Facada é sem dúvida um dos maiores nomes do Grind Core nacional, por que não se arriscar a dizer que é o maior?
Formada em 2003, o grupo tem inúmeros lançamentos, e Quebrante, o disco de 2018 é o seu quarto álbum de estúdio (Indigesto – 2003, O joio – 2010, Nadir – 2013) são os outros.
Ainda lançou demos, splits, lives, e compilações.
Quebrante teve um salto midiático loco em seu lançamento, o cd ocorreu no dia 05/09/2018, e no dia seguinte um presidenciável levou uma facada em Juiz de Fora.
Facada e o presidenciável passaram a ser as palavras mais pesquisadas e o cd teve ampla divulgação, e com isso também veio o prejuízo, por uma postagem irônica do grupo sua página ficou desativada por um bom tempo. Mas ela voltou, e clique aqui pra seguir a banda.
Lançado pela Black Hole Productions (este e outro lançamentos você encontra com [email protected], por isso corra para comprar) o sucessor da paulada impiedosa Nadir, Quebrante traz 23 faixas de muito peso e violência sonora, nada diferente do que se pode esperar do “Nasum” brasileiro.
Com letras que buscam muito a reflexão, o Facada (Na goela) não mede palavras, muito menos se esconde em cima do muro, o grupo solta a torta e a direita o que pensa, não deixe de ler o material.
Deixa o Caos entrar é um instrumental convidativo ao que vem nas próximas 22 duas faixas, uma introdução desta em um show pode significar os segundos prestes de um apocalipse em uma roda “punk”.
“Nós somos o veneno“ veloz como um petardo, vocais rasgados, sofre uma quebra de ritmo forte em seu refrão.
“Apenas mais um igual a mim” muito bem cadenciada, tem uma pegada bem Crust impregnada no seu grindcore, mas o que mais impressiona é a letra como pode se perceber no trecho
“ … Você é escória, Só quer aparecer
Criado como homem, Em quem você quer bater?
Age como troglodita, ama ser grosseirão
Destaca sua virilidade, o Quanto é machão …”
O quarto som vem como uma bomba, “O pior de todos” cozinha traz perfeição, bateria incrivelmente bem executada, desde sua introdução com a cozinha “bonita”, o grooves chamam a atenção pra si, a quebra de cadências e extremamente interessante aos ouvidos.
A farsa: Nojo, só penso em destacar uma frase da letra “Finge amizade, para tirar vantagem”.
Musicalmente mais rápida, e abusando mais dos pratos , é candidata a clássico do grupo.
Na sequência “Tudo Me Faltará” mantém a sequência inabalável de brutalidade sonora, e da lugar “Vogelfrei” diz algo importante, “… Ninguém ouve ninguém, quem se importa com outrem, fora da lei, livre pra ser, o mal é o outro por medo de si …” em dias de declarações de ódio, de intolerância de tantas pessoas que não aceitam opiniões opostas, é um claro recado social.
Quebrante faixa homônima do cd, com uma introdução baseada nos tons, flor-tom e pratos incrusta sua mente pegajosamente e quase te obriga a ouvir e ouvir várias vezes, os blast beats acompanhados de velozes riffs e seus absurdos vocais gritados mesclados a urros faz de Quebrante uma das preferidas deste “hermoso” álbum.
A música ainda manda o um recado claro “Na primeira oportunidade vão te trair, mas irmandade vão fingir”, ou seja abra-te o olho “mano”.
A Maldição da Rede, fala sobre suicídio, analogia ou não, coincidência? O cd do grupo foi lançado no mês de Setembro, conhecido como “Amarelo”, em alusão ao número alto de suicídios que acontecem neste mês todos os anos, seria uma mensagem subliminar para alertar as pessoas sobre este triste índice?
A segunda maior faixa do disco com incríveis 01:58 min, “Estão Esperando Seu Erro” mostra que o disco realmente é Grind Noise, é speed, bruto e sem meias voltas.
Sumir, uma obra prima urros, riffs distorcidos casados ao groove incansável de James.
“Tiro no Caixão” é a 12 faixa, e ler este disco vai levar mais tempo que ouvi-lo, tão rápido quando uma bala, este petardo leva uma mensagem mórbida “A vingança nunca será esquecida”.
A Vitória da Diva recheada de blests, destaca-se o vocal sujo e rasgado.
“Há Honra (?)” vem mesclada entre Grind e Crust, com boas quebradas de ritmo trocando tons, riffs, passadas e velocidades.
A 15º música é “Eu Sei Como É Morrer”, a quebra de ritmo ao final sendo calculadamente controlada pelo bumbu sugere nada menos nada mais que o caos abaixo quando estiver ao vivo, vale a pena conferir.
Putrescina, A Verdade Gera o Ódio e Pervitin trazem um misto de peso, velocidade, quebras enigmáticas de som, não, não são viradas, são paradas e retornos brutais.
Blasfema Eu traz uma mensagem de duplo sentido, cabe a você ler e se vestir dentro da mensagem ou crer que ela está sendo despejada num sentido mais elevado. Musicalmente? Talvez a mais brutal de Quebrante.
Feliz Ano Novo te dá alguns segundos de descanso até que a mais pura e viral quebraceira tome conta dos seus ouvidos (Atenção, se você tem ouvidos de porcelana, você já deve estar surdo aqui), com riffs coesos e nada dispersos, com a mesma intensidade que começa ela se termina, mas não é assim que ela viaja metade do seu caminho, insanamente com vocais vocifero e guitarra ruidosas esbravejando ódio.
“Celebrar o Improvável, o desejo é indestrutível …”, Este é um trecho de “A vida é uma armadilha”, um torpedo brutal, cadenciado pelo bumbu, e ligeiramente agraciada por solos distorcidos e muito bem vindos pra contrastar com a pegada brutal do Noise Grind praticado pelo Fa-Ca-Da.
“…Quem vai te iluminar? – Quem vai te reprimir? – Quem vai te salvar? – Ele não voltará …” é o refrão da penúltima música desta obra prima. Rápida e sensata, traz uma reflexão, esperar tanto por alguém se você mesmo pode te salvar?
A faixa final traz um sentimento de paradoxo, a faixa mais lenta traz o maior peso (Lembre-se peso e velocidade não são a mesma coisa).
E junto com ela quase que falado narra a mensagem destoante aos vocais grossos rasgados e cercados de urros em violência.
Como fiz lá em acima, volto a relacionar Facada e Nasum, há muito dos suecos no grupo Cearense e mesmo assim, não é mais do mesmo, eles conseguem ser uma banda única, com sua própria atmosfera corrosível, violenta, nuclear, uma bomba musical cheia de petardos a atingir muitos hipócritas e covardes. Facada é a voz de Underground suplicante por melhorias ao povo, a resistência contra a violência descarada que os maiores assassinos do povo comentem, sim, a corrupção, pois nada mata mais que a corrupção.
Com um disco de um Grind Core impiedoso que flerta em vários momentos ao CrustCore, repleto de letras incríveis trazendo mensagens importantes, Quebrante não é só musicalmente candidato a disco do ano, tampouco a melhor disco Grind lançado no Brasil, Quebrante, é uma chance de reflexionar e observar que músicas não são apenas elementos para se bater cabeça, beber até cair e depois, levantar. São uma forma de protesto, conscientização, e uma oportunidade de te ajudar a abrir os olhos, o encarte deste cd (Que vira um Cartaz) é um livro de mensagens, quase uma receita de bolo, mas você deve ler, interpretar, e desvendar o que há dentro de você.
- Deixa o Caos Entrar 00:48
- Nós Somos o Veneno 01:05
- Apenas Mais um Igual a Mim 01:22
- O Pior de Todos 01:35
- A Farsa: Nojo 00:57
- Tudo Me Faltará 01:38
- Vogelfrei 01:04
- Quebrante 01:29
- A Maldição da Rede 01:13
- Estão Esperando Seu Erro 01:58
- Sumir 01:36
- Tiro no Caixão 00:41
- A Vitória da Diva 00:57
- Há Honra (?) 01:22
- Eu Sei Como É Morrer 01:23
- Putrescina 01:37
- A Verdade Gera o Ódio 01:10
- Pervitin 01:36
- Blasfema Eu 01:25
- Feliz Ano Novo 02:13
- A Vida É uma Armadilha 01:07
- Ele Não Voltará 01:04
- Miss Distopia 01:48
Total: 31:08
Black Hole Productions: www.blackholeprods.com
Facada: fb.com/Facada
A gravação foi feita em etapas e locais diferentes:
Por Jorge Alburquerque no estúdio 746, e Taumaturgo Ferreira no VTM
Também no Englsound, Bicho louco e safa estúdio (Berlim) entre muitos outros citados.
Nota 9.5