Marcio Pereira de Souza é mais conhecido como Mario Aranha tem 44 anos e mora zona oeste de Belo Horizonte – MG, muito cedo teve seu pai assassinado na porta de casa e a partir disso entendeu como funcionava a vida e a falta de justiça na sociedade, mesmo sendo muito jovem as cicatrizes ficam, começou a buscar a paz principalmente através da música e incentivando a cultural local, hoje é conhecido como um violeiro de paz, um pacificador e é criador e incentivador dos projetos culturais na capital mineira, como: Rock Pela Paz, o Coletivo Teia Produções, Rock no Parque, entre outros eventos, no último dia 18 de dezembro recebeu o Prêmio Mineiro da Música Independente. Confere o papo que o Cultura em Peso (CEP) teve com ele, que ficou bem legal.
CEP: Conte pra gente como se deu a ideia e começou o “Coletivo Teia Produções”.
Marcio Aranha: Tudo começou em um evento que eu ia abrir para a banda Reggar que hoje é a banda Flecha Certeira, eu tocava sozinho e o pessoal perguntou “Pô, mas cadê sua banda?” e eu respondi “a banda ta aqui, sou eu e a minha viola” ai comecei a tocar e durante o show o pessoal da banda subiu junto e começou a tocar comigo naturalmente como se conhecessem meu trabalho e a partir daí surgiu a banda, começamos a gravar e sempre tinha um amigo que me perguntava “Eaí Aranha cadê a teia?” daí surgiu o nome da banda Marcio Aranha e a Teia.
Então começamos a organizar alguns eventos como o Rock Pela Paz já fomos levando nosso CD físico, onde o baterista sugeriu “coloca aí como Teia Produções”, então assim foi o 1º Rock Pela Paz, 2º Rock Pela Paz foram produzidos pelo Teia Produções, sempre deixando o dinheiro de lado e focando em colaborar com a cena e colocar a gente nessa cena cultural, convidando bandas de fora do estado e sempre as locais juntas, mas na verdade o Rock pela Paz deu uma pausa para trabalhar no “Rock no Parque”.
CEP: Como foi idealizado o “Rock no Parque” e como funciona? Qual a frequência que ocorre?
Marcio Aranha: O Rock no Parque começou em um dia que eu estava passeando no parque Jacques Cousteau (Belo Horizonte) com a minha filha, notamos que tinha um teatro de arena lá onde não tinha energia elétrica nem nada, pensei em fazer um show lá, fui pesquisando e indo em reuniões com a fundação onde acabaram liberando o espaço pra gente, onde foi feito o 1º Rock no Parque, tive ajuda fundamental do meu amigo Carlos Henrique e partir desses show começamos a rodar os parques, foram feitas 22 edições do Rock no Parque, sem dinheiro algum, sem lei de incentivo à cultura e sem nenhum apoio.
Durante as edições do Rock no Parque sempre buscávamos a valorização dos parques ecológicos da cidade, enfatizando a importância de preservar a fauna e flora dos parques ecológicos da nossa cidade.
Tanto o Rock Pela Paz como o Rock no Parque sempre trabalhamos com música autoral, sempre era pedido aos músicos isso e porquê? Era um movimento de música autoral e até pouco tempo a gente não conseguia tocar música autoral e a cortina foi se abrindo hoje a gente consegue tocar música autoral pra todo lado e somos convidados pra isso e aos poucos estamos profissionalizando a música underground independente.
O Rock no Parque já foi mensal em 2018 demos um hiato para registrar o coletivo e tudo mais, mas provavelmente ele vai ter menos edições por ano mas pelo menos de 4 a 5, já tem um programado pra depois do carnaval.
CEP: Como funciona o “Laboratório Autoral”?
Marcio Aranha: Normalmente nos eventos tocam as bandas e o laboratório autoral surgiu para o pessoal que faz música e não tem banda, as vezes voz e violão ou em duplas, o primeiro e o segundo aconteceu no Dona Helo no Padre Eustáquio (Belo Horizonte) nesse próximo ano aconteceram outras edições em outros parceiros.
CEP: O que é o “Rock pela Paz”?
Marcio Aranha: É a nossa forma de contribuir pela paz e bem-estar, onde as famílias podem ir prestigiar o movimento, geralmente o Rock Pela Paz acontece em centros culturais, na capital mineira cada região tem um centro cultural e um parque ecológico e o pessoal não conhece, então se você não conhece o centro cultural da sua região provavelmente você não tem envolvimento com a cultura local, com os artistas que falam as coisas da sua cidade/região e a gente de uma forma pacifica resolveu levar essa arte as pessoas.
CEP: Como é a história do “+ Rock Brasil?
Marcio Aranha: O “+ Rock Brasil” foi idealizado pelo Polaco da Rock D’La Rua, foi sempre realizado na praça do bairro Nova Cintra, trabalhamos juntos ele veio com a ideia do + Rock Brasil e dizendo que tinha que ser na rua, porque ninguém visita os centros culturais e na rua a gente vê as pessoas passarem. Sempre trabalhamos juntos também juntando equipamento, buscando lanche para as bandas e sempre com o Nil técnico de som, sempre foi nosso braço direito, trabalho comigo a 20 anos já.
A fundação cultural nos dava o alvará e a gente fazia nas praças com as bandas, aconteceu em 2015 e 2016, 2017 teve um hiato devido ao falecimento do nosso amigo Polaco e quando deu um ano da morte dele no dia 04/08/2018 a gente fez a última edição em homenagem a ele, como choveu nos cederam um lugar onde era uma antiga locadora, que era uma garagem bem grande para fazer o evento.
CEP: Você se intitula um violeiro de paz, nos conte um pouco da sua história, como surgiu este violeiro de paz?
Marcio Aranha: Sou violeiro, mas não toco viola caipira, eu toco violão folk de 12 cordas, quando eu comecei a tocar esse tipo de música o pessoal achava estranho porque não existia musica autoral, o pessoal sempre tocava cover dos anos 80/90. Agora porque um violeiro de paz? Porque eu falo de paz, agora muita gente acha esquisito você falar de paz, mas esse símbolo paz e amor que até os políticos usam vem do rock né, nos anos 70 no Woodstock o pessoal era paz e amor e pra mim o paz e amor é um símbolo muito forte do rock, no dia que a violência chegar na casa de alguém ela vai entender qual é a importância da paz.
Eu presenciei muita gente morrendo assassinada na minha região oeste por questão de crime e trafico na minha região e a gente trabalhando como operário tocando uma viola e fazendo música, e a minha música retrata de uma certa forma esse período violento da região oeste da capital, mas sempre dando prioridade a conexão com um ser, com a natureza, com o universo, a criação. Meu trabalho é uma mistura do urbano com o natural, então o meu trabalho não tem essa questão romântica eu me posicionei em trabalhar com a paz, um pacificador, trabalhando por um mundo melhor.
CEP: Indique algumas bandas da sua região.
Marcio Aranha: É sempre difícil indicar bandas porque a gente sempre acaba esquecendo alguém, mas eu toco na Consciência Suburbana, Marcio Aranha e a Teia tem o pessoal que ta sempre com a gente como a Big Bear Brothers, Camineros, Fat old Style, 2 Dedo, Los Pollos Caipiras, Flecha Certeira, 80 Rock, Ex Machina.
CEP: Quais seus projetos atuais?;
Marcio Aranha: Atualmente eu estou tocando na banda Marcio Aranha e a Teia com Kleber Rocha na bateria, Rodrigo Alex no contrabaixo e eu como compositor, vocalista e violeiro. Também sou contrabaixista e backing vocal na banda Consciência Suburbana.
Vamos gravar um EP ou CD com o Consciência Suburbana em 2019, recém lançamos o novo disco da Marcio Aranha e a Teia e quem sabe ano que vem mais um EP e estamos voltando com o Rock pela Paz, Rock no Parque e o Laboratório Autoral.
CEP: Deixe um oi/tchau/salve para o Cultura em Peso e seus leitores.
Marcio Aranha: Muito obrigado por tudo, pela camaradagem, o convite, a paciência, educação e queria dizer que é uma satisfação estar com vocês do Cultura em Peso e é muito bacana a iniciativa de estar mostrando a galera que faz e ta no corre do autoral, da música independente, do underground, gostaria de deixar um forte abraço para vocês do Cultura em Peso, muita gratidão e muita felicidade de estar participando com vocês para ampliar os horizontes da cultura. Gostaria de desejar um feliz ano novo a todos.
Curtiu o papo com Marcio? Conhece alguém que movimenta a cena na sua cidade/região? Manda o contato dele para o Cultura em Peso que entraremos em contato.
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