Eighth Sin é uma banda de black-death metal originária da Venezuela, fundada em 1998 por Bernardo König e Alejandro Ayala. Poucos meses depois, Ezequiel Borges e Jesús Santana se juntaram ao grupo, e este último decidiu batizar a banda como Eighth Sin, inspirado em uma definição teológica dos sete pecados capitais.
Quase duas décadas depois, Jesús Santana decidiu reativar o nome e a banda Eighth Sin após conversar com o baixista Alexis Peraza, que entrou em contato com Rubén Salas para que ele se juntasse a essa nova formação como guitarrista.
Em 2024, foi lançado o primeiro videoclipe da banda, “Un Dios Salvaje“, dirigido pelo renomado cineasta venezuelano Luis Rodríguez. O vídeo conta com a participação do ator e um dos principais expoentes da dança Butoh na Venezuela, Rafael Jiménez, acompanhado pela atriz, diretora, cantora e coreógrafa norte-americana Diane Foster.
Atualmente, Eighth Sin é formada por: Jesús Santana – Vocalista, Rubén Salas – Guitarra, Alexis Peraza – Baixo e Oswaldo Medina – Bateria.
1) Eighth Sin provém da inspiração teológica dos sete pecados capitais.
Fale-nos sobre a escolha do nome e como ele influenciou a composição lírica da banda.
Saudações, Kimberlyn. Agradeço a oportunidade de conversar sobre a banda e nossa atualidade. Sua pergunta sobre a origem do nome “Eighth Sin” é muito interessante, já que apenas uma vez me perguntaram isso em um programa de rádio, no extinto “La Esencia” de Paul Gillman, pela 104.5 FM. Acho fundamental esclarecer agora a origem.
Em 1998, no início da banda, ainda não tínhamos um nome definido. Os nomes que eu havia considerado não capturavam a essência da mensagem lírica que eu tinha em mente. Sempre acreditei que, ao dar um passo, é preciso considerar a direção em que se deseja evoluir. Na época, havia um consenso sobre o rumo de nossas letras, mas hoje tenho uma visão muito mais clara da mensagem que queremos transmitir.
Os sete pecados capitais originalmente eram oito; o pecado que não encontramos mais na lista era a tristeza ou depressão. No século VI d.C., o Papa Gregório Magno a retirou da lista, deixando os pecados que conhecemos: gula, avareza, luxúria, ira, preguiça, orgulho e soberba. Ao estudar essa evolução, percebi que foi muito acertado eliminar a tristeza como pecado, pois, de uma perspectiva mais ampla, o verdadeiro pecado poderia ser considerado a própria humanidade: o homem/mulher, o fato de estar vivo.
O oitavo pecado pode, então, ser interpretado como a própria condição humana. Cada indivíduo, ao longo da vida, enfrenta a complexidade dos pecados em uma jornada rumo à plenitude, não necessariamente espiritual, mas como seres que experimentam tanto erros quanto virtudes. Aqui entram pensadores como Santo Agostinho, que viveu intensamente os pecados e refletiu sobre eles, tornando-se santo, e Søren Kierkegaard, que analisou a luta do ser humano entre a luz e a escuridão, assim como a angústia inerente da carne nessa busca.
Portanto, suprimir a tristeza como pecado em si e resumi-la à experiência humana parecia, na época, uma abordagem mais adequada. O grande e único “pecado” poderia ser simplesmente estar vivo, com todas as contradições e matizes que isso implica. Visto assim, isso nos convida a aceitar nossa humanidade, boa ou má, em sua totalidade, para alcançar um estado de graça; é navegar pelas sombras de nossos próprios pecados e, através deles, encontrar a luz ou mergulhar na verdadeira escuridão, que é o caminho mais autêntico a ser trilhado.
2) Como surgiu a ideia de reviver o Eighth Sin após quase duas décadas?
A banda foi criada em 1998 por Bernardo Konig e Alejandro Ayala. Pouco depois, entrei no projeto e sugeri o nome da banda. Com o tempo, infelizmente, a energia e a comunicação no grupo começaram a enfraquecer, algo compreensível pela evolução natural das relações e do que o tempo faz, embora não tenha passado tanto assim. Não desejo abordar a história da banda de uma perspectiva musical, mas sim falar de Eighth Sin como uma entidade. Esse nome estava adormecido, e eu acreditava que era necessário despertá-lo. Naquele momento, não tinha claro o rumo musical que tomaríamos. Não sabia se continuaríamos na mesma linha do passado, com metal extremo, ou se seguiríamos por um novo estilo. Mas estava convencido de que o nome merecia reaparecer.
Um dia, conversando com Alexis Peraza, falei sobre o desejo de realizar um show que servisse como um funeral para a banda. Nunca senti que havia encerrado esse capítulo de maneira adequada. A ideia era dar um último show que simbolizasse o fim do Eighth Sin. Alexis aceitou a proposta e entrou em contato com Rubén Salas, que, embora originalmente baixista, se ofereceu para tocar guitarra e trabalhou arduamente para interpretar as músicas originais da banda. Rubén era um antigo fã do Eighth Sin e, finalmente, contatou Juan Carlos Figueroa para assumir a bateria.
À medida que avançamos nos ensaios, a química entre os membros foi muito boa. Rubén até apareceu com um novo tema que capturava o estilo do passado, mas com um enfoque renovado. Foi nesse momento que percebi que seria um erro deixar o nome de Eighth Sin morrer. Assim, chegamos ao presente, onde a banda é composta por Alexis Peraza (baixo), Rubén Salas (guitarra), Oswaldo Medina (bateria) e Jesús Santana (voz).
Hoje, depois de vários anos, continuamos trabalhando. A evolução do nosso som é clara, e o conceito que manejamos é muito mais sólido e definido do que há mais de vinte anos. Esse processo de renascimento não apenas revitalizou a banda, mas também permitiu uma reflexão profunda sobre nossa identidade e o significado da nossa música.
3) As letras agora estão focadas no misticismo, na liberdade, no ocultismo, na filosofia e em outras temáticas que não foram consideradas no passado. Como conseguiram mudar para esses interesses temáticos e que elementos eram considerados anteriormente?
Ao escrever as letras atualmente, tenho claro que não sou a mesma pessoa que no início da banda; na verdade, ninguém é o mesmo que era há apenas uma hora, nem sequer um minuto atrás. Essa é a essência da clareza ao criar algo. Ao revisar minhas letras do passado, às vezes sinto vergonha, embora cada uma delas tenha sido um reflexo genuíno de um momento específico da minha vida, do que a música exigia naqueles tempos.
Hoje é 2024, e o mundo ao nosso redor é mais desagradável e assustador do que nunca. Não me refiro apenas à situação da Venezuela, mas a um contexto mundial em que a globalização, à medida que avança, inevitavelmente nos prejudica. Muitos não querem ver isso, mas é uma realidade que o futuro mostrará. Em meio a isso, é necessário expressar uma mensagem usando as armas que possuímos: neste caso, a música e as letras.
No passado, minhas letras estavam mais centradas em histórias com personagens; cada música era como um filme, e a orientação da banda naquela época era muito diferente. Naquele momento, meu radicalismo no pensamento era administrável. No entanto, hoje a situação mudou. Agora, liricamente, preciso da liberdade de derrubar qualquer barreira que considere necessária. Não há espaço para ambiguidades; minhas letras podem ser interpretadas de várias formas, mas há outras que não deixam pedra sobre pedra e podem ofender algumas pessoas. Não entendo muitas bandas de hoje que têm medo de ofender com suas mensagens. Eighth Sin busca escrever temas com profundidade, mas sem censura. “Un Dios Salvaje” é uma letra introspectiva, para ser analisada de uma perspectiva psicológica, filosófica e teológica. Mas há outros temas que são um ataque frontal ao que acontece no mundo de hoje sob uma visão humana, entendendo a palavra humanidade como tudo o que a cerca.
Hoje temos letras como “Tabula Rasa”, inspirada no pensamento do filósofo Eugene Thacker e sua visão do caos no planeta; “Asar un-Nefer”, que é um tema ritualístico sobre um dos trabalhos de Aleister Crowley; “El Exegeta del Caos Interno”, sobre a possibilidade de se ver em uma jornada espiritual e mental; “Todos los Nombres de Dios”, que é uma crítica aberta às religiões como lojas radicais de pensamento, especialmente a uma delas que se tornou a principal inimiga do mundo e ninguém quer aceitar. Continuam acreditando que a máfia vaticana é o principal problema mundial quando se fala de religião, mas claramente não é; o inimigo é outro.
Há uma música recente que é uma homenagem e um fechamento com o passado do Eighth Sin de 1998, que chamei de “Where the Dreams Come From II”. Sou fã da proposta que o Metallica fez com a trilogia de “The Unforgiven” e que retoma a melodia do tema original. O dia em que a tocarmos será o verdadeiro fechamento com o passado da banda, além de que me interessa encerrar essa história contada na primeira parte. Atualmente estamos compondo mais músicas e todas se mantêm dentro do escopo do que mencionei: a filosofia, o ser humano como um animal destrutivo que gera caos.
4) Como o estudo aprofundado do vocalista Jesús Santana em ocultismo, filosofia, teologia e poesia impactou nas letras da banda Eighth Sin? Que elementos e autores foram considerados na composição, incluindo também a própria existência humana e o mundo que a rodeia?
As letras de Eighth Sin são realmente importantes. No meu caso, há autores e filósofos que foram fundamentais na criação. Posso mencionar Eugene Thacker, Thomas Ligotti, Peter Wessel Zapffe, Søren Kierkegaard e Henry David Thoreau, entre tantos outros. Cada um desses pensadores toca a complexidade da existência humana a partir de suas perspectivas, explorando a angústia e a busca de significado em um mundo caótico.
Um personagem que desperta controvérsia é o matemático Dr. Theodore Kaczynski, que se tornou um inimigo público de uma sociedade que não estava disposta a ouvir suas advertências sobre a necessidade de uma mudança radical. Com o tempo, sua crítica à tecnologia e sua visão do rumo que a humanidade estava tomando demonstraram ter razão, e falo dos anos em que esteve ativo, de 1978 até 1995. Sua lucidez, embora obscurecida pelo que fez, deixou questionamentos sobre nossa relação com o progresso e o custo que isso representou para a nossa modernidade. Embora não o vejam assim, ele é um filósofo e neoludita cuja visão sobre a tecnologia, a cada dia, desnuda mais o mundo.
A lista de influências é extensa e está em constante evolução, já que as leituras e os estudos são processos que nos readaptam continuamente. De uma perspectiva teológica ou mística, autores como Emanuel Swedenborg e William Blake oferecem visões que desafiam a realidade das pessoas comuns. Ao mesmo tempo, mantendo uma distância crítica em relação a pensadores como Hans Küng, José María Castillo e Karl Rahner, que trazem reflexões valiosas sobre a fé e a espiritualidade no mundo contemporâneo.
É compreensível que muitos se surpreendam ao encontrar teologia em um músico de Black Metal. No entanto, essa união revela a profundidade e complexidade das crenças religiosas e sua influência na experiência do ser humano. A escuridão da música serve como um veículo para explorar essas questões fundamentais, sendo o homem visto como um erro da natureza.
Na poesia, a obra de autores como Thomas Bernhard, Gottfried Benn, Georg Trakl e Fernando Pessoa é inegável. Seus escritos são uma profunda reflexão sobre a condição humana, enriquecendo a visão lírica que busco transmitir. Enfim, a poesia, a filosofia e o livre pensamento são os pilares que sustentam a mensagem lírica de Eighth Sin. Tece-se uma corrente de pensamento, uma narrativa com a qual queremos convidar à introspecção e ao questionamento da existência, desafiando quem nos ouve a confrontar verdades obscuras e complexas da vida ou da morte, que não têm diferença.
5) Existem muitas interpretações do videoclipe, mas minha interpretação pessoal é a busca de preencher um vazio e dar sentido à própria existência humana, encontrando uma “resposta” através da religião, fazendo com que o homem apenas se encontre em um estado de desespero e uma busca constante por respostas sem sentido, deixando de lado a visão real da vida e da mera existência humana, levando-o à morte.
Agora gostaria de perguntar a Eighth Sin que mensagem, interpretação e visão tiveram ao criar não apenas o videoclipe, mas a letra que acompanha tal produção audiovisual.
Há uma frase dita por David Bowie que nunca esqueço: “A religião é para as pessoas que têm medo de ir para o inferno. A espiritualidade é para aqueles que já estiveram lá.” Quem realmente é o personagem do vídeo? Isso é a primeira coisa que devemos imaginar ou tentar entender. Bowie deixa claro o fato de que, para encontrar a luz, é preciso primeiro transitar pelo inferno.
Quando escrevi o roteiro, tinha claro quem era o personagem: é um homem, um santo, um demônio, é Jesus, é Lúcier? O curioso, e o que tem acontecido, é a visão e leitura que as pessoas têm ao assisti-lo. O pessoal da Metal Index considerou a letra como uma espécie de oração; eu não tinha visto dessa maneira, e eles têm razão. Isso me fez sentir bem, pois disseram que era uma oração e que, pelo personagem, é totalmente válido.
Ao me sentar com Luis Rodríguez e explicar o que buscava, ele teve clareza do caminho a seguir para transmitir esse desespero, essa busca por uma resposta. Eu adicionaria: uma resposta para um final. O desespero do personagem fica muito claro, e a letra, acredito, cumpre muito bem o que se deseja transmitir.
A letra foi escrita, como se diz, em uma só sentada. A do vídeo é a versão final; houve uma primeira versão que, embora mantivesse a mesma mensagem, era mais sombria, mais satânica e talvez com tons românticos. Você percebeu que o personagem morre no final, embora haja uma frase que ninguém escreveu: o epitáfio do diabo. Isso deixa a possibilidade de que o personagem reapareça em algum possível vídeo.
Por ora, a letra tem um final em que se diz: “Basta!” É como o grito de Jesus na cruz; é a escatologia dos últimos tempos, ao menos do último tempo vivido pelo personagem principal. O Salmo 22 fala sobre clamar durante o dia, quando Deus não responde, e clamar à noite sem encontrar repouso. É como o momento de se sentir em abandono absoluto, e o vídeo termina dessa maneira, com uma estranha mulher que sofre pela morte de um personagem que precisamos descobrir quem é.
6) Vocês poderiam nos falar um pouco sobre os elementos simbólicos que podemos ver no videoclipe?
No final dos anos 40, o mitólogo Joseph Campbell descobriu algo chamado “o caminho do herói” ou monomito. Esse conceito se repete em quase todas as culturas, bem como em histórias literárias, no cinema e em séries. Neste caso, ao pensar no personagem principal e em sua natureza, imaginei realizar o caminho do herói, mas ao contrário.
Isso não é novidade; já foi feito muitas vezes, mas acredito que em Un Dios Salvaje era necessário que o personagem terminasse da maneira como todos puderam ver. Há muitos elementos escondidos, e parte do encanto está em descobri-los à medida que assistem várias vezes. A letra é um guia importante junto com as imagens, pois se fala do antagônico dentro daquele que carrega a jornada.
A letra, junto com a imagem, mostra parte desses elementos divinos e religiosos: o texto com o qual começa, a cruz, o tarot, as cartas, a Bíblia, os lugares e até os movimentos têm uma razão primordial no que observam. Tudo isso, somado ao fato de que a jornada deste não-herói é fundamental para compreender a mensagem, é importante ser visto repetidamente para detalhar. Un Dios Salvaje é como a magia; se contada, perde o encanto.
7) Quais foram as referências musicais e cinematográficas que Eighth Sin utilizou para compor seus temas e agora tomou como inspiração para dar sentido às suas músicas através de material audiovisual?
No que diz respeito às referências musicais, é a resposta clichê de sempre, pois cada um de nós tem gostos diferentes. No meu caso, busco influências em estilos e artistas diversos, que vão desde David Bowie e Amigo the Devil até The Devil’s Trade, Chvrches e muito do post-punk clássico. Também me inspiram bandas clássicas com as quais cresci, como Bathory, Venom, Celtic Frost, Hellhammer, Sarcofago e Acheron, entre outras. Estou sempre buscando coisas diferentes, afastado do extremo. Quando se trata de música extrema, são os outros membros da banda que mergulham mais nesse estilo antes de entrarmos todos no estúdio para arranjar as músicas.
Uso o cinema como referência importante para as letras. No caso do vídeo Un Dios Salvaje, falamos exclusivamente de cinema. Luis e Andrés Rodríguez, conhecidos como os Morochos no cinema venezuelano, estão entre os melhores cineastas do país, DOS MELHORES (em maiúsculo). Me orgulho de considerá-los amigos e membros de Eighth Sin e Quebrantos, embora eles nem sempre o reconheçam.
Para a realização deste vídeo, trabalhamos exclusivamente com Luis, que se uniu a Gregori Ramírez. Quando vi como eles trabalham, me senti seguro; ter Luis e Gregori dando ideias sem parar para o ator e buscando os locais nos deu uma imensa tranquilidade. Luis e Gregori são os criadores deste vídeo.
Quando me reuni com Luis pela primeira vez para discutir a história, expliquei o conceito do vídeo, o personagem principal, a contraparte feminina, o local onde se encontrariam e tudo o que deveria acontecer. Conversamos sobre a letra e seu conteúdo filosófico. Criamos um roteiro e começamos a buscar os protagonistas. Conheci Rafael Jiménez durante uma apresentação de sua performance Butoh, uma expressão artística impressionante surgida no Japão na década de 1950 em resposta aos traumas provocados pelos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki. Conversei com ele, e ele aceitou participar do vídeo, convencido completamente sobre quem era o seu personagem. Depois, falei com Diane Foster, de quem falarei mais adiante.
O local de filmagem foi a casa de um amigo da banda, e assim começamos o processo de gravação. As referências cinematográficas que inspiraram o projeto incluem uma das minhas filmes favoritos, Possession de Andrzej Żuławski, um thriller psicológico excepcional com atuações brutais de Isabelle Adjani e Sam Neill, que hoje é considerado um clássico. Luis incorporou elementos de Żuławski, assim como influências do Roman Polanski de seus primeiros anos, Lars von Trier e do cinema visceral de Kōji Wakamatsu.
O processo de composição das músicas é fluido; Rubén, Oswaldo e Alexis criam e apresentam propostas no estúdio, onde todos colaboramos para aprimorá-las. Frequentemente cortamos mais do que utilizamos, e surpreendentemente, o que descartamos às vezes é reutilizado em outros temas, criando um verdadeiro “Frankenstein” musical. Com a música pronta, me concentro nas letras, que surgem de acordo com o que a música me transmite. Escrever é um trabalho exaustivo, pois a mensagem precisa ser importante; é tudo ou nada. O público valoriza quando encontra um significado que ressoa com eles. Por isso, alguns de nossos temas são em espanhol. No caso de Un Dios Salvaje, ficou claro que a letra em espanhol foi bem recebida, e seu significado foi buscado.
[Continua com a mesma formatação nos parágrafos subsequentes, mantendo todas as imagens e elementos multimídia originais, além das tags nos nomes próprios.]
10) O que foi o mais desafiador ao retomar este maravilhoso projeto após quase duas décadas de ausência e com uma nova formação?
Talvez o mais desafiador, pelo menos para mim, foi me adaptar à tecnologia atual. A forma de gravar um ensaio mudou completamente; não dependemos mais de um walkman gravador ou de rebobinar fitas cassete. Tudo é muito mais simples e rápido. Gravar em um estúdio agora é mais eficiente com equipamentos digitais; o antigo DAT não existe mais. Hoje em dia, os meios são as redes sociais e o rádio é pela Internet. Não existem programas de metal no rádio como antigamente, e a mídia virou as costas para o metal. Não que antes houvesse um grande apoio, mas existiam espaços para descobrir novas músicas e outras opções.
Na verdade, fora isso, não vejo grandes diferenças, talvez na cena, que mudou com as novas gerações e porque muitos da **velha guarda** deixaram o país ou já faleceram. É interessante retornar ou despertar depois de tantos anos de pausa.
11) O que levou você a escolher Diane Foster para participar no videoclipe? Além da sua proximidade com a atriz.
Bem, Diane Foster é uma talentosa diretora, produtora, atriz e bailarina. Devo dizer que ela é a madrinha da banda. Sempre que conversamos, ela está disposta a dizer **sim** para qualquer ideia que eu tenha para um vídeo. Eu a conheci quando ela estrelou o filme *The Orphan Killer* em 2011, um filme de terror. Com o passar dos anos, ela continuou a trabalhar na produção de filmes, no cinema independente e em documentários. Em 2017, ela apareceu no vídeo de Glenn Danzig (que está no meu **top** de grandes influências) *Last Ride*, e em 2019, no filme de Glenn, *Verotika*. Sempre tive o sonho de poder tê-la em algum vídeo da banda ou em uma foto, mas achava isso impossível.
Quando terminamos de filmar o vídeo, tive coragem de escrever para ela, pois faltava a atriz principal. Escrevi com medo de uma resposta negativa, mas me deparei com algo incrível. Ela me perguntou do que se tratava o vídeo, a história, a música e quem era o diretor — perguntas totalmente lógicas. Conversamos e a resposta foi um **sim** imediato. Ela pediu que eu especificasse claramente cada expressão que ela deveria fazer, mas preferi que ela fizesse sua magia, de acordo com a história do personagem principal.
O problema? Ela tinha acabado de editar o filme *Easter Bloody Easter*, uma divertida comédia de terror e **gore**, e os tempos não estavam alinhados. Mesmo assim, Diane fez de tudo para filmar em seu estúdio. Quando enviou o material, algo aconteceu durante a transferência, e os arquivos se corromperam. Naquela semana, ela estava prestes a viajar em uma turnê de festivais de cinema de terror pela América do Norte, então o foco dela, naturalmente, estava nisso. Passaram-se alguns dias, entre idas e vindas, e Diane me disse: *”Posso fazer amanhã e enviar imediatamente.”* O risco de não dar certo novamente existia, mas ela gravou com a ajuda de um membro de sua equipe e me enviou. Recebi o material, e praticamente tínhamos uma semana para terminar tudo. Quando confirmei que já tinha o material, ela pôde finalmente respirar aliviada, pois ficou em contato direto durante toda a espera.
Conseguir ter Diane Foster foi um grande marco pessoal. Como mencionei, ela é a **madrinha da banda**. Vê-la trabalhar é testemunhar o talento puro, e é impressionante como a boa energia dela se torna um elemento essencial. Acompanhar seu ritmo não é fácil.
Preciso dizer que, no início, conversamos com atrizes venezuelanas, mas, sem querer ofender, foi tão complicado concretizar algo que às vezes não dá para entender. Não sei se é ego, uma necessidade de serem persuadidas ou se simplesmente não estão interessadas — o que é totalmente válido. No entanto, aceitar e nos deixar esperando pelo material é desgastante e ofensivo.
12) Como o black metal e o ocultismo influenciaram Eighth Sin?
Essa pergunta é perigosa para quem olha apenas para um lado. Começo perguntando: **o que é o black metal?** É um conceito ou um estilo? A partir daí, alguns podem querer me crucificar, mas, para mim, o **black metal** é um conceito, não um estilo musical. Deixando isso claro, acho que, em 1998, a banda foi mais influenciada pelo estilo do **black** e **death metal melódico**. Hoje, no entanto, nos sentimos mais influenciados pelo **black metal** como conceito e não como um gênero musical específico.
Nosso tema *Un Dios Salvaje* pode ser considerado **black metal**? Não tenho certeza de como defini-lo; para muitos, é uma mistura de **death** com **black**, e para outros, é um **black denso**. O **black metal** também evoluiu significativamente, e hoje existem inúmeros subgêneros. Quero deixar claro que não critico esses subgêneros; simplesmente não os escuto, pois se afastam do conceito original do estilo. Existem bandas maravilhosas, mas, pessoalmente, suas letras me distanciam.
O **black metal** é, sem dúvida, uma parte importante na criação da música da banda. Quanto ao **ocultismo**, no início, em 1998, havia certo receio de abordar esses temas. Pelo menos não da minha parte, mas acho que não era o momento. Hoje, nesta nova formação, o ocultismo é uma base fundamental de alguns dos nossos temas. Os escritos de Eliphas Lévi, Aleister Crowley, Madame Blavatsky, Austin Osman Spare, Phil Hine ou a filosofia de Anton Szandor LaVey — que muitos criticam, mas que possui similaridades atualizadas com o pensamento de Friedrich Nietzsche — foram fundamentais para meu crescimento espiritual e filosófico. Hoje, muitas de nossas letras provêm desse trabalho com autores e textos.
13) Como foi a experiência de participar no curta-metragem *Ascenso*?
A experiência com *Ascenso* foi incrível; foi a primeira vez que trabalhamos com Luis e Andrés Rodríguez. A banda estava voltando após muito tempo, e Luis nos contou a ideia do curta: uma história sombria sobre um jovem e seu pai, com uma relação complicada e elementos de terror. Luis já tinha participado de ensaios da banda e pediu que colaborássemos na filmagem. Aceitamos imediatamente.
A filmagem ocorreu em uma casa peculiar, durante dois dias, e tivemos três dias de ensaios. A banda aparece apenas por alguns segundos, mas foram necessárias várias tomadas, pois o som da sala de ensaio nem sempre estava ideal. Cada membro foi filmado separadamente, e a produção convidou várias figuras da cena **metal** venezuelana, que podem ser vistas no corte final.
*Ascenso* é um curta que não vejo há um tempo, mas tenho certeza de que, ao revê-lo, o encontrarei ainda mais fresco. Luis e Andrés criaram algo atemporal, que envelhecerá muito bem.
14) O que podemos esperar de Eighth Sin para o próximo ano de 2025?
Esperamos poder tocar mais, já que os shows não são algo que nos sobra. Muitas pessoas nos perguntam: *quando vamos tocar?* E isso é algo que não depende apenas de nós. Estamos prontos para fazer isso assim que nos chamarem. Entendo que também precisamos tentar organizar shows, mas, às vezes, entre gravar uma boa música ou talvez oferecer um material da melhor qualidade possível, como *“Un Dios Salvaje”*, com uma equipe profissional e de alto nível, preferimos a segunda opção.
A experiência de tocar ao vivo é única, especialmente considerando a quantidade de músicas que temos preparadas para que todos desfrutem. A ideia é continuar oferecendo material de alto nível, na medida do possível.
15) Queremos deixar um espaço para que vocês possam deixar uma mensagem para as pessoas que estão lendo esta entrevista e convidá-las a seguir suas redes sociais.
O mais importante é agradecer a todos que dedicam tempo para assistir a *“Un Dios Salvaje”* e aos que deixam um comentário. A quem gosta da nossa proposta e busca o simbolismo no nosso trabalho, mil vezes obrigado. Não esperávamos atingir um nível de aceitação tão bom; levou tempo, mas os frutos apareceram. Aos amigos próximos da banda, agradecemos o apoio e a motivação que nos dão para seguir em frente. A banda está muito feliz e com muita vontade de continuar criando e se reunindo para mostrar o melhor material possível.
E, obviamente, agradecemos a você, Kimberlyn, pelo carinho, boas energias e interesse em nossa proposta. Sabemos que compartilhamos paixões como a literatura e os livros. Um abraço de toda a Eighth Sin. Obrigado!
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