu coração. Eles apresentaram Equus, Forget Not e And Plague Flowers the Kaleidoscope. Não houve moshpit, mas houve crowdsurfing. No final, Tim se despediu efusivamente.
Quando voltei ao palco principal, o Satyricon já estava lá e era impossível entrar na área geral e na área preferencial, estava completamente lotado e havia muita gente na pista (o Velódromo é uma ciclovia), isso implica que havia mais de 12.000 pessoas. Esta banda de black metal de segunda geração, que o próprio Euronymus disse que não iria longe, fez uma apresentação magistral oferecendo músicas de toda a sua carreira. Foi possivelmente a apresentação com mais gente de todo o festival, já que havia pessoas que eram a banda que mais queriam ver. Claro que Mother North e K.I.N.G. Eles não poderiam estar faltando.
Cynic tocou no palco do Trve, que na programação dizia que tocariam mais cedo. Quando eles estavam começando, alguém do público me perguntou: ei, é aqui que o Arkona vai tocar? Como era o que o cronograma indicava, eu disse a ele que tinha havido mudanças, alguém me perguntou, então Ne Obliviscaris também?… Os Californians of Cynic sem dúvida ofreceram uma apresentação. Uma apresentação muito séria mas emocionante, com progressões e vocais limpos com efeitos. Uma boa apresentação, mas como eles tocariam também no segundo dia, fui ao palco principal ver o Atrocity.
Foi uma surpresa ver que um grande número de pessoas havia saído, consegui ir para a área geral sem nenhum problema. No meio do set, eles próprios começaram a gritar “Oe-oe-oe-oa-”, ao qual o público respondeu “Atrooo-ci-ty Foi uma boa apresentação, embora alguns participantes do evento já parecessem um pouco cansados”. No final, eles queriam tocar uma música adicional, mas cortaram o som e a iluminação, as pessoas protestaram, gritando “Culeeeeros”, mas não teve impacto, o Atrocity teve que sair do palco para dar lugar ao Dethklok.
Dethklok, que maneira de fechar. Assistir desenhos animados enquanto balança a cabeça ouvindo metal é uma ótima combinação. Queremos ver desenhos animados! eles gritaram na plateia pouco antes de começarem. A apresentação começou com uma gravação de Metalocalypse (série animada de Brandon Small, vocalista, compositor e produtor da série), onde apareceu um soldado furioso, anunciando que Dethklok estava de volta. As projeções estiveram presentes durante toda a apresentação, aliás, os músicos estavam no palco, mas não eram visíveis pela luz do telão. O conjunto todo foi excelente, mas pessoalmente gosto mais das músicas dos primeiros álbuns, onde se destacaram Awaken, Murmaider, Into the water. Perto do final, eles tocaram uma gravação dizendo que era hora de se despedir, mas que poderiam tocar mais algumas músicas se todo o público solicitasse. As pessoas responderam e seguiram com a melhor música que puderam: Fansong.