A coluna “Preto no Metal” agora é “Metal é Preto” e vamos continuar trazendo toda a nossa ancestralidade e a nossa cultura underground para vocês se deliciarem sempre, e a nossa primeira missão é falar de uma banda que ganha à cada dia ganha mais espaço. Formada em 2018 no cenário musical underground vem com a missão de propagar a resistência e a luta contra todo e qualquer tipo de preconceito. PUNHO DE MAHIN , que tem seu nome inspirado na líder histórica de Luiza de Mahin , uma das pioneiras na luta contra a escravidão. Luiza de Mahin que traz inspiração para o nome para banda foi uma líder pouco conhecida e sua origem e da região da Costa Da Mina, e seu sobrenome vem da tribo de onde se origina os Mahi região onde se encontra hoje Benin, o que explica o berço forte e a fonte de inspiração para que nossa historia não seja perdida. A banda nasce da indignação e da vontade de provocar mudanças. E determinados a dar continuidade ao legado de resistência, eles uniram forças para criar um som que ecoasse na luta social.
Natalia Matos (vocal), Camila Araújo(Guitarra e vocal), Paulo Tertuliano(baterista) e Du Costa (Baixista) traz um som característico do combinando elementos do punk rock com influências da música afro-brasileira, criando uma paisagem sonora que é ao mesmo tempo enérgica e profundamente evocativa. Suas letras confrontam questões como racismo, desigualdade e marginalização, refletindo as realidades enfrentadas pela comunidade afro-brasileira hoje. Além de suas performances explosivas, o Punho de Mahin também se engaja ativamente em ativismo e conscientização social. A banda que participa de manifestações e usam sua plataforma para amplificar vozes marginalizadas, solidificando seu lugar como agentes de mudança na sociedade.
Como a diversidade étnica na banda influencia o som e a abordagem lírica do metal?
Como pessoas negras, temos uma posição de autoridade para explorar e resgatar as narrativas da cultura negra, que são extraordinariamente ricas, porém frequentemente negligenciadas e apagadas devido ao racismo sistêmico. O ato de resgatar essas histórias e incorporá-las em nossas letras é mais do que uma simples expressão artística; é um processo de aprendizado profundo e enriquecedor. Ao compartilhá-las com o público, encontramos um significado poderoso e uma conexão genuína. Da mesma forma, ao compor músicas, sentimo-nos capacitados a explorar livremente elementos da música afro-brasileira e das diversas culturas regionais, enriquecendo assim nossa expressão artística e contribuindo para a preservação e celebração de nossa herança cultural.
Quais os desafios enfrentados pela banda pela escolha do estilo musical?
O punk nos encontrou de maneira inesperada e proposital (risos). É o estilo que todos na banda amam e se sentem mais à vontade para se expressar. Enfrentar desafios faz parte da essência da cultura D.I.Y (Do It Yourself) e do underground, embora este último ainda seja permeado pelo machismo, apesar dos progressos alcançados. Incorporar temáticas como a racial, o combate à misoginia e a luta contra o preconceito direcionado aos grupos marginalizados em relação aos seus direitos básicos é uma tarefa árdua em qualquer estilo musical, especialmente em uma indústria que prioriza o lucro acima de tudo e exerce uma influência doutrinadora.
Qual ícone negro na cena do metal que inspira vocês e influencia o trabalho da banda?
No cenário do metal, recentemente me deparei com um relato de Derek Green (do Sepultura) sobre as dificuldades que enfrentou e superou ao ingressar na banda. Lutas com o idioma, adaptação e, principalmente, enfrentar críticas racistas foram desafios que ele enfrentou. William DuVall (do Alice in Chains) também compartilhou uma experiência semelhante. No entanto, é essencial reconhecer figuras como Sister Rosetta Tharpe, uma mulher negra e precursora do Rock and Roll, como uma influência e inspiração inegável. Seu talento, resiliência e comprometimento com a luta são verdadeiramente inspiradores.
Há uma clara mudança na visibilidade desses artistas. Estão mais presentes, atuantes e destemidos, abraçando e compreendendo plenamente sua negritude
Qual é a importância da representatividade negra na cena do metal?
É crucial entender que o ROCK é, essencialmente, uma expressão da cultura negra – ponto final. O processo de embranquecimento desse estilo levou ao apagamento de raízes e à subvalorização de seus verdadeiros criadores. Estar presentes, ativos e imponentes nesses espaços é uma forma de restaurar a ordem natural das coisas… é reivindicar a posse que nos é devida!
Como vocês veem o papel dos músicos negros na cena do metal atualmente?
Há uma clara mudança na visibilidade desses artistas. Estão mais presentes, atuantes e destemidos, abraçando e compreendendo plenamente sua negritude. Alguns estão transmitindo mensagens contundentes, exaltando e resgatando a rica história negra, enquanto outros permanecem fiéis às temáticas comuns do metal, mas com uma liberdade renovada para expressar sua arte. Parafraseando as palavras de Nina Simone: liberdade é não ter medo!
“a presença de ideologias extremistas, como o nazismo, na cena do metal é um problema sério que afeta negativamente a inclusão e diversidade no gênero”
Como vocês equilibram suas identidades culturais e étnicas com o estilo musical que vocês tocam?
Equilibrar nossas identidades culturais e étnicas com o estilo musical que tocamos é uma parte essencial do nosso processo criativo. Cada integrante da banda traz consigo uma bagagem histórica e etno-cultural única, que se reflete tanto nas letras quanto na música que criamos. Essa multiplicidade de influências é adquirida por meio de nossas experiências pessoais, interações familiares e comunitárias ao longo da vida. A liberdade criativa proporcionada pelo punk é fundamental nesse equilíbrio, pois nos permite explorar uma variedade de temas e perspectivas de forma autêntica e sem restrições. Enquanto o metal também oferece espaço para interação e expressão criativa, o punk, por sua natureza contestadora, muitas vezes nos inspira a abordar questões sociais de forma mais direta e a sugerir ações efetivas por meio do conteúdo de nossas letras. Assim, encontramos um equilíbrio entre nossas identidades culturais e étnicas e o estilo musical que tocamos, incorporando elementos de nossa herança e experiências pessoais à nossa expressão artística. Essa interseção entre o punk e nossa diversidade cultural nos permite criar uma música autêntica e significativa que ressoa com nossos públicos de maneiras profundas e impactantes.
Vocês sentem que a representação de músicos negros na cena do metal tem evoluído ao longo do tempo? Se sim, de que forma?
É verdade, a presença de ideologias extremistas, como o nazismo, na cena do metal é um problema sério que afeta negativamente a inclusão e diversidade no gênero. A existência dessas ideologias prejudica a segurança e o bem-estar de todos, criando barreiras significativas para a representação e participação plena. Concordamos que ainda há poucas ações efetivas sendo tomadas para promover de forma inclusiva o crescimento e a evolução da representação negra no metal, no punk e no rock em geral. É essencial que sejam implementadas medidas concretas para combater o racismo e a intolerância na cena musical, e para criar um ambiente mais acolhedor e igualitário para todos. Esperamos sinceramente que, com o tempo, o movimento em direção à inclusão e diversidade na cena se torne mais forte e poderoso, em linha com o impacto positivo e fundamental que o movimento Preto no Metal tem exercido. Isso exigirá um compromisso contínuo de toda a comunidade para enfrentar e superar os desafios e construir uma cena verdadeiramente inclusiva e justa para todos.
Alguma experiência significativa de conexão com os fãs que queiram compartilhar?
Com certeza, compartilhar uma experiência de conexão significativa com os fãs é sempre especial para nós. Sentimos que o reconhecimento vai além do simples fato de sermos conhecidos por pessoas pretas que apreciam nossa música e acompanham nosso trabalho. Existe uma energia de reciprocidade genuína entre nós e o público, algo que vai além das palavras e das notas musicais. A experiência mais recente foi no show com a banda Bikini Kill, com um público majoritariamente branco. Uma mana preta olhou para a Natália, ergueu uma carteirinha e disse: “EU ESTUDO NA UERJ. A UNIVERSIDADE MAIS PRETA DO BRASIL!” E ambas começaram a gritar e se abraçar. Outro caso foi quando um segurança preto pegou no braço da Natália e disse: “OBRIGADO PELA MENSAGEM!”. Essas interações destacam como é fundamental que nossa música vá além da cena punk e alcance públicos diversos, especialmente aqueles que estão sub-representados ou inseridos na cena punk ou metal.
Vocês sentem que a música de vocês tem o poder de desafiar e quebrar estereótipos?
Absolutamente, a música tem esse incrível poder de desafiar e quebrar estereótipos. Para nós, é mais do que uma simples forma de expressão; é uma ferramenta para desafiar as normas e abrir novos caminhos de entendimento e aceitação. Acreditamos firmemente que a diversidade de nossas experiências e influências se reflete em nossa música, permitindo-nos abordar questões sociais e culturais de maneiras inovadoras e provocativas. Ao criar uma atmosfera de reflexão e diálogo através de nossa música, esperamos contribuir para a desconstrução de estereótipos e para a promoção de uma sociedade mais inclusiva e diversificada.
Como vocês escolhem as influências musicais e artísticas que moldam o som único da banda?
Nossa banda é influenciada por uma variedade de estilos musicais e artísticos, o que contribui para moldar nosso som único. A diversidade e as escolhas individuais entre os membros são fundamentais nesse processo, pois cada um de nós traz suas próprias experiências e perspectivas. Acreditamos que nossas vivências pessoais e culturais, que vão além da música e incluem literatura, cinematografia e artes em geral, indiretamente influenciam nossa criação. Portanto, não é tanto um processo de escolha consciente, mas sim uma expressão natural de nossas experiências e interesses coletivos.
Como a banda engaja em projetos sociais e apoios a solidariedade a música e cultura negra?
A banda se envolve em projetos sociais e apoia a solidariedade, especialmente voltada para a música e cultura negra. Acreditamos que participar de movimentos sociais, tanto coletiva quanto individualmente, é fundamental, pois isso reflete nossa filosofia de vida. Buscamos ativamente participar e vivenciar experiências que promovam causas sociais, além de produzir, incentivar e desenvolver eventos e ações que fortaleçam essas iniciativas.
Contatos da banda
linktree Punho de Mahin