Em Abril, bandas Mil! Mais uma vez, Rocha Produções felicitou-nos com uma grande festa em Tondela, na sétima edição do Tondela Rocks.

Numa aldeia tipicamente portuguesa localizada em Tondela, numa pequena associação (Associação de Cultura e Recreio Ermidense), encontramo-nos para celebrar o que um verdadeiro festival familiar do nosso mundo do metal deve ser. Camaradagem, convívio, boa comida, boa bebida e claro, Metal!!! Nesta sétima edição apresentou-se com um cartaz bastante abrangente e eclético, com qualidade e potencial, com nomes a aparecer e também com já velhos nomes conhecidos mesmo para agradar a todos.

Para abrir a “pista”, os nossos Zero Creation, que estavam praticamente a “jogar em casa”. A banda é de Oliveira de Frades, com o seu death/groove metal, um pouco ao estilo de Sepultura. Apesar de se apresentarem com uma sala ainda meio vazia, os Zero Creation, foram os primeiros a fazer o público vibrar.

Zero Creation no Tondela Rocks, por Cátia Sousa

Em seguida, a primeira banda estrangeira, agora emprestada às terras lusas, os The Red Crow. Banda brasileira que nos trouxe o seu Stoner Rock/Metal de carisma Americano, influências de Kyuss, QOTSA e até Clutch.

A sua música é marcada pela simplicidade de processos, com que dão destaque ao riff, tal como uma boa banda de Stoner deve ser, e um vocalista que com o seu timbre dá ainda mais personalidade às musicas e à performance. Foi a primeira surpresa da noite.

The Red Crow no Tondela Rocks, por Cátia Sousa

Voltamos a bandas tugas com o Glam dos Tones of Rock, que são a versão Portuguesa de bandas como Motley Crue, Poison e Ratt. Não falta nada a esta banda de Mafra: têm personalidade de palco, têm estilo, têm talento e acima de tudo, boas músicas que ficam facilmente no ouvido e fazem o público cantar e dançar. E isto é o que se pede ao Rock, meus senhores.

Tones of Rock no Tondela Rocks, por Cátia Sousa

Neste intervalo talvez tenha existido a mudança mais brusca em termos de estilo, quando se passa de um Glam rock, que tal como a definição indica, é glamoroso,  para um Death metal porcalhão e brutal dos Derrame.

Para quem gosta de death metal sem pé no travão, sempre no registo gutural e sem perdoar nada nem ninguém, os Derrame são a banda indicada. O público sentiu isso e já deu para se formar o típico mosh. Os lisboetas souberam corresponder e os ânimos não arrefeceram, era impossível com a quantidade de malhas que os Derrame reproduziam no palco do Tondela Rocks.

Derrame no Tondela Rocks, por Cátia Sousa

Já era necessário um intervalo, pelo que foi a atuação dos Derrame, mas ainda nada fazia prever o que viria a seguir.

Os “nossos irmãos” Absalem, vieram de Espanha, mais concretamente de Salamanca, para nos apresentar uma das atuações mais energéticas da noite, alimentada para carismática vocalista Gina Barbería. Esta variava entre potentes growls para linhas lindas e harmoniosas como poucos fazem.

O seu metal progressivo extremo, apesar de não ser muito inovador, é feito com qualidade, e mesmo se notando algumas das suas influências, não se deixam cair na tentação de repetir um fórmula descaradamente. Foi a segunda surpresa da noite e isso sentiu-se bastante no público.

Absalem no Tondela Rocks, por Cátia Sousa

E fez-se tempo de os veteranos entrarem em palco, os Xeque-Mate, com o seu Heavy Metal clássico, no real sentido da palavra. De uma banda com 45 anos de carreira o que se pode esperar? Experiência, qualidade técnica e à-vontade com o público, mas estes portuenses ainda mostram uma juvenilidade incrível. Uma setlist explosiva e interpretada com uma atitude provocadora e com mensagens contemporâneas. Músicas como “Filhos do Metal” e “Escrava da Noite” não podiam faltar e foram cantadas em uníssono e acima de tudo foram sentidas pelo público e pela banda, o que significa que mesmo com 45 anos de carreira, ainda usufruem da presença em palco. Quem corre por gosto não cansa!

Xeque-Mate no Tondela Rocks, por Cátia Sousa

Mais do que uma performance, a atuação dos Xeque-Mate foi (e sempre é) uma lição de como ser metaleiro e amante de música no modo geral.

Já com o leque de bandas do festival a chegar ao fim, e mais uma vez originários do Brasil (mas neste caso ainda se encontram a residir lá), chegou a vez dos Meggera pisarem o palco. A banda de Belo Horizonte, não se apresentou no seu melhor: houve um “pequeno” atraso na sua atuação, que ao que se entendeu, por motivos técnicos, obrigou a banda a reduzir bastante no tempo de atuação. Tocaram apenas 4 músicas, algo que deixou um pouco a desejar, até porque em termos de imagens os brasileiros causaram bastante impacto com as suas vestimentas e máscaras totalmente negras, numa simbiose entre bobo da corte e Slipknot, algo que assentou bem até porque se moviam entre estilos dos mesmos Slipknot, System Of a Down e até um pouco Avatar.

Não tendo criado nada inovador, faziam-no bem feito e com enorme potencial para evoluir muito, até porque são uma banda com relativamente poucos anos (apenas 10). Foi pena, porque se sentiu que quatro músicas, agarraram o público pelo colarinho e se tudo corresse como era previsível, era mais uma atuação de deixar o público louco.

Meggera no Tondela Rocks, por Cátia Sousa

Com certeza não será a última vez que vamos poder assistir a estes rapazes.

De seguida o grupo que já nos começa a habituar com atuações assombrosas: são os portuenses ANZV. Não se pode considerar apenas musical a performance dos ANZV, é uma instalação sensorial onde acontece um despertar geral de todas as células do nosso corpo para o que é uma viagem ao universo da Mesopotâmia. A banda portuense de death/black metal que, após um aparecimento estrondoso em 2021, já dispensa apresentações, reúne elementos cujos caminhos se cruzaram ao longo de vários anos na vertente do black metal e constitui um line up que, quando reunido em placo, cria toda uma atmosfera e ambiente arrepiante com a sua sonoridade totalmente envolvente e obscura.

ANZV no Tondela Rocks, por Cátia Sousa

Com este regresso, podemos contar com mais um ritual de descida às profundezas do submundo do black e death metal. Até o aroma a incenso que pairava no ar daquele pavilhão funcionava como um condutor de energias ritualísticas, porque os ANZV apresentaram isso mesmo, um ritual! Vestes arcaicas, lamparinas ardentes, uma espécie de papiro e o já citado incenso, que ardia num tipo de pote.

Sinto que não existem palavras para descrever a experiência obtida naquela noite, tamanho era o turbilhão de emoções expelidos pelos membros da bandas e suas músicas, que são uma vertente catártica de um black/death metal que não é old school, não é new wave, é diferenciado, é ANZV.

ANZV no Tondela Rocks, por Cátia Sousa

Depois de um desgaste espiritualmente caótico provocado pelos portuenses, era necessário descomprimir, não fisicamente, mas psicologicamente, quem melhor para isso do que os transmontanos Serrabulho?

Cheios de humor, cheios de energia (a uma hora que já começava a faltar) e cheios de grindcore erótico/badalhoco. Foi um concerto que começou pelo fim, com a despedida premeditada do vocalista (Carlos Guerra) logo á primeira música tocada, isto para se entender o tipo de humor non-sense dos Serrabulho.

De resto, houve um bocadinho de tudo sempre com uma toada grind de banda sonora. Houve mosh, circle pit, confetis, “comboinho”, balões cor de rosa, lutas de almofadas, crowd surfing e até o o grandioso Hall of Ass, que é exatamente o que se pensa que é. Basicamente, é um bom concerto para se fazer notar que os metalheads  também têm sentido de humor!

Serrabulho no Tondela Rocks, por Cátia Sousa

Ironias à parte, não havia final melhor para a sétima edição do Tondela Rocks. Se houve um abrir de “pista”, tinha que haver um fechar de “pista” também, que foi feito ao som de techno, pop e música popular portuguesa, tudo para dar continuidade ao espírito dos Serrabulho.

No âmbito geral, foi um festival que surpreendeu de tão bom que foi, pois foi uma “viagem” entre o céu e o inferno devido à abrangência de emoções sentidas naquela noite. Só uma viagem nos dá essa variante de sensações.

Mais uma vez, um agradecimento às bandas, staff e em especial ao Rocha Produções por continuar a proporcionar-nos estes eventos.

Para o ano que haja mais!

 

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