Depois de 12 anos sem participar de um evento de música urbana, e sendo minha primeira vez no Estado do México para um evento desse tipo, o retorno não poderia ter sido mais significativo. O motivo da comemoração foi nada menos que o 40º aniversário do Rincón Brujo, um coletivo de mulheres e homens que dedicaram suas vidas ao rock, não como fonte de renda, mas como modo de vida. No âmbito das festividades do padroeiro de San Pedro Tultepec, este empenhado grupo levou a música diretamente ao povo, num evento que ressoou a autenticidade e a paixão dos seus organizadores.

Detalhes dos participantes do 40º aniversário de Rincón Brujo. Fotografias e edição de Afrika Balboa.                                          

Apesar de alguns contratempos com empreiteiros, o evento começou com três horas de atraso, mas valeu a pena esperar. O dia foi de exibição de ska, punk e rock, onde energia não faltou em nenhum momento. Bandas do calibre de Tex Tex e Mara foram as atrações principais, acompanhadas por talentosas bandas locais que provaram estar à altura da ocasião. O público, fiel ao espírito do evento, entregou-se totalmente à música, celebrando não só os 40 anos de esforço contínuo de Rincón Brujo, mas também a resistência e dedicação de gerações que trabalharam incansavelmente para levar o rock às massas.

A lista de bandas foi variada e surpreendente. Power Rock, banda formada por integrantes da antiga e da nova geração de Rincón Brujo, estreou-se nos palcos, marcando o início de sua carreira musical. Depois veio o Duende, banda local que já havia participado de eventos coletivos, e desta vez deixou claro o porquê de serem recorrentes nessas comemorações.

Uma das maiores surpresas do dia foi Malditos Gorilas, banda de ska de Toluca que impressionou pela qualidade e técnica, fazendo com que o público se soltasse no primeiro moshpit do dia. Mosca Muerta, jovem grupo de punk rock de Nicolás Romero, continuou no palco, com um som cru e letras de oposição que entusiasmaram ainda mais o público.

Malditos Gorilas. Foto e edição por Afrika Balboa.

A noite continuou com uma excelente exibição de rock urbano. Bandas como Oblivion de Jalatlaco, D’Asfalto de Atizapán de Zaragoza e Tristeza Urbana deram uma aula de rock urbano. Tristeza Urbana, em especial, entregou um dos momentos mais emocionantes da noite quando seu vocalista interagiu com o público, gravando vídeos nos celulares de seus fãs no palco. Também se destacaram por convidar todas as mulheres presentes a montarem um moshpit exclusivo para elas, criando um clima de inclusão, já que participaram jovens, mães e mulheres mais velhas.

Tristeza Urbana. Fotografia de Afrika Balboa.

A reta final do evento foi cheia de energia com bandas como Gallito Inglés e Reborn, que prepararam o cenário para as apresentações estelares da noite. Fallas de Origen, com seu poderoso ska underground e letras de protesto, fizeram a multidão vibrar antes de Mara, uma das bandas mais icônicas do rock urbano mexicano, subir ao palco.

Fallas de Origen. Fotografia de Afrika Balboa.

A próxima entrada dispensa apresentações. Com uma jaqueta vermelha com strass, calças de couro, lenços coloridos, lembrando um pouco o estilo fashion de Steven Tyler, veio Mara, uma das bandas de rock urbano mais icônicas do México. Com mais de 50 anos de experiência, Mara tornou-se uma das referências do rock urbano a nível nacional, ao lado da grande personalidade que é Aldo de la O, seu vocalista e showman, que com seu carisma e gentileza conquistou os corações de todas as pessoas que o conhecem.

Mara. Fotografia por Afrika Balboa.

Aldo não poupou elogios a Rincón Brujo, parabenizando-os pelos seus 40 anos, mencionando que Mara acompanhou Rincón Brujo durante 30 desses anos em seus aniversários. O que fala da confiança e camaradagem que se gerou entre o coletivo e as bandas.

Depois foi a vez de uma banda muito sólida, com uma sonoridade que evocava os Misfits: Ley Rota. Segundo o baixista, a banda está na cena punk underground mexicana há mais de 37 anos. Fiéis ao punk de outrora, demonstraram toda a sua força e irreverência. Sem dúvida um dos momentos mais memoráveis ​​da noite foi quando geraram o melhor moshpit do festival.

Vocalista de Ley Rota. Fotografia de Afrika Balboa.

Por fim, e para selar com chave de ouro o evento, os mais esperados foram os já consagrados Tex Tex, que contam com 37 anos de experiência no cenário do rock urbano, e que conquistaram de imediato os olhares dos espectadores. Com um sorriso caloroso e uma gentileza que se refletia em seus rostos, Tex Tex explicou porque são um dos expoentes mais reconhecidos e queridos do rock urbano no México.

Integrante de Tex Tex. Fotografía de Afrika Balboa.

O mais notável deste evento não foi apenas a música, mas as mãos que o tornaram possível. Mãos de pessoas comuns, que trabalharam desde cedo para montar os palcos, vender comida e deixar tudo pronto para que os espectadores pudessem curtir a noite.

No contexto mexicano, eventos como este cumprem uma função vital: unir as diferentes tribos urbanas num espaço onde possam coexistir sem problemas, com o objetivo comum de desfrutar da música e reafirmar a sua identidade cultural. Como aponta Meyer (2014) em “Os gritos do rock urbano no México: cultura juvenil e resistência”, o rock urbano não só surgiu como uma resposta a contextos sociais específicos, mas também se tornou a voz daqueles setores que encontram em suas letras e a estética é uma representação autêntica de suas experiências e resistências.

Este festival foi um lembrete de que, embora o tempo passe, a música continua a ser um espaço de resistência e de comunidade, onde as pessoas se apropriam dos espaços que lhes são negados por razões sociais, culturais e até estéticas. Foi uma celebração da cultura e da comunidade, um lembrete de que o rock vive nos corações daqueles que o amam e que o seu espírito permanece tão rebelde e apaixonado como sempre.

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