Evadne e Evercloud transformam a escuridão em música no México
Goth Day ganha soundtrack melancólico com bandas de doom metal

O primeiro dia em muito tempo em que o céu não parecia uma ameaça de calor, mas uma promessa de escuridão. Como se o clima tivesse conspirado com as bandas para descer um cortina cinza sobre a cidade. E não era apenas o céu: aquela noite, sem querer, também celebramos o Goth Day, uma grande coincidência.

No Foro Independencia, a noite começou sem falsas solenidades. A atmosfera era densa e ritualística, mas longe de ser pretensiosa. Era a abertura da turnê latino-americana do Evadne, titãs espanhóis do doom melódico, acompanhados pelo Evercloud, banda nacional em ascensão. O público foi moderado, mas afiado.

Cardoss, The Summon e o prólogo do colapso

A noite começou com Cardoss, que apresentou um set curto, mas intenso, com sua mistura de post-metal, sludge e stoner doom. Eles não falaram muito, não se moveram muito. Não precisavam — seu ruído falava por eles.

Em seguida, veio The Summon, banda local de blackened death metal, e o clima mudou completamente. De repente, o público — até então contido — se soltou com seus riffs cortantes e energia crua. A conexão foi instantânea.

The Summon em performance no Foro Independencia
The Summon
Cardoss no palco do Foro Independencia
Cardoss

Evercloud: entre cinzas e futuros possíveis

Para o Evercloud, esta turnê representa mais um passo em uma escalada que não para desde seu nascimento durante a pandemia. Depois de abrir shows para Sirenia e Insomnium, agora dividem o palco com Evadne, e o fazem com confiança.

Seu set foi uma jornada emocional. “Ashes By Tomorrow” foi uma introdução dolorosamente bela. Seu doom melódico tem algo único: não soa repetitivo nem exagerado. É melancolia sem afetação, construída com melodias que parecem ter sido escritas após muitas lágrimas, pouco sono e ainda mais lágrimas.

Evercloud performando no Foro Independencia
Evercloud

Evadne: autópsia sonora

Quando o Evadne pisou pela primeira vez no solo latino-americano, não houve fogos de artifício. O Foro Independencia ficou completamente às escuras, o cenário com seu logo surgiu, e a introdução “88:6” marcou o início do ritual.

O que se seguiu foi um set com faixas como “Where Silence Dwells”, “Shadows” e “All I Will Leave Behind”, cada uma executada com uma precisão e emoção quase perigosas. “One Last Dress For One Last Journey” e “The Pale Light Of Fireflies” foram os momentos mais intensos: ali, não estávamos mais em um show, mas em um funeral coletivo onde todos aceitamos não sair ilesos.

Evadne em performance no México
Evadne

“Eles tocam como se não esperassem sobreviver ao próximo acorde. E nós os ouvimos como se não importasse.”

O encerramento veio com “The Vacuum” e, após uma pausa calculada, retornaram com “Ablaze Dawn Eyes” como bis. Não houve discursos — o Evadne veio para destilar dor em forma de notas lentas e letras como epitáfios.

No final, apenas aplausos longos e sinceros. A noite terminou sem grandes declarações. Lá fora, ainda estava nublado. Tudo fazia sentido.

O Goth Day foi uma piada cósmica. As nuvens, uma metáfora. Mas o que aconteceu dentro foi real: uma noite em que a dor virou trilha sonora, e a escuridão, um idioma compartilhado.

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