Credit photo: @andre.suegart – @culturaempeso

A quarta-feira, 2 de outubro, foi um dia atípico para participar de um evento musical, pois era um dia de semana e as pessoas tinham que acordar cedo no dia seguinte para cumprir suas obrigações de trabalho. Nada prometia a festa que viria a seguir, desafiando todas as previsões desanimadoras, algumas pessoas que estavam perambulando pelo local e não tinham ingressos não ajudaram exatamente no entusiasmo. O Napalm Death retornou à Argentina para se reunir novamente com seus fãs locais em uma celebração única que, sem dúvida, permanecerá na memória de todas as pessoas que foram ao show.

As portas do Groove, localizado no bairro de Palermo, em Buenos Aires, na Avenida Santa Fé, 4389, abriram-se às 19h para se preparar para o evento organizado pela produtora Noiseground, que incluiu três bandas convidadas que acompanhariam a banda inglesa nessa aventura.

A primeira banda a tocar poucos minutos após a abertura do local foi a Eskröta, do Brasil, uma banda de Power Trio Thrash Metal com um discurso feminista e antifascista, composta por duas garotas (Yasmin na guitarra e nos vocais, e Tamy no baixo e nos vocais de apoio, (este redator conversou com a banda) e um homem (Jhon na bateria).

Nunca é fácil ser a primeira banda em uma programação para quatro, ainda mais sendo uma banda estrangeira. Mas a banda brasileira conquistou a admiração do público, que, em sua maioria, ouvia o Eskröta pela primeira vez, pois era sua primeira visita ao país. As meninas mostraram garra, coragem, simpatia e um som arrasador que impactou em cheio as pessoas que acompanharam as músicas tocadas por esse power trio. Nas redes sociais, pode-se ver que essa banda formada por duas meninas e um homem já tem exposição internacional, sendo levada em conta por bandas de renome internacional. Sem dúvida, o público argentino está aguardando a próxima visita do Eskröta. É a recompensa por seu trabalho árduo, perseverança e coragem de cruzar fronteiras para mostrar seu projeto musical tocando como visitantes.

Credit photo: @andre.suegart – @culturaempeso

A próxima é a Miserere, uma banda argentina de Hardcore Punk Metal que lançou recentemente um álbum chamado “Quiebra todo”. A banda, cuja vocalista é Renata Modarelli, apresentou um repertório explosivo, cheio de energia e raiva. Seu som vigoroso chamou a atenção do público e, entre os mais ousados, surgiram os primeiros sinais de pogo que, mais tarde, seriam uma constante no resto da noite.

Essa banda já tem planos de expansão internacional e disse a este colunista que está pensando em lançar álbuns físicos. Ser uma das bandas convidadas para abrir para uma banda internacional como o Napalm Death não é pouca coisa; é um grande mérito para uma banda que mal tem um EP lançado em 2022 e um álbum lançado este ano.

Praticamente como uma banda que está dando seus primeiros passos, pelo menos em termos de material de álbum, eles já têm planos ambiciosos em nível internacional a curto prazo. Isso só pode ser justificado com um trabalho muito bom, e Miserere está no caminho certo, pois o show ao vivo prova isso.

E um detalhe a ser destacado é a habilidade da cantora quando teve que lidar com a interrupção do sinal de seu microfone enquanto a banda tocava uma de suas músicas, resultando em um corte abrupto da emissão de som. Com grande profissionalismo, Renata conseguiu superar o problema, pegando o microfone destinado ao baixista Axel Keller, que estava encarregado dos backing vocals, para terminar o resto da música e depois usar seu próprio microfone novamente quando o problema foi resolvido.

Miserere tem um grande futuro e o público o apoiou.

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A segunda aposta nacional e última banda antes dos anfitriões da noite foi Blodig, uma banda de Death Metal que, com muita energia e grande desempenho técnico em nível musical, foi uma das apresentações mais admiradas da noite. No Spotify, você pode conferir os EPs lançados desde 2023 para conhecer e apoiar a banda, que também pode se considerar sortuda por ter sido convidada para abrir para uma banda internacional como o Napalm Death e, ainda por cima, ser a última antes de a banda inglesa começar com sua primeira música.

Apesar de o projeto musical ser relativamente novo, os músicos já são veteranos no cenário musical e já tocaram com outras bandas, o que é revelado pelo alto nível de musicalidade que exibiram ao vivo. No momento em que estavam tocando, o público presente já estava aquecido e apoiando a banda, já que eles diminuíram a ansiedade para ver o Napalm Death.

Bandas como a Blodig provam que o cenário do rock e do metal não está morto; basta olhar para as bandas e cultivá-las.

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Finalmente chegou a vez da banda que todos estavam esperando, o Napalm Death, considerado o pioneiro do Grindcore e originário da Inglaterra. Uma particularidade que se destaca na banda britânica é que nenhum dos músicos originais que deram origem ao projeto em 1981 está presente, embora desde 1992 a maior parte da formação atual tenha se mantido relativamente constante, exceto pela saída de alguns músicos ao longo do caminho.

A banda iniciou o show com “From Enslavement to Obliteration”, dando rédea solta ao pogo desenfreado dos fãs argentinos, que estavam enlouquecidos com a energia exibida por esses veteranos da cena metal. Sem dar trégua, o Napalm Death continua a oferecer muita potência com músicas como “Test the Poison” e “Next on the List”.

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O cantor Mark “Barney” Greenway desenvolveu uma comunicação cordial e empática com os fãs argentinos, tentando entendê-los e fazendo o possível para falar em espanhol na maior parte do tempo. Seu carisma permitiu que ele falasse e aumentasse a conscientização sobre a estupidez de incentivar o ódio e a guerra, dando a entender que isso não leva a nada além de matar uns aos outros e que os únicos que ganham nesse jogo macabro são a classe política e as corporações. Esse discurso deu lugar à música “Continuing War on Stupidity” (Continuando a guerra contra a estupidez). O Napalm Death não precisa fazer guerra com armas, mas com expressão musical, porque são guerreiros da vida.

Eles continuaram com músicas mais poderosas para o deleite dos fãs argentinos que estavam curtindo a festa. O Napalm Death não é um show para quem está fora de forma e quer se envolver em rituais fisicamente exigentes, como pogo e outras habilidades quase acrobáticas, como nadar em uma onda gigantesca de pessoas. O cantor Mark Greenway se desculpou em mais de uma ocasião por motivos de segurança com o público da casa, que o incentivou a pular do palco para a multidão de pessoas que o recebia literalmente de braços abertos (nunca antes a expressão foi tão bem usada por sua conotação literal) para segurá-lo.

O que estava acontecendo é que a área do fosso onde o pessoal de segurança estava presente e alguns fotógrafos estavam passando era muito ampla e a área das grades que continham o público era muito distante do palco, que também tinha uma altura maior. Mas esse inconveniente não impediu que o show fosse uma festa.

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Um show do Napalm Death não dá trégua e a ausência de baladas, devido ao seu estilo musical e repertório, não impede o ritmo dos presentes no evento. A banda, além do já citado vocalista, é formada pelo histórico baixista Shane Embury, o guitarrista John Cooke e o baterista Danny Herrera. Juntos, eles trouxeram uma abordagem poderosa de Grindcore, que é a vantagem de serem os pioneiros.

Mark Greenway, que não parava de correr de um lado para o outro enquanto fazia headbanging e fazia sua poderosa performance vocal, contagiou o público. O fotógrafo responsável pelo evento para o Cultura em Peso e este repórter não puderam deixar de se surpreender com a energia emitida pelo público com o pogo, onde até as mulheres participaram e conseguiram empurrar os homens mais altos e corpulentos. Isso foi praticamente uma constante durante todo o show da banda britânica, mas quando entrou a música “Scum”, do primeiro álbum da banda, praticamente toda a plateia explodiu com a alta intensidade que o pogo do público havia aumentado muito.

O set list se desenvolveu ao longo da noite e Mark Greenway conversava com o público de vez em quando, transmitindo mensagens contra a intolerância manifestada em expressões como homofobia, xenofobia e outras expressões negativas para iniciar as músicas que reforçariam sua mensagem. O momento mais divertido da noite foi a apresentação de “You Suffer”, que, de acordo com o Guinness Book of Records, tem uma característica: é a música mais curta da história, com apenas um segundo.

Depois de músicas como “Metaphorically Screw You” e “Dead”, o vocalista do Napalm Death fez um discurso antifascista antes de abrir com os primeiros acordes de “Nazi Punks Fuck Off”, um cover do Dead Kennedys, apesar de já fazer parte do repertório da banda. Com “Instinct of Survival” e “Contemptuous”, a banda encerrou a noite com pura energia.

Foi um evento inesquecível para os fãs e para os representantes da Cultura em Peso na Argentina, que puderam assistir ao show graças à produtora Noiseground. Todos os presentes ficaram mais do que satisfeitos com o evento, tanto para o Napalm Death quanto para as bandas convidadas. E para completar, o guitarrista John Cooke jogou várias palhetas de guitarra para o público. O redator deste artigo para o Cultura em Peso ficou com uma das palhetas de guitarra.

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