Ladrones é uma super banda que reúne figuras de destaque da cena mexicana, como Zxmyr e Cirujano Resendez nos vocais — dois rappers consagrados da Alzada —, Diego Zornoza na bateria e José Fierro no baixo, ambos produtores do mesmo selo. A guitarra fica a cargo do mestre das nove cordas José Macario, amplamente reconhecido como um dos melhores guitarristas do México. Ele transita com fluidez entre projetos como Parazit e Resorte, e já integrou grupos que vão do metalcore com Arcadia Libre e Here Comes The Kraken ao reggae com Golden Ganga.
O que começou como uma casualidade em 2022 — quando Macario ajudou Zxmyr a criar bases para uma faixa de rap — acabou sendo o ponto de partida para a formação da banda. Ainda naquele ano, participaram da trilha sonora do game Free Fire com o tema “Aquí No Hay Ley”, em colaboração com o freestyler Lobo Estepario. Essa participação lhes rendeu visibilidade para além dos palcos.
Em 2023, o debut oficial da banda os colocou como banda de abertura para Resorte na cobertura do C3, diante de menos de 500 pessoas. Um ano e meio depois, o palco principal do mesmo local se rendeu a um sold out com mais de 1100 presentes. Se continuarem nesse ritmo, 2026 pode ser o ano em que eles lotarão o C4 Concert House.
Ladrones não são os primeiros a misturar rock com a música regional mexicana, mas talvez sejam os que conseguiram fazê-lo de maneira mais eficaz. Antes deles, houve experimentações como Nunca Jamás com seu “rock agropecuario” ou Charly Montana com o “Vaquero Rocanrolero”, mas o quarteto parece ter encontrado a fórmula certa que dialoga com o presente e sua audiência.

Dias atrás, uma discussão surgiu na Cultura Em Peso México e gerou um desconforto necessário: é certo divulgar essa música? A banda não promove mensagens de ódio, mas algumas faixas podem ser interpretadas como apologia ao crime organizado — em um país onde a insegurança é endêmica, com campos de extermínio e recrutamento forçado às vistas de todos, o debate se tornou urgente.
A campanha governamental de censura contra qualquer conteúdo que pareça apoiar o crime acendeu ainda mais os alertas. O debate se tornou mais profundo ao lembrar que gêneros como death metal, thrash metal, hardcore, horrorcore e grindcore também abordam a violência, mas raramente são alvos de censura.
A pergunta que ficou foi: o contexto mexicano justifica essa censura? A banda Brujería, por exemplo, sempre abordou temas ligados à narcocultura, e continuou sendo seguida por muitos. Para quem cresceu sendo estigmatizado pela música que ouve, apoiar a censura seria um ato de hipocrisia. Ser contra a narcocultura não implica defender a censura como solução.
Fiquei remoendo o tema, não por querer ter razão, mas para entender o que está por trás disso tudo. Por isso, decidi abordar a própria banda, para ouvi-los diretamente. Após seu show no C3 Stage, fui procurá-los — sem muita esperança — e, contra todas as expectativas, consegui falar com eles. Três minutos que renderam respostas sinceras e serviram como um sopro de lucidez para compreender melhor sua proposta.
Houve um contraste muito forte entre o novo álbum Mexican Pesado e o trabalho anterior Flow Pesado. Como foi essa transição do nu metal para os “corridos pesados”?
Zxmyr: Quando lançamos “Como si nada”, vimos a reação da galera e percebemos que essa mistura de regional com metal agradava pra caramba. Foi aí que começamos a montar esse conceito do Mexican Pesado. E a real é que a gente curte muito essa combinação. Acho que conecta com a nossa identidade, com o que é ser mexicano. O regional e o nu metal juntos fazem o show ao vivo ficar muito mais animado, e a galera tá curtindo demais.
Com essa campanha do governo querendo proibir conteúdos ligados à narcocultura, como vocês encaram essa postura? Como reagem?
Macario: Acho que o assunto tá meio demonizado. Nem todos os corridos — nem mesmo os tumbados — fazem apologia ao crime. A gente tenta focar mais em histórias de superação e motivação, claro que usando a linguagem do gênero e toda a cultura que vem junto com o regional mexicano. Mas é importante saber diferenciar uma coisa da outra. Pessoalmente, não sou a favor da censura, mas também acho perigoso — até para os artistas — se envolver com esse universo. E isso é algo que a gente nunca vai fazer.
Zxmyr y Cirujano Resendez
¿Creen que sus canciones se pueden malinterpretar y llegar a romantizar el mundo del narco y la violencia?
Zxmyr: No lo creo, nunca hemos hablado de nada de eso. Todo lo que escribimos son experiencias propias que vivimos en la calle y, como dice Macario, el mensaje es más motivacional. Yo respeto que cada quien haga el arte que quiera y cante lo que quiera, pero nosotros estamos enfocados en dar otro tipo de mensaje, y creo que nos está funcionando. Hemos sentido el progreso desde que empezamos con cierto tipo de letras, y ahorita estamos revolucionando ese aspecto. Queremos dar un mensaje más claro, de fuerza y tenacidad, algo que te impulse a salir adelante. A nadie le conviene cantarle a personas que te puedan meter en problemas. Nosotros vamos por otro lado.
¿Consideran que su música podría abordar la situación del país a manera de reflexión desde una forma más crítica y/o constructiva?
Macario: Sí, es algo que hemos ido madurando con el tiempo que llevamos trabajando. Al principio las letras estaban más apegadas a lo que Zxmyr ya venía haciendo en el rap, o a lo que yo estaba produciendo en géneros similares. Pero siento que Ladrones ya tiene su propio estilo lírico, y sí, estamos empezando a tocar temas más profundos, con más intención y también con más crítica.
Tras finalizar la entrevista y escuchar las respuestas de la banda logré cambiar mi perspectiva: más que “metal para alucines”, Ladrones son una respuesta que nace en un país donde lo popular y lo violento se confunden a conveniencia, donde se le exige resiliencia a una juventud a la que se le niega el derecho a vivir. Lo que están construyendo, más que una simple fusión de géneros o una jugada de marketing, es una afirmación de identidad y pertenencia.
Su propuesta no es cómoda y por eso ha levantado entusiasmo y sospechas por igual. En un país donde el arte y la cultura se administran con la misma lógica que los programas de asistencialismo social y donde la industria cultural prefiere curar la imagen antes que incomodar, Ladrones llegan a exigir espacio y llenarlo con energía sin pedir perdón por sonar como suenan, ni venir de donde vienen.
No son los primeros en mezclar rock con sonidos de la calle, pero sí los que lo han hecho sin caer en parodias ni concesiones. En lugar de disfrazar sus orígenes, los exhiben. En lugar de traducir la rabia, la amplifican. Y aunque aún falta camino por recorrer, lo que están haciendo ya está abriendo grietas necesarias. Porque un país que a menudo le da la espalda a su juventud hasta que pasa a ser parte de la estadística, el solo hecho de que exista una banda como Ladrones —y que crezca— ya es, en sí mismo, un acto de resistencia. Una forma de recordarnos que, incluso en lo roto, este país todavía canta. Y lo hace con huevos.
Cirujano Resendez
Curtiu essa matéria? Compartilhe com seus amigos e nos siga para mais conteúdos sobre a cena underground mexicana e latino-americana.