Vivendo em pleno século XXI, jamais imaginaria que questões tão básicas, lógicas e humanas fossem vistas, pensadas e discutidas da maneira que vêm sendo feitas. Refiro-me ao todo: do micro ao macro. Desde a indiferença com o ser humano que esmola uma moedinha no ônibus, ou aquela família que divide a calçada com ratos e baratas e se alimenta de lixo, permanecendo invisível e ignorada pela maioria, até a desumanidade daqueles que detêm o poder econômico e político, que poderiam acabar com a fome de milhões e tirar milhares da miséria extrema.

A evolução da humanidade não se refere apenas a avanços tecnológicos e científicos. Não é apenas o progresso no pensar lógico ou nas metodologias mais funcionais, mas, principalmente, a evolução como espécie animal, com a percepção cada vez maior de liberdade, igualdade e fraternidade. Alguns dizem que herdamos esses conceitos desde o século XVIII, frutos do Iluminismo e do Humanismo, que o Ocidente jura preservar e manter.

Contudo, em pleno século XXI, ainda temos que nos preocupar com questões de séculos passados — na verdade, de milênios. Evoluímos tanto em alguns aspectos que nosso estágio civilizatório é inegável, mas, em outras esferas, nos mantemos incrivelmente semelhantes ao que éramos há milênios. De certa forma, isso ocorre de maneira impressionantemente irracional. Se antes nossos antepassados estavam imersos na névoa da ignorância científica, hoje somos iluminados pelo avanço da tecnologia e pela evolução cognitiva do Homo sapiens. Mesmo assim, conseguimos manter os mesmos dogmas, as mesmas visões limitadas, superstições e problemas sociopolíticos que ainda resultam em guerras e afastam a humanidade do seu ideal.

Imagem gerada com IA.

Os motivos das guerras atuais, dos conflitos regionais aos globais, ainda têm raízes nas mesmas questões de séculos atrás. Fingimos que os superamos, mas, na verdade, estão todos aí, apenas com roupagens e sistemáticas diferentes. O eterno problema egocêntrico do Ocidente, fomentando o fanatismo no Oriente, continua criando e sofisticando extremismos. Esses extremismos, alimentados por ignorância, aceitam interpretações ideológicas e tendenciosas que perpetuam visões teológicas e tradições quase pré-históricas. Com o avanço técnico, essas manipulações se tornam ferramentas para dominação hierárquica de povos e ideias, de forma semelhante ao que ocorria há mais de 7.000 anos.

Ao observar a problemática do século XXI, seja na Europa, no Oriente Médio, na Ásia, na América ou em qualquer outro lugar do mundo, é possível mapear o momento histórico, econômico e ideológico. As trevas da ignorância ainda persistem nas massas, e quem controla a força de trabalho e a geração de riqueza exerce o poder. Quanto menos percepção as pessoas têm do todo, menos se sentem pertencentes, o que facilita a manipulação quase instintiva — muitas vezes vinda também de opressores ignorantes, que servem a chefes muito mais poderosos e em menor número do que a classe dominante atual.

A busca por uma humanidade homogênea parece inalcançável no momento, ao menos da maneira mais humanista possível. Na realidade, as potências globais não têm interesse genuíno nisso. Da Ucrânia à Rússia, da Coreia do Norte à Coreia do Sul, da Venezuela aos EUA, de Israel à Palestina, do ISIS à questão síria, tudo é resultado de processos iniciados há séculos, com raízes profundas que se entrelaçam com o advento do capitalismo e seu inevitável expansionismo. Sob o véu ideológico político-religioso, tudo é transformado, nivelado por baixo, e a globalização dissemina o pior de todas as partes.

A possibilidade de um expansionismo dos EUA, antes predominantemente ideológico, pode evoluir para um estágio físico e territorial. Com a ascensão de Donald Trump a um novo mandato, essa questão pode ultrapassar o Oriente Médio, mas ainda está em curso e gera reações de grande parte do mundo, sendo um tópico à parte.

A evolução humana depende muito mais de nos entendermos como parte da mesma espécie, mas esbarra em interesses de territorialidade, riquezas naturais e matérias-primas, que estão cada vez mais escassas. Apesar de termos evoluído, o verdadeiro progresso continua sendo uma questão em aberto.

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