No último domingo, 21 de abril, Buenos Aires se vestiu de preto para receber uma das bandas mais emblemáticas do metal mundial. O Sepultura, após 40 anos no cenário musical, decidiu se despedir em uma noite cheia de emoções, poder e lembranças indeléveis.
O Teatro de Flores, ponto de encontro dos amantes do metal na capital argentina, foi o cenário perfeito para esta despedida planejada. Desde as primeiras horas, a fila de seguidores estendeu-se pelas ruas, ansiosos por testemunhar o último ato desta lenda viva.
A tempestade desencadeou: Reinará la Tempestad abriu a noite
Na noite memorável que marcou a despedida do Sepultura e a poderosa atuação do Death Angel, o Teatro de Flores também testemunhou a força e a paixão do metal argentino com a presença de Reinará la Tempestad. Esta banda local, que leva o nome do primeiro álbum de Horcas, é formada por músicos com décadas de carreira e que fizeram parte dos compositores dos dois primeiros álbuns da referida banda (que ainda está ativa).
Claro, seu repertório de 9 músicas thrash old school incluía músicas de ambas as obras germinais. Foi assim que soaram “Violados y Devorados” e “La Fuerza del Mal”, entre outros. Um dos pontos altos do set foi quando Eddie Walker executou seu solo de baixo que serviu de introdução para “Muerto en la Calle”.
Eles deixaram “Solución Suicida” e “Devastación” para o final.
O público argentino, conhecedor da história da banda, respondia constantemente com os punhos erguidos e cantos que ecoavam no Teatro que ia se enchendo aos poucos. Seu legado é uma inspiração para as novas gerações de músicos e metaleiros, lembrando-lhes que o metal não é apenas música, mas um modo de vida e de resistência. Um grande início para uma noite histórica que seria seguida pela actuação dos thrashers americanos Death Angel.
Preludio Frenético: Death Angel e seu retorno triunfante
A banda americana, peça fundamental do lendário início do movimento thrash na Baía de São Francisco, demonstrou porque seu nome é sinônimo de velocidade, agressividade e virtuosismo.
Um show curto ajustado ao destaque de ser o prelúdio da despedida dos históricos brasileiros. Desfilaram músicas de diversos discos, com um público completamente devotado à fúria do thrash que virou um mar de corpos em movimento, em perfeita sincronia com a música.
“Lord of Hate”, “Voracious Soul” e “Seemingly Endless Time” foram o tridente inicial que desencadeou a loucura de todos os metaleiros. “Buried Alive”, “I Came for Blood”, “The Dream Calls for Blood” e “The Moth” foram o platô do show, que continuou com altíssimo nível de energia e com os músicos do Death Angel dando tudo no palco , grato e entusiasmado com a resposta do público argentino.
Quase 14 anos desde a sua última visita ao país e ninguém sabia explicar como tinham deixado passar tanto tempo, enquanto Osegueda pedia desculpas pela longa espera. A banda é muito unida e soa muito bem. Cavestany e Aguilar nas guitarras, Sisson e Carroll no baixo e bateria respectivamente. O já referido Osegueda, a voz deste projecto num nível superlativo de actuação em palco e de nível mundial quando se trata de vozes do género thrash.
“Humanicide”, “The Ultra-Violence/Mistress of Pain” e “Thrown to the Wolves” encerraram uma apresentação onde a bandeira do thrash como estilo de vida foi a bandeira dos músicos e público presente.
Lista completa abaixo:
A temperatura do local subiu e o suor esteve presente junto com sorrisos contagiantes que demonstraram que o vínculo entre a banda e seus seguidores transcendia as barreiras do palco. Ficou claro que a noite seria lembrada não apenas pela despedida do Sepultura, mas também pelo barulho de abertura do Death Angel.
Uma morte planejada: a despedida do Sepultura
O momento do evento principal chegou muito pontualmente, com o local lotado e todos os presentes esperando ansiosamente para fazer parte da história e ouvir pela última vez aquelas músicas lendárias que marcaram época e abriram caminho no metal sul-americano.
Recorde-se que este espectáculo acontece no âmbito da digressão mundial “Celebrating Life Through Death” com a banda a celebrar 40 anos de existência e também a anunciar a sua separação definitiva. Poderosos sentimentos mistos de celebração e despedida.
O cenário foi apresentado com a solenidade de uma despedida. O Sepultura irrompeu no palco pontualmente com uma energia que parecia desafiar o tempo. Os primeiros acordes de “Refuse/Resist” seguidos de “Territory” abalaram os alicerces do Teatro, marcando o início de uma viagem pelos hinos que marcaram uma época. “Kairos” e “Dusted” conseguiram manter a energia em níveis altíssimos com o público argentino em estado de transe.
Ao longo da noite, a banda percorreu seu extenso repertório, desde os primeiros dias de “Morbid Visions” até as composições mais recentes de “Quadra”. Um dos destaques da noite foi quando Death Angel subiu ao palco para acompanhar a performance de “Kaiowas” com bateria.
Você pode ver o setlist completo abaixo:
Brutalidade, potência, precisão e energia transbordante são definições simples que marcam uma banda, mas não são suficientes para medir o que o Sepultura é ao vivo quando tudo isso é aliado à presença dos músicos no palco. A figura imponente do vocalista Green, a paixão transbordante de Kisser por liderar e se apresentar, a solidez de Paulo Jr. nas 4 cordas e a atuação incrível de Nekrutman dos pads que se juntou à banda nesta turnê e em tempo recorde alcançou a excelência em uma posição particularmente pesada devido à complexidade dos ritmos das músicas originais e à história dessa posição na banda.
Com “Troops of Doom”, “Inner Self” e “Arise” chegamos ao fim viajando ao passado com um grito de guerra. Acordes que se tornaram hinos de resistência para toda uma geração. Para os encores veio “Ratamahatta”, uma música única que funde ritmos brasileiros com metal. “Roots Bloody Roots” foi o encerramento perfeito para uma noite inesquecível, com todos os presentes entoando o hino que definiu um antes e um depois na história do metal.
O show de despedida do Sepultura no Teatro de Flores não foi apenas um show, foi um capítulo final na história do metal. Uma noite onde a música virou memória, celebração e gratidão. Gratidão a uma banda que marcou um antes e um depois na cena, que desafiou as normas e que nunca deixou de ser autêntica.
O Sepultura não foi apenas uma banda de metal, foi um fenômeno cultural que transcendeu fronteiras. Emergindo das ruas de Belo Horizonte, Brasil, para o metal sul-americano, o Sepultura foi um farol de inspiração e uma demonstração de que sonhos podem se tornar realidade. Seu sucesso global abriu portas para outras bandas da região, colocando o metal sul-americano no mapa mundial.
Embora esta noite marque o fim de uma era, o legado desta banda viverá para sempre na memória do metal. A sua influência é sentida em cada grupo que ousa desafiar os limites do género, em cada fã que encontra nas suas letras uma voz para as suas próprias lutas.
O Sepultura se despede, mas sua música e seu espírito permanecerão vivos no coração daqueles que encontraram em suas canções um refúgio, uma catarse, um motivo para acreditar no poder transformador do metal.
Queremos parabenizar o evento e agradecer à produção da Icarus e à sua assessora de imprensa Marcela Scorca por nos fornecer tudo o que é necessário para a cobertura desta noite histórica.