O URB Stage, em Porto Alegre, foi o cenário de uma noite memorável para o metal nacional, recebendo a turnê de 20 anos do emblemático Temple of Shadows, um dos trabalhos mais inovadores e reverenciados do Angra. A apresentação, carregada de simbolismo, marcou uma das últimas oportunidades de vivenciar a força do grupo antes de uma pausa anunciada, deixando no ar um misto de celebração e despedida para os fãs.
Lançado em 2004, Temple of Shadows não apenas consolidou o Angra como uma força global no heavy metal, mas também evidenciou sua habilidade única de combinar metal, música clássica e elementos da cultura brasileira. Repleto de passagens enérgicas de power metal europeu e momentos introspectivos progressivos, o álbum é considerado o ápice criativo de uma fase ousada da banda, que soube se reinventar após o sucesso de Rebirth.
A noite começou com um breve atraso devido a contratempos técnicos, o que gerou certa ansiedade na plateia.
Quem abriu os trabalhos foi a Mortticia, banda que já carrega mais de uma década de trajetória e apresentou um repertório sólido de heavy metal tradicional com toques melódicos. Músicas do EP A Light in the Black e novos lançamentos mostraram uma evolução para estilos mais progressivos e rápidos. Apesar de enfrentar dificuldades com a equalização do som, a banda demonstrou carisma e competência, ganhando a simpatia e o respeito do público presente.
Quando o Angra subiu ao palco, o ambiente mudou completamente. O show começou com “Faithless Sanctuary”, do álbum mais recente, Cycles of Pain, uma escolha que demonstrou a capacidade da banda de equilibrar sua história com olhares para o futuro. Em seguida, “Acid Rain” e “Tide of Changes” prepararam o terreno para o grande momento da noite: a execução completa do clássico Temple of Shadows.
O álbum foi tocado na íntegra, respeitando a ordem original. Mais do que reproduzir o disco nota por nota, o Angra incorporou nuances de sua atual identidade, revelando maturidade artística e um profundo respeito ao próprio legado. Fabio Lione, com uma presença de palco magnética e vocais impecáveis, cativou a audiência, enquanto cada músico demonstrava maestria técnica e conexão emocional com o repertório.
Entre os momentos mais impactantes, “Winds of Destination” explodiu em energia, Rafael Bittencourt brilhou em “Vida Seca”, assumindo os vocais e revivendo a colaboração original com Lenine de forma singular.
No bis, o público foi brindado com “Rebirth” e as sempre aguardadas “Carry On” e “Nova Era”, agora como medley, que incendiaram a plateia em uma catarse de nostalgia e entusiasmo. O show se encerrou de maneira grandiosa com “Gate XIII”, uma peça orquestral que sintetiza a essência de Temple of Shadows e encerrou a noite com requinte.
O espetáculo do Angra em Porto Alegre reafirmou por que a banda é uma das maiores potências do metal brasileiro. Mais do que um show, foi uma viagem emocional e musical que resgatou memórias e reafirmou a relevância do Temple of Shadows. Essa turnê comemorativa reforça o legado do Angra, cuja influência permanece forte entre gerações. Agora, resta aos fãs esperar pelo futuro da banda e torcer para que esse hiato seja breve.