No terceiro e último capítulo da edição de 2024 do Vagos Metal Fest tiram-se as últimas conclusões de que realmente este festival está de volta à ribalta. E foi neste dia também que foram anunciadas as primeiras confirmações da edição de 2025. E se ainda haviam dúvidas sobre o valor do festival… Após às 19h45 deixaram de haver!
Mayhem, Moonspell, Decapitated e Bizarra Locomotiva são as primeiras confirmações da próxima edição do Vagos e a organização avançou que ainda há muito por vir. Anunciaram ainda que o objetivo é ser o melhor cartaz que o Vagos alguma vez já teve e que vão fazer os possíveis para atingir esse objetivo. Opinião pessoal: já estão num muito bom caminho!!!
BLACK HILL COVE
Sobre o dia 3 desta edição, tudo começa com os lisboetas Black Hill Cove que, apesar de ser de ter tido ligeiramente menos afluência do que o habitual, talvez por motivos de cansaço dos metaleiros lá presentes, deram uma lição de como fazer uma mistura perfeita de hardcore, groove e thrash moderno e como fazê-lo com uma atitude tanto de rebeldia como de seriedade. Mereciam mais público, mas nem assim a banda fez uma performance menos entusiasta ou motivada e o público presente estava a adorar.
ANZV
Depois dos 15 minutos de intervalo o recinto já se compôs consideravelmente! Isto porque os ANZV já têm claramente uma base notável de fãs, independentemente dos poucos anos de carreira enquanto banda. Estava curiosa sobre como a banda se sairía num palco grande, num espaço aberto e principalmente com luz do dia.
Numa atuação que começou com alguns problemas de som, visto que uma das guitarras não se ouvia na perfeição, mas rapidamente o som ficou perfeito! Ao início foi estranho não atuarem num ambiente escuro e cheio de incenso no ar, mas os portuenses têm uma capacidade enorme de nos transportarem para um universo diferente através das suas poderosas músicas e ritualística performance. É de louvar o facto de terem só precisado de 30 minutos para nos levaram às áreas que são banhadas pelo sistema fluvial tigre-eufrates.
HO-CHI-MINH
E “voamos” da Mesopotâmia para o Vietnam. Mais concretamente para a sua capital, Ho-chi-minh. Mas estes Ho-chi-minh são bem portugueses, provenientes de Beja, mas com uma velocidade e atitude que não parece nada característica de alentejanos… Piadas à parte, o Nu-metal tresloucado destes rapazes é bastante diferente do que se faz por terras lusitanas. E ainda deram uma lição de que o horário não é desculpa para um concerto ser bom ou mau. Nós, público é que podemos fazer a diferença. Sem nada a acrescentar, considero bem dito.
TERROR EMPIRE
O palco continua numa onda de bandas portuguesas mas agora da zona centro deste lindo país e com mais uma banda de thrash metal cheia de atitude, velocidade e peso. Como já é habitual nas suas performances, o público vibrou do início ao fim com constantes circle pits e crowdsurfings, fazendo a poeira do chão levantar. A sua rede de fãs é claramente fiel pois os refrões eram cantadas em uníssono.
Para além da performance em si, é de realçar o sentido de bondade e humanidade que apresentaram, o que pode parecer estranho sendo o nome da banda Terror Empire. Mas esta banda demonstrou apoio ao inconfundível segurança Nuno Damas que tinha sido despedido no dia anterior. O segurança Damas é uma cara conhecida da malta do metal. Os Terror Empire sabem disso e prestaram o seu apoio em palco, e falhas à parte, (considerando que realmente existiram falhas) a humanidade merece segundas oportunidades.
Mais uma vez o mundo do metal a dar uma lição de humanidade. Obrigado Terror Empire.
RAXAR
Em seguida o Raxar pisam o palco do Vagos com o seu power metal sinfônico proveniente da Catalunha muito à imagem do que fazem os Epica, mas com uma imagem bem própria e até um pouco avant-gard. Não criam nada de muito novo mas fazem-no muito bem. Pena não ter sido a atuação com melhor som. Mas nunca se deixaram ir abaixo e demonstraram que foi uma vitória estar naquele palco.
De realçar a maravilhosa presença em palco que apresentam, com muito boa disposição, muita interação com o público que claramente estava a vibrar com os seus temas, e ainda uma imagem fantástica!
GROG
E de volta a uma banda portuguesa, os Grog dão uma demonstração de como fazer bom grindcore, a única desse estilo nesta edição do festival. E o que dizer deles? Grog foram grind puro, aquele pesadão, rápido, com abrandamentos cheio de groove e bem nasty e a deixar o público a destruir o recinto num constante circle pit. Não são precisas mais palavras, mas dizer que arrasaram completamente.
GWYDION
Outra atuação deslumbrante foi a dos Gwydion. Não há outra banda portuguesa que misture tão bem o peso com a festividade e fazem-no sem pudor mas com seriedade. As melodias folk, a guitarras viking e o ritmos rápidos são a simbiose perfeita para se cantar, saltar e rebentar com um recinto que até já estava bem destruído.
Boa disposição e muita poeira são a melhor definição do que foi o concerto dos Gwydion. Infelizmente o tempo não foi bem gerido e tiveram de saltar a última música do seu setlist… Mas em resumo, é impossível cansar de ver esta banda ao vivo. São um enorme orgulho português.
SUFFOCATION
E quando parecia que não dava para ser mais energéticos do que já se estava a ser, aparecem uns tal de Suffocation que fizeram uma hora parecer 15 minutos com uma violenta agressão de death metal técnico que foi como se de uma catástrofe antropocêntrica se trata-se. Isto porque o ser humano é que está no centro deste cataclismo, mais uma vez, mas no bom sentido. Os riffs, os breakdowns e toda a selvajaria técnica dos Suffocation galvanizaram o público para o que foi um verdadeiro tsunami humano. Crowdsurfing infindável e circule pit centrífugo. Suffocation são realmente um dos nomes maiores do death metal técnico.
PRIMORDIAL
Depois de galvanizados pelo peso, agora eram tempos de ser galvanizados pela emoção das histórias mais ou menos gloriosas dos Irlandeses Primordial. Verdadeiros discursos emotivos de quem conta a história na primeira pessoa ou quem a sente como tal. Alan Nemtheanga é para além de um verdadeiro frontman, sempre a puxar pelo público, é um dos melhores intérpretes do estilo: cada palavra é sentida e expressada de forma sublime.
É sentida a honra que é para ele cantar temas como How it Ends, The Coffin Ships ou Empire Falls. Para quem é facilmente emocionável (que é o meu caso), torna-se quase impossível não largar uma lágrima, honestamente.
E se há impérios que caem, parece que o dos primordial está tão enraizado que nunca cairá, nem o tempo o fará tremer. Foi uma das melhores performances do Vagos Metal Fest 2024 (opinião muito pessoal) e merecia uma duração mais longa. Estou ansiosa por ver estes senhores novamente.
BLIND GUARDIAN
E são horas do cabeça de cartaz do último dia do Vagos, os germânicos lendários Blind Guardian. Uma das bandas com mais influências no espectro do metal. Banda com 37 anos de carreira, com vários álbuns que são marcos do power metal e músicas que são adoradas até por quem não é tão apreciador do que é o power metal fantasista com vertente folk de influências Tolkienianas. Com essa experiência toda vem uma vasta gama de armas para fazer o público vibrar do início ao fim do concerto. Viajaram pelas várias fazes da sua carreira e pelas várias facetas do seu estilo musical.
E o que é impressionante é que os fãs de Blind Guardian são dos mais fiéis e efusivos alguma vez vistos. Não havia música que são cantavam os líricos de início ao fim como se de um hino se tratasse. Melhor exemplo disso é a The Bard’s song – In the Forest. É impossível não sentir a letra desta música entoada por milhares de vozes numa noite que por si só, já tá mágica. Diria que se Hansi Kürsch cantou 2 versos nesta música, foi muito, pois de facto não era preciso, o público cantava por ele mesmo!
E 17 anos depois, finalmente regressaram aos palcos portugueses e prometeram que a próxima visita não ia demorar assim tanto. O público português realmente não merece esta espera toda!
QUINTETO EXPLOSIVO
E para fechar em grande, os Quinteto Explosivo que deu um toque non-sense e bem humorado ao que seria a cerimônia final do Vagos Metal Fest. Eles que se encontram numa turnê denominada “C*na da vossa mãe Tour“. É um bom presságio para o que se iria ouvir numa atuação que realmente seria explosiva, cáustica e ridícula. Que contou com covers de kalashnikov, grind, stand-up comedy e até pimba. Pode soar estranho mas não é, é maravilhosamente ridículo mas uma perfeita demonstração do que é o humor tuga. Criticando tudo e todos, até a nós próprios. Numa fase nostálgica da noite por se tratar do final de todo o festival, não havia melhor banda para animar a malta.
E chegou ao fim mais uma edição do Vagos Metal Fest. Os metaleiros regressaram a casa exaustos mas felizes e orgulhosos do que se passou ali (e provavelmente carregadinhos de borbulhas mas se assim não fosse nem tinha piada). Digo até que uma grande quantidade de festivaleiros regressou a casa já com o passe geral do próximo ano que com certeza terá tudo para ser tão bom ou até melhor!
Parabéns e obrigada Illegal Productions. Pelo cartaz, pela forma como lidaram com pequenos contratempos, pelas fantásticas condições proporcionadas tanto no recinto como no campismo e até fora dele, pois existiam atividades turísticas gratuitas disponíveis, e por toda a diversão que nos proporcionaram.
Ficam as memórias… e até para o ano Vagos!
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