Entrevista feita por Mariana Gouveia.
Com um álbum fresquinho, os Crab Monsters voltaram a mostrar o que valem. Portanto, não podíamos deixar passar uma entrevista para aprofundar este “Shovel Headshot”.
Qual foi o desafio maior no processo deste álbum?
Olá Mariana e pessoal da Cultura em Peso. O maior desafio foi talvez o de alcançar uma sonoridade mais definida ou mais coesa que representasse o nosso som e o nosso percurso desde o início, em 2018. Na verdade nem sei bem se foi um desafio ou só uma expectativa para ver o que ia sair dali. O resto acabou por surgir naturalmente, tipo quanto à composição e depois todo o processo de gravação do disco. Acho que conseguimos melhorar ou acrescentar, fazer ligeiramente diferente talvez e, felizmente, ficámos com essa ideia muito graças ao excelente trabalho do nosso amigo Carlos Rocha (Devil in Me) e ao seu Eyeball Studios no Algarve. Tirando isso, foi talvez saber que tínhamos só dois dias para gravar o álbum e apenas um ensaio a sério. Mas sabíamos que íamos dar conta do recado.
Quais foram as maiores influências para este álbum, se houve alguma?
Normalmente a mensagem que passa através da música e das letras percorre vários temas, sobretudo que contêm desconfortos, tensão, situações ao limite. Mas não é algo objetivo ou óbvio. Não tomamos as rédeas ao pormenor, também deixamos fluir a coisa. Nunca é fácil descrever com exatidão quais são as maiores influências da banda em determinados momentos, como é no caso deste novo álbum. É algo que também não discutimos muito, mas que está presente indiscutivelmente, porque somos 4 músicos com influências comuns e distintas. Se quiseres influências concretas, podemos supor que os ZEKE e os Mata Ratos andam nas nossas playlists, misturados com uma espécie de distorção à Sepultura ou uma pequena nuance de Mothorhead, depois notas uma pitada de Napalm Death muito escondida, um riff à Ratos de Porão uma atitude meio Black Flag ou Sick of it All, mas no fim, tem de ser e soar a Crab Monsters. É uma salganhada simples até.
Já sabemos que a mistura de estilos foi propositada. Como surgiu a ideia?
Se falarmos do início dos Crab Monsters, a ideia não surgiu, simplesmente aconteceu. Fomos percebendo que essa era a saída para o que estávamos a fazer no início. Agora se falarmos só deste álbum, do presente e futuro da banda, talvez sim, já seja algo propositado na medida em que já temos outro domínio ou já controlamos ligeiramente melhor a nossa linguagem e o que estamos a criar. A mistura de estilos acontece e é boa porque também é libertadora. Penso que ajuda quanto à composição e assumir isso também cria espaços para não estarmos demasiado comprometidos a um esquema, embora não esteja descartado. Uma coisa também é certa, que tem a ver com os bpm´s da banda. Foi sempre pensado desde início, que a velocidade tem importância e reflete a dinâmica dos Crab e depois, claro, há sempre a descarga de energia que é quase o motor da banda.
Os Crab Monsters têm sido bastante consistentes no que toca aos álbuns. É um padrão a manter ou tencionam experimentar mais?
Sim, felizmente temos conseguido meter material cá fora, isso deixa-nos satisfeitos. O Emanuel da Hellxis Records tem muita culpa no cartório, tem sido um elo de ligação muito positivo nos Crab Monsters e claro, não podemos de forma alguma deixar de falar nele, de prestar o nosso sincero respeito, amizade e sobretudo o nosso reconhecimento pelos projetos que abraça, pelo apoio que presta, neste caso a nós e às bandas onde ele com muita dedicação e trabalho consegue estender a mão e o antebraço. Este elogio estende-se também a toda a equipa da Hellxis Agency! Mas sim, claro, tencionamos manter essa consistência porque para nós, além do que fazemos, também é importante dar som ao público, que é para isso que cá andamos. Além do mais, deixa-nos animados quando sentimos e percebemos que a malta curte a banda e é lógico, queremos sempre chegar a mais gente. Isso só é possível se a coisa estiver viva e a produzir bem.
Qual foi o maior obstáculo que enfrentaram enquanto banda?
Acho que o maior obstáculo ainda está para vir porque contamos que a banda se entregue a novos desafios em breve, o que é bom, mas sabemos que acarretam sempre obstáculos. Espero que os obstáculos se traduzam em boas causas e bons momentos para a banda. De qualquer forma acho que foi e continua a ser o da conta bancária. Está sempre nas lonas xD! Bem, na verdade também é a gestão do tempo. Dois membros vivem em cidades diferentes, além do problema de conciliar férias, porque temos outros trabalhos, família, filhos etc e já agora, outras bandas em que todos nós estamos, além dos Crab Monsters. Tudo isso combinado acaba por se traduzir num grande obstáculo, que contornamos com toda a naturalidade. Nada de novo!
É verdade que ensaiam pouco? E que isso faz dos Crab Monsters o que são?
É verdade. Sim, os Crab Monsters são o que são também devido a isso. Temos que encarar essa realidade, já não sentimos que isso é um grande obstáculo e pelo contrário, incorporámos esse espírito no sentido em que aceitamos que seja assim, porque não há outra forma. Se metessemos na cabeça que os Crab Monsters tinham que ensaiar mais, ou qualquer compromisso do género, já tínhamos acabado em 2019. Juntamo-nos para tocar ao vivo. É o combustível da banda!
Eu imagino que manter uma banda seja mais difícil do que se pensa. Quais são os maiores desafios para vocês?
É um bocadinho aquilo que já foi dito. As distâncias entre a malta e o tempo são os principais fatores. O Jordi está em Braga, o Tiago no Sabugal, eu e o Batista em Castelo Branco. Contudo não sei, o desconhecimento também joga. Às vezes o pessoal forma bandas em que todos se vivem na mesma área, há tempo, mas a coisa não vai para a frente por diferentes motivos. Havendo vontade, não há merda nenhuma que não se faça. Na minha opinião passa por criar estratégias para gerir as dificuldades e os desafios. Aprender com os erros, errar menos, não desistir, essas cenas…
Qual foi a melhor coisa que vos aconteceu enquanto banda?
Desculpa se soa um bocado vago mas sinceramente acho que foi mesmo chegar até aqui. Ver a evolução lenta mas consistente que a banda teve ao longo destes 5 anos e sentir que ainda há muito para fazer. Isto é muito importante para nós, nunca foi aborrecido. É a melhor coisa que nos pode acontecer, é ter vontade de continuar. Quando isso acabar, é o fim! No entanto, também percebo o outro sentido da pergunta e posso dizer-te que tocar ao lado dos lendários Slapshot, Sick of it All, GBH, para nós foi uma grande honra, embora todos os concertos e bandas com quem partilhamos palco, sejam sempre especiais.
Depois deste álbum, o que se segue?
Seguem-se alguns concertos já agendados para 2024, isso é certo. Estamos também em contactos e a planear uma turnê pela europa de leste e do sul, incluindo Espanha e, para já, é o que podemos adiantar. Em princípio também vai sair um Split com uma banda de Espanha que anunciaremos em breve e, já são bastantes coisas. Uma coisa é certa, ainda vão ouvir falar de nós!
Obrigada pelo tempo dispensado! Dou-vos agora um espaço para partilhar algo com os fãs!
O mundo não acabou em 2000 porque uma rabanada de vento desviou o meteorito. Podia
às vezes o pessoal não saber 🙂 eh eh
Muito obrigado Mariana pela excelente entrevista. Quero agradecer em nome dos Crab Monsters à Cultura em Peso, pela oportunidade. E já agora deixar uma palavrinha a todos os que acompanham os Crab Monsters, nunca é demais retribuir a consideração, o carinho e o reconhecimento de tod@s que vão aos concertos, que esvaziam os bares, que compram o merch… um abração! Vemo-nos por aí!