CULTURA EM PESO (CEP) – Como se deu a ideia de formar a Afronta? Qual mensagem o som de vocês quer passar?

Dejane – Eu (Dejane) soube que Thuany estava no processo de mudança para Fortaleza e quis montar um banda com ela no vocal. Fui ensaiando e fazendo as músicas com Paloma ( até então baterista) e firmamos a afronta quando Thuany chegou aqui. A ideia era formar uma banda de mulheres com som pesado, letras de protesto e usar os shows como ferramenta de conscientização. Quase sempre nos rolês as bandas chegam, tocam e pronto. Não há um diálogo sobre o que falam as letras, não há uma diálogo sobre o que se passa no mundo em geral e tudo acaba sendo muito mecânico. Então Thuany tomou a frente e tenta fazer o rolê de uma forma diferente.

Dejane (esq.) e Thuany.

 CEP – De que maneira o atual governo federal serve de inspiração para a banda fazer letras que afrontam as mentes mais conservadoras e preconceituosas?

Dejane – Esse desgoverno deu voz e tirou do armário uma quantidade absurda de pessoas que compactuam com ideais fascistas, mas que não tinham coragem de mostrar quem realmente são. Essas pessoas assim como seu presidente são uma ameaça real às novas vidas. Não é o momento ( e nem queremos) de ficarmos caladas. É preciso se opor e confrontar tudo isso. Em nossas letras buscamos deixar claro que nós fazemos parte e estamos do lado das minorias, que um governo que elogia torturador não nos representa, que um homem que se preocupa mais com a economia do que com a vida das pessoas é, no mínimo, abominável!

CEP – Vocês são influenciadas pelas bandas do movimento punk feminista Riot Grrrl? Quais seriam as bandas que serviram de influência no som da Afronta diretamente?

Dejane – Sim, claro. Na real foi o Riot Grrl que me mostrou que era possível tocar e ter banda. A inspiração e motivação é maior quando você vê algo que te representa. Por mais que você esteja inserido num meio que tenha uma proposta libertária, sempre rola de um cara ter atitude machista. Quantas bandas ou quantas vezes ficamos sabendo de uma agressão de alguém da cena? Quantas vezes já soubemos de um assédio dentro de um espaço que era pra ser considerado seguro? O Riot grrrl faz um recorte e levanta pautas de lutas que são exclusivas das mulheres. Proporcionou um local de fala para que nós pudéssemos discutir sobre nossos corpos, reivindicou e mostrou nós também produzimos música/arte, debateu sobre a objetificação das mulheres em cima ou fora do palco. Eu acho que o riot grrrl é fundamental para a construção de uma cena equalitária. Sobre influência no som, acredito que a maior referência seja o rastilho. Estamos com essa nova formação e vamos ver como as músicas novas vão sair, mas queria muito que fossem nessa pegada mais neo crust.

CEP-Em 2019 lançaram o Split “Ultriz” com a Eskröta. Como foi essa união e a recepção deste split?

Dejane – A Eskröta já tinha lançado o “eticamente questionável” e tinha planos de lançar um split com outra banda que compactuava com os mesmos ideais feministas e antifa. Com a vinda da banda à Fortaleza acabou que nos aproximamos mais. Então Yasmin me fez a proposta e fechamos o split. Foi muito louco porque até então não tínhamos passado pelo processo de gravação, mixagem, criação de arte e todas essas coisas que envolvem um lançamento. Além da questão financeira também. Foi muito foda ver uma galera daqui se movimentando e nos ajudando para fazer tudo isso acontecer.

CEP – O show da Afronta transborda energia e performances cheias de atitude, principalmente da vocalista Thuany. O que representa estar no “palco”?

Dejane – Se temos a música como uma forma de protesto, eu acredito que os shows são como um ato. Não é ensaiado ou pensado numa forma de impressionar, é apenas expressão, sentimento. Nossas letras falam sobre nossas lutas diárias, então acredito que nesses momentos a gente acaba colocando a raiva pra fora de uma forma natural.

CEP – Como é a cena no Ceará em se tratando de meninas fazendo um som mais pesado e agressivo?

Dejane – Há poucas bandas, mas acho que a aceitação é tranquila. Eu vejo que de uns 5 anos pra cá muita coisa mudou, a galera que organiza shows tá se ligando em incluir bandas com mulheres na formação e isso é muito importante.

CEP – Vocês acham que ainda há muito machismo dentro da cena underground no Brasil? De que forma pode ser aniquilado tamanho absurdo?

Dejane – Ah, existe demais! Ficou bem claro o nível do machismo na cena aqui quando vimos agora a saída das integrantes da Nervosa. Vimos desde o começo quando elas começaram a ser reconhecidas,  de repente todo mundo virou jurado musical. Questionando técnica ou qualquer detalhe possível. Aí quando começaram a tocar fora, esses mesmos caras questionavam os contatos ou os meios de conseguir shows. E agora na separação, onde vi caras dizendo que banda de mulher não dura mesmo não, que sempre vai existir rivalidade. Eu acredito que o machismo assim como outros preconceitos, se combate e se destrói no dia a dia, nas atitudes. Todos nós as vezes reproduzimos atitudes opressoras, é cultural! É preciso sempre repensar e nos conscientizar além de conscientizar x outrx sobre essas questões.

CEP – Já rolou alguma treta em algum show pelo discurso e postura da Afronta de ser contra a qualquer tipo de preconceito? Contem-nos.

Dejane – Não, nunca rolou.

CEP- A Afronta sempre será formada unicamente por mulheres? Qual a maior dificuldade de manter uma banda exclusivamente feminina?

Dejane – Essa era a ideia inicial, mas atualmente estamos com um baterista. Acho que a maior dificuldade é que tem poucas mulheres tocando, pelo menos aqui em Fortaleza.

CEP-Quais são os próximos planos da banda?

Dejane – Consolidar a nova formação, estávamos retomando a rotina de ensaio e aí surgiu todo esse caos por conta do Corona Vírus. Queremos  fazer novos sons e voltar a ativa.

CEP- Deixem-nos os contatos da Afronta e um recado para os leitores do Cultura em Peso. Sucesso!!!

Dejane – Nosso Instagram é @_afronta e temos a página no Facebook. Estamos passando por tempos difíceis e sem previsão de quando isso tudo vai acabar. Pra piorar a situação temos um genocida no poder. Então galera, se cuidem, sejam gentis com o próximo. Tentem ajudar quem precisa… Pensem na galera e nos animais que estão em situação de rua. Pequenas atitudes fazem uma diferença enorme. Quando tudo isso passar, formem bandas, apóiem a cena, destruam o Estado e fogo nos fascistas!

 

Redes Sociais:

https://www.facebook.com/afronta666/

 

Facebook - Comente, participe. Lembre-se você é responsável pelo que diz.