Me mudei de Lages há alguns meses, mas é difícil desapegar dessa cidade que cada vez traz mais novidades musicais, acho que me asseguro em dizer que Lages é um celeiro de excelentes músicos e bandas, desta vez vamos falar da Subplano “One Man Band” de Alyson Medeiros.

Já pensou o que aconteceria se misturasse Rubel, Boogarins e Tame Impala em um único disco? Talvez não seja a Subplano, mas algo um pouquinho mais “normal” que ela.

“Retiro” é um disco muito bem construído e amarrado, escutar uma música ou outra desse álbum é um sacrilégio, escute inteiro com um bom fone de ouvido e muito alto.

O disco brinca entre o samba e a psicodelia, se arriscando pelo rock, MPB e o samba, lendo assim parece muito arriscado, mas digo que ele acertou e fechou um excelente trabalho, na minha opinião entre o que eu escutei esse ano, está entre os meus dez melhores discos de 2018.

O disco inicia com “Cada vez mais”, gritos ao acaso de uma pessoa atrás de mais e procurando seu caminho, na seguinte “Passagem” faz jus ao nome é uma música instrumental que começa a revelar a identidade do disco, violão de nylon, bateria eletrônica e modulações dão a cara da música.

“I’m a normal boy” é um ótimo exemplo de como usar a meia lua (não fique sacudindo ela freneticamente, isso dá dor de cabeça), é uma balada de fim de baile pra dançar abraçadinho.

“O medo” e “Lá maior” são sem dúvidas as minhas favoritas, simbolizam o crescimento e perdas na vida adulta.

“Samba de ninguém”, o samba pode ser de ninguém, mas o compositor está esperando alguém (ba dum tss), o violão domina essa faixa de pouco mais de um minuto que precede “Me conheço” uma conversa de fim de relacionamento.

“Do seu lado/Do meu lado” é a faixa mais animada e pop do disco, fala sobre as mudanças da vida conforme crescemos, amadurecemos e mudamos, mudamos, mudamos…

“Conclusão” assim como Passagem ela é o que diz, o fechamento do disco, acho que nem o Tim Maia nas suas maiores piras alienígenas teria pensado nessa faixa, que faz mais uma crescente durante o disco e quando você acha que vem mais, acabou. O disco finaliza deixando na cabeça aquela dúvida de “quando sai o próximo? ”.

O Cultura em Peso (CEP), bateu um papo com Alyson Medeiros, confere ai:

CEP: Alyson, contaê.. Como surgiu a ideia da Subplano? Desde o inicio a ideia é de ser um projeto “você e você mesmo”? Porque gravar tudo em casa? Não era mais fácil achar um estúdio?

Alyson: Surgiu com minha necessidade de criar música do jeito que ela existia na minha cabeça, com minhas influências, controlar todo o processo de criação da música. No começo do projeto eu precisava de ajuda de outros músicos, nas primeiras gravações o Gustavo Duarte, companheiro de Megaluce, tocou bateria e o Leandro Benedetti, o qual gravou as primeiras músicas no estúdio Toca do Cachorro, gravou algumas guitarras. Mas a ideia era que no futuro eu gravasse tudo, como foi acontecer nesse álbum.

Gravei tudo em casa pois era a ideia inicial, que foi esquecida com o tempo. Ela retornou quando eu comecei a gravar o que era pra ser o segundo EP, eu estava no estúdio e cheguei a gravar praticamente o álbum todo, com um baterista convidado, mas quando chegou no final eu não estava me sentindo bem com o resultado, não por estar ruim a gravação, mas sim pela insatisfação com a estética da música. Daí que eu parei, e comecei a focar na ideia inicial, tive que aprender a gravar, mixar, masterizar e me produzir, sem ideias e conselhos de terceiros, mas no final, foi a primeira vez que sai satisfeito com o resultado.

 

CEP: Na minha opinião as músicas do álbum estão muito bem amarradas, elas compõem um disco de verdade (entende o que quero dizer?), elas foram compostas em uma mesma época?

Alyson: A maior parte das músicas foram compostas juntas, em questão de dois meses, porém tem duas que eram mais antigas, ‘Lá Maior’ eu fiz em 2013, para minha antiga banda, mas nunca foi usada e o riff que compõe ‘Passagem’ é de 2009. Acredito que o álbum está entrosado esteticamente por ser pensado como ‘uma coisa só’ desde o início, e eu gravei sempre pensando no resultado que eu queria. Por mais que a música fosse composta de uma maneira totalmente diferente, eu conduzia ela para o clima do álbum.

 

CEP: Quando a gente fala de “como é o seu processo criativo” para muitas pessoas é só mais uma pergunta normal, mas o teu processo criativo é algo fora de sério, como vieram as ideias para o disco?

Alyson: Obrigado pelo fora de sério hahaha

Então, as músicas nascem de diversas formas, as vezes vem tudo meio pronto, as vezes surge somente a melodia e depois faço a letra e as vezes vem até uma letra sem melodia. Como falei antes, eu fiquei bem insatisfeito com o segundo EP que eu estava gravando. Foi quando eu decidi que eu mesmo iria me gravar, porém o maior problema era que eu não entendia nada de bateria, não entendia nem como funcionava a forma rítmica de compor batidas. Eu estava cada vez mais ouvindo músicas com uma pegada eletrônica e ouvi a música ‘Colégio’ do Rubel, foi quando percebi que era bastante interessante a mistura do violão com beats eletrônicos.

Então comecei a estudar como fazer o beats e fazer vários testes com violão de nylon, beats e sintetizadores e quando eu vi eu já tinha umas três ou quatro músicas que saíram dessas primeiras experiências. Então montei o álbum baseado nesse conceito que criei nesse primeiro momento, todo ele foi experiências, inúmeros takes, principalmente de vocais, teve música que eu gravei mais de 100 takes de vocal até chegar no definitivo. O bom de gravar sozinho é que eu não tinha horário para começar e nem para terminar, gravava quando estava afim e o que eu estava afim.

 

CEP: Quais foram tuas influencia para esse disco? Oque você escuta atualmente?

Alyson: Minha maior influência é o Tame Impala, aprendi muito sobre gravar e produzir ouvindo os discos e lendo muito sobre a forma que elas são feitas pelo Kevin Parker. Na época do álbum eu estava ouvindo bastante Homeshake, Mac Demarco, Criolo, Melody Echo Chamber, Unknown Mortal Orquestra, Metronomy, Pond e Rubel. Ultimamente ando ouvindo alguma coisa de Vaporwave, tem um cara que tem um projeto chamado Boy Pablo, que é bem interessante, e os primeiros discos do Daft Punk.

 

CEP: Eu escutei o disco quatro vezes (até agora), na primeira vez foi meio baixo e já pensei “Que disco foda”, da segunda vez em diante eu escutei ele absurdamente alto nos fones e a sensação que eu tive foi de ser um álbum completamente diferente do primeiro que escutei, achei ainda melhor. É essa a tua intenção? Devido milhões de modulações e elementos nas músicas?

Alyson: Na verdade não pensei em nada disso quando fiz o álbum, honestamente fiz o álbum principalmente para mim, de acordo com o meu gosto, não cheguei a pensar em quem ouviria ou como a pessoa iria ouvir. Mas que bom que você teve duas experiências diferentes ouvindo o mesmo álbum.

 

CEP: Finalizando o disco agora, você se sente satisfeito com o resultado?

Alyson: Me sinto bastante satisfeito com o resultado do álbum, teve faixas que eu consegui expressar tudo que eu queria, não mexeria em nada nelas, já outras eu tive dificuldade em alcançar um resultado que me satisfizesse completamente, principalmente nos vocais. Mas é isso aí mesmo, eu fiquei 10 meses fazendo ele, aprendi muito sobre gravação e composição.

 

CEP: Deixe um oi/tchau/salve/saudação para o CEP e seus leitores.

Alyson: Quero agradecer imensamente pelo espaço que o Cultura em Peso me deu para a divulgação do álbum, foi muito legal responder as perguntas e obrigado para quem leu até aqui também! Abraçaço.

 

Escute o álbum “Retiro” clicando aqui!

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