A passada noite de 20 de abril ficou marcada por mais uma festa underground com um trio de bandas portuenses All Kingdoms Fall, Icosandria e Palegazer, no Buraco Pub, que assinalou no passado mês de Março 1 ano de existência.
O centro de Ovar ganhou uma nova vida para os amantes de música pesada desde o nascimento deste pub que apresenta praticamente todos os fins de semana excelentes cartazes e música ao vivo. Este sábado foi a vez de reunir o hardcore dos All Kingdoms Fall, com o post-metal atmosférico dos Icosandria e ainda o post-metal/doom, shoegaze dos Palegazer.
Os primeiros a pisar o palco do Buraco Pub foram os Palegazer. Um projeto extremamente recente (a sua primeira atuação ao vivo foi no passado dia 23 de dezembro de 2023), nascido no Porto, que mistura elementos de post-metal, doom, shoegaze e outros tantos subgéneros. Duo originalmente composto por Francisco Malojo (guitarrista e vocalista) e Nuno Silva (baterista), mas que neste concerto se apresentou com um terceiro elemento no baixo, produzem um som que se destaca por ter variações de dinâmica tanto na vertente instrumental como vocal. Ao longo dos temas, vão alternando entre melodias melancólicas e sombrias e precursões mais rápidas e ritmadas, resultando numa mistura algo surpreendente. Tudo isto acompanhado de berros rasgados, algumas vozes limpas e ainda graves guturais.
Os Palegazer, apesar de consistirem num projeto tão recente, já demonstram uma maturidade assinalável em palco e na sua composição. Não têm pressa em acrescentar vocalizações e sentem quando a música se expressa por si só através da instrumentalização, resultando em alguns temas instrumentais. Quem os viu ao vivo não diria que foram poucas as vezes que já realizaram concertos: o à vontade em palco, a naturalidade com que se apresentaram e a maturidade era, de longe, notável. Têm, sem qualquer dúvida, um potencial enorme para chegar longe!
Setlist: 1-Imminence; 2- *ainda sem nome*; 3- As What Remains Drifts; 4- Ancient Twin; 5-White Mourning.
Já perto da meia noite, chegou a vez dos Icosandria pisarem o palco. A banda com influências de Alcest, Les Discrets, Deafheaven e Opeth navega nas suaves ondas de um post-rock melódico, onde lhe mistura um gutural assombroso e grave, resultando num post-metal de extrema criatividade. Trazem na bagagem um EP “Icosandria” e ainda um novo álbum editado recentemente em 2024 “A Scarlet Lunar Glow” pela Black Lava Records.
No seu último lançamento entregam uma impressão algo diferente: aqui a banda apresenta já algum groove lento e uma melodia sinistra de teclados que por vezes culminam em blastbeats à black metal. No tema do novo álbum “Event Horizon” esta aventura musical é intensificada.
No panorama geral, Icosandria mistura e salta entre texturas de uma forma imprevisível e surpreendente. Melodias quentes e difusas que criam ondas de nostalgia no nosso cérebro, instrumentalização progressiva e contemplativa, tudo com a quantidade certa de peso à mistura. Sonoridades criadas que fazem lembrar uma grande diversidade de bandas dentro do território de Alcest ou Lantlôs, enquanto outras melodias e solos já nos dão mais o toque de Karnivool ou A Perfect Circle. A sua presença ao vivo é tão boa ou melhor do que em álbum. Todo o sentimento dos elementos da banda é rapidamente transferido através de ondas sonoras e vibrações para o público. Torna-se impossível parar de ver ou ouvir. A atmosfera rapidamente se torna nostálgica, envolvente e algo emocional. Sentimentos que vão de encontro às temáticas abordadas: tudo o que invoca sentimentos de melancolia e nostalgia, filosofia, problemas da humanidade, natureza e ainda outras motivações da vida diária.
Foi um concerto primoroso e cativante que não deixou ninguém indiferente. Um futuro brilhante se espera para este quinteto!
Setlist: 1- E.V.A.; 2- Wander; 3- A Scarlet Lunar Glow Pt.1; 4-Neverending; 5- Yggdrasil; 6-Event Horizon.
Para finalizar a noite, houve uma drástica passagem do contemplativo para a agressividade melódica dos All Kingdoms Fall. Embora a noite já fosse bem avançada, não faltou energia aos membros da banda nem ao público que aderiu efusivamente ao espetáculo dos portuenses.
Os All Kingdoms Fall são um quinteto portuense que funde as melhores características do hardcore e metal, percorrendo melódicos rios musicais que se fundem na velocidade das suas músicas. Fogem à repetição melódica que o hardcore nos apresenta e aventuram-se por um experimentalismo post-hardcore.
Formados em 2018, com influências de Comeback Kid, The Ghost Inside e Hatebreed, com ritmos violentos e groovy, ganchos modernos e melódicos misturados com uma voz hardcore que arranha a face da brutalidade. Consideram a sua música um grito pessoal de uma visão transversal da sociedade, mas também um livro aberto para esperanças e medos. E estes sentimentos são claramente expressos ao vivo através da energia contagiante dos 5 elementos da banda. Foi uma hora intensa, violenta, quase como um grito de revolta ou pedido de ajuda para tudo aquilo que está mal na sociedade. Foi uma representação de um desfile de medos, angustias, frustrações e de como as combater.
Para aqueles que já estavam cansados, foi impossível deixar que o cansaço vencesse e nao aderir à energia da banda. Levaram a “vareirada” ovarense à loucura (e não só). Uma excelente forma de terminar uma grande noite na casa do metal de Ovar, o Buraco Pub.
Setlist: 1- Intro; 2- Unbaptism; 3- Ruster Machine; 4- Vagrant; 5- Street Dogs; 6- Grey Eyes; 7- Brokenman; 8- Faust.
Agradecimento especial ao Buraco Pub pela oportunidade, acolhimento e simpatia!