1) CEP (Cultura em Peso) – Conte-nos sobre sua trajetória em bandas até a Sangria.

Nanda Sousa

Nanda Sousa – Já passei por bandas como Cyber Croatoan e Arvak, apenas essas duas tive um compromisso mais sério, as outras experiências eram apenas passar um som e fazer rock de garagem, bem típico de quando nós somos adolescentes haha.

2) CEP – Como descobriu que tinhas um demônio dentro de ti que precisava se expressar, digo, como soube que tinha potencial para o vocal gutural?

Nanda Sousa– Descobri faz tempo, assim que comecei a me adentrar no meio do metal, na minha adolescência, sempre curti várias técnicas de vocais, além do lírico, e fazia questão de estudar de maneira autodidata nos primeiros anos, depois comecei a ver vídeo aulas, materiais, dicas da galera e também peguei algumas aulas particulares de canto. Mas sempre senti uma forte necessidade de berrar pra aliviar as revoltas internas, isso me deixa feliz, mais calma e muito mais forte para os desafios da vida.

3) CEP – Já fizeste vocal lírico na banda Cyber Croatoan ao extremo, tanto na Arvak quanto, agora, na Sangria. Fale sobre suas influências no vocal.

Nanda Sousa– Certo. Olha, tenho influências de vários tipos de som, às vezes se torna até um pouco complexo em dizer isso, pois eu curto muita coisa diferente dentro e fora do metal, curto música desde Janis Joplis até uns anos 80, mas bora lá. As minhas principais influências no metal extremo são: Morbid Angel, Deicide, Incantation, Death, Possessed,Mythic, Demonic Christ, Opera IX Venom, Sinister, Bathory, Mayhem, Marduk, Archgoat, Blasphemy, Cannibal Corpse etc.  Além dessas poderia citar muito mais dos demais subgêneros que ouço. Não posso deixar de falar da Valhalla que é uma das bandas mais fodas do centro oeste e representante forte do Death metal nacional, outra também que curto pra caralho é a Cauterization, banda representada pela Maysa, guitarrista/vocal.

Sangria: (da esq.p/dir.) Daniel Dall Agnese (baixo), Nanda (vocal) e Ernani Savaris (guitarra).

4) CEP – Como está sendo a recepção dos fãs da Sangria quanto a ter um vocal feminino pela 1ª vez?

Nanda Sousa– Creio eu que devem estar gostando. E também se não gostarem, foda-se haha. Sempre vejo feedbacks bem positivos, hoje em dia a galera aceita bem mais ter mulheres na formação de bandas, mesmo apesar do machismo que permanece encrustado na nossa sociedade.

5) CEP – O mais recente trabalho da Sangria, um som que inclusive foi lançado lyric vídeo, intitulado, “The Ripper”, já dá pra ter uma grata ideia de como o EP vai ser: pesado, destrutivo e muito bem produzido. Como está o processo de gravação? Alguma data para o lançamento?

Nanda Sousa – Exato. Está indo bem o processo, mas como o Luís Tomasini entrou por agora, então pode ocorrer uma pequena demora pra podermos continuar, pois ele vai pegar algumas músicas, incrementar mais algumas coisas, que inclusive, já estão praticamente encaminhadas e vamos produzir mais um pouco do que o esperado. Estamos decidindo se será um EP ou um CD completo, nós próximos meses pode rolar de sair, isso dependerá da disponibilidade de cada um e também da pandemia com esses isolamentos sociais que parecem não terminar nunca!

6) CEP – Como é a tua preparação para gravar? Utiliza-se de algum efeito no vocal?

Nanda Sousa – A minha preparação vocal é cuidar da voz, é ter um bom condicionamento físico e respiratório. Também faço exercícios para a voz, potência vocal,  treino bastante o diafragma e voz de cabeça, faço várias caretas no espelho, treino as posturas de como cantar e se portar no palco, até os bate cabeça eu treino hahahahah. Sempre que posso vejo outras técnicas vocais e continuo aprimorando nas técnicas que já possuo, tanto no growl ou rasgado, seja qualquer uma.

Luís Tomasini (guitarra)

7) CEP – As letras da Sangria exploram temáticas sobre a morte, violência e principalmente é contra qualquer religião. O que serve de inspiração?

Nanda Sousa – Eu me inspiro muito com as coisas reais que acontecem o tempo todo no mundo. E me inspiro em exemplos de seres humanos escrotos e doentes que são execráveis, aí logo me vem uma ideia de letra na cabeça, com base no que eu vi, li ou assisti, sobre determinado assunto. Ainda mais se envolve violência gosto de descrever como é a face do ser humano e suas fraquezas, me sinto à vontade em dizer isso de forma bem explícita nas letras. Se for de religião melhor ainda hahaha

Gian Rossi (bateria)

8) CEP – Há diferença entre a cena metal feminina em Goiás e no Rio Grande do Sul? Como tu analisa isso?

Nanda Sousa– Com certeza tem diferença sim. Eu não sei dizer muito bem, porque conheci poucas pessoas daqui, mas em todo lugar tem sempre uma diferença cultural e o modo de como as pessoas agem, de lugar para lugar. Enfim, Conheço a banda da Deisi, Soul Torment e Losna, Débora. A única coisa que posso dizer que são mulheres que representam bem o metal do Sul, espero ter mais contato com mais bandas femininas daqui. Por se tratar de cena feminina as dificuldades podem ser as mesmas que todas nós enfrentamos, pois a única diferença mesmo é só a questão cultural regional.

9) CEP – Acha que ainda há preconceito contra a mulher na cena metal underground por “machistinhas” otários de plantão? Já foi alvo de alguma babaquice?

Nanda Sousa– Ah, com certeza tem sim. Algo que infelizmente tem… Sim, já fui alvo várias vezes, inclusive de acharem que eu não poderia cantar do jeito que canto, ofensas bem ridículas, cada uma pior que a outra.

10) CEP – Como foi essa mudança de Goiânia para Bento Gonçalves? Muita diferença cultural?

Nanda (vocais)

Nanda Sousa– Bastante diferença cultural sim. Hoje já consigo entender melhor umas expressões italianas daqui e entender o jeito ranzinza das pessoas kkkkk.

11) CEP – Dá uma dica para as gurias que desejam enveredar a fazer um vocal gutural.

Nanda Sousa – A minha dica é a mesma que falei anteriormente: é ter uma boa preparação e condicionamento físico e no trato respiratório. Não basta fazer por fazer na louca,hein!  Tirar pelo menos uns 15 minutos do seu dia para treinar a respiração, exercícios de voz, tudo no passo a passo. Tem que botar energia, pegar toda a sua raiva e revolta que está dentro e jogar pra fora! Transmute essa energia, tem que ter muito amor pelo que vai fazer. Estudar, ler sobre, ver vídeo aulas, prestar bem atenção no qual timbre de voz tem e começar a trabalhar nisso aos poucos. Confesso que no começo é tenso, dá vontade de desistir, chorar de raiva kkkkkk, dá vontade nem de mexer com isso, só que se pensar nisso você não consegue se esforçar. Quantas vezes eu pegava uma música mais fácil e começava a cantar com a voz em cima da original, váaaaariaaaasssss vezes, viu! Outro segredo é pegar músicas fáceis começar a cantar, mesmo que você erre, vai treinando todos os dias, até se aperfeiçoar, pode ser na mesma música. Depois que tiver segura vai pegando umas mais complexas, e aí é sucesso hahahaha. Gravava pequenos vídeos de mim mesma cantando e áudios pra analisar se estava indo bem ou o que eu poderia mudar. Então essa é a dica de ouro pra vocês: paciência e determinação.

12) CEP – Gostaria de parabenizá-la pelo excelente trabalho de vocais que vem desempenhando na Sangria e pela sua postura contundente e determinada na cena. Deixe um recado para os leitores do Cultura em Peso.

Nanda Sousa – Muito obrigada pela oportunidade vinda de vocês! Eu agradeço pelo espaço cedido. Deixo um forte abraço para todas (os) que lerem esta matéria. E estamos bastante ansiosos para lançar o material pra vocês curtirem. Valeu demais!!!! Muito metal pra nós \,,/

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