Mais um dia de Vagos Metal Fest inicia, agora com o campismo mais cheio, algum cansaço por parte dos metaleiros, mas muito para se desfrutar. O cartaz do segundo dia prometia e realmente superou todas as expectativas!

O dia arrancou com uma alteração de cartaz: Leach cancelaram “por motivos alheios à organização” sendo substituídos por Morto, que iriam ser a segunda banda a atuar neste segundo dia de festival.

CAPELA MORTUÁRIA

Os Capela abriram o segundo dia com a agressividade brutal do seu Thrash Metal. É impressionante que, mais uma vez, eram 14h da tarde, após um primeiro dia longo de concertos, e mesmo assim a adesão e energia foi brutal! Circle pits do início ao fim, os fãs cantavam em uníssono os refrões das músicas e mais uma vez só se via poeira no ar!

Capela Mortuária – Vagos Metal Fest – Dia 2 | @the.goldenrush

De destacar a personalidade de palco que é o vocalista João Carlos, com um humor que fazia toda a gente rir nas pausas entre músicas, e humor esse que é de todo natural.

Foi um concerto cheio de surpresas e colaborações com Manuel, Fernanda e ainda o vocalista de Warout, António Silva. Que excelente arranque do segundo dia do Vagos!

 

MORTO

A banda de death metal/ grind old school de Braga com apenas dois elementos, Jordi Lopes na bateria e Tiago Silva na voz e guitarra, consegue criar um ambiente absolutamente negro mesmo com o dia de sol que se fazia sentir! De destacar a poderosíssima voz que reforça ainda mais o ambiente macabro que querem criar.

Morto – Vagos Metal Fest – Dia 2 | @the.goldenrush

Com variações entre ritmos mais lentos e mais rápidos, torna-se imprevisível saber o que vem a seguir, reforçando a criatividade deste duo e complexidade dos seus temas independentemente da curta duração das músicas, algo típico do grind. Banda bastante recente e para manter de baixo de olho nos próximos anos…

CONFESS

Os Confess foram os terceiros a pisar o palco. A banda Iraniana/Norueguesa de groove/death metal formada em 2010 no Irão e baseada em Oslo, Noruega, apresenta um metal entre o old school e o new wave. O vocalista Nikan Khosravi, apresenta uma voz poderosíssima, adicionando bastante peso aos temas.

A banda que escreve sobre temas como anti-religião, tem uma história bastante negra: dois dos membros desta banda foram presos no seu país em 2015, por expressarem sentimentos anti-religiosos e anti-regime nas suas musicas. Após pagarem a fiança, ambos conseguiram cruzar a fronteira para a Turquia. De lá, eles fugiram para a Noruega, onde receberam asilo e continuam a escrever músicas com dois membros da banda norueguesa recém-recrutados. Nikan Khosravi foi condenado a 14 anos e meio de prisão, mais uma pena de 74 chicotadas, enquanto Arash Ilkhani foi condenado a 2 anos de prisão.

Confess – Vagos Metal Fest – Dia 2 | @the.goldenrush

Para quem conhecia a história da banda (que foi o meu caso), estava ansiosa por assistir à sua performance, pois realmente isto desperta bastante curiosidade! É caso para dizer que são fieis às suas crenças e não se deixam afetar pelo meio envolvente, independentemente das dificuldades. E a verdade é que, concordando ou não com as letras da banda, o público adorou a sua atuação! Mas a música é isso mesmo: inclusividade.

THE OMNIFIC

Existiam dois grupos no cartaz deste segundo dia do Vagos que realmente marcam pela diferença: um deles eram os The Omnific. Porquê? Um trio: dois baixistas e um baterista. Não é nada habitual, certo? A banda de metal progressivo e industrial de Melbourne, Austrália apresentava alguns apontamentos de voz e semelhanças (e possíveis influências) com Between the Buried and Me e Animal as Leaders. 

The Omnific – Vagos Metal Fest – Dia 2 | @the.goldenrush

Realizaram uma atuação totalmente técnica e complexa. Conseguiram conquistar até mesmo os mais resistentes às várias sub-variantes do género. Foi uma excelente surpresa no cartaz deste ano, sem qualquer dúvida.

MORPHIUM

Chegou a vez do metalcore invadir o palco do Vagos com os espanhóis MorphiuM. A banda que conta já com 20 anos de carreira e 4 álbuns de estúdio apresentou um espetáculo brilhante onde a qualidade musical se misturou na perfeição com a cativante apresentação visual dos integrantes da banda.

Com riff’s que ficam no ouvido, refrões catchy, variações entre voz limpa e berrada, break downs de peso… a receita típica do metalcore e os MorphiuM utilizam-na nas quantidades certas e com qualidade e valor acrescido!

MorphiuM – Vagos Metal Fest – Dia 2 | @the.goldenrush

SAOR

A atuação de Saor foi uma autêntica viagem às zonas mais rurais e bonitas da Escócia! A banda de Glasgow apresenta um folk atmosférico/ black metal bastante diferente de tudo o que estamos habituados onde a mistura entre melodias nostálgicas e a sonoridade do black metal se interlaçam na perfeição. Abordam temas como a história escocesa, natureza, paisagens, tristeza e nostalgia e conseguem transportar-nos com extrema facilidade para tudo aquilo que é falado.

Saor – Vagos Metal Fest – Dia 2 | @the.goldenrush

Apesar da banda ser composta apenas por Andy Marshall, que elabora os temas, é multi-instrumentalista, e escreve as letras, apresentaram-se com vários elementos em palco (naturalmente). Os instrumentos  de sopro ouviam-se na perfeição e transportavam-nos para as three sisters of glencoe, isle of skye, loch lomond e muitas outras localidades de cortar a respiração que existem na Escócia! Quem já lá esteve, foi atacado por uma imensa saudade. Quem nunca esteve, foi automaticamente transportado para lá.

Um concerto cheio de melodias nostálgicas e gélidas, combinadas com vozes femininas, momentos contemplativos, riffs cortantes… Poderiam facilmente tocar mais 1h.

Talvez seja uma visão muito pessoal, mas foi um dos melhores concertos desta edição do Vagos!

MÃO MORTA

Há pouco mencionei que existiram dois grupo a marcar pela diferença neste segundo dia do Vagos. Os primeiros foram os The Omnific, e os segundos são os experientes, que dispensam apresentações, bracarenses Mão Morta. Embora existissem alguns comentários de que Mão Morta não se encaixava no Vagos Metal Fest, eu cá discordo totalmente. Porque não? Por serem considerados rock avant-garde? E porque motivo deve ser feita essa distinção e separação total? Marcar pela diferença não é coisa do metal? Eles também o fizeram.

Mão Morta são um dos maiores nomes da música portuguesa e marcam pela diferença. Uma banda cuja postura veio, ao longo dos anos, a afrontar os valores morais e políticos de uma sociedade culturalmente atrasada e na ressaca do salazarismo. São 40 anos de uma carreira ímpar e impactante, e este concerto foi uma clara representação disso mesmo!

Mão Morta – Vagos Metal Fest – Dia 2 | @the.goldenrush

Mesmo com Adolfo Luxuria Canibal a agir como “flamingos”, como o próprio mencionou durante o concerto, por lesão nos pés/pernas, realizaram uma performance onde desviar o olhar era impossível.

SAMAEL

Que concertão que foi o dos suiços Samael. Este quarteto realmente nunca desilude nas suas performances ao vivo, e até são capazes de surpreender a cada aparecimento! Depois de um concerto algo mais calmo, por parte dos portugueses Mão Morta, Samael provocaram uma descarga de adrenalina total.

A banda que mistura black metal com eletronic/industrial metal não perde qualquer qualidade ao vivo, algo que seria de esperar devido à enorme combinação de elementos que acontecem ao mesmo tempo nos seus temas.

Samael – Vagos Metal Fest – Dia 2 | @the.goldenrush

Algo de realçar é o facto da banda ter um baterista, mas utilizar bateria eletrônica tanto para estúdio quanto ao vivo, adicionando um elemento único ao seu som. O vocalista e guitarrista Michael ‘Vorph’ Locher expira carisma e instantaneamente atrai o público, ganhando incentivo vocal do público para continuar o seu ímpeto.

Apresentaram uma setlist diversificada presenteando os fãs de longa data com alguns trabalhos mais antigos, incluindo “Baphomet’s Throne” e “Ceremony of Opposites“, remetendo à época em que foram originados em 1987. Mas também tocaram temas mais sinfónicos como “The Ones Who Came Before“. Tornou-se impossível não abanar a cabeça ao ritmo dos riffs pesadíssimos que dominaram completamente a cidade de Vagos

EPICA

E chegou o momento que a maioria dos metaleiros esperava: os holandeses Epica subiram ao palco e encantaram todos os presentes com o seu metal sinfónico, numa encenação magnífica e apresentando um setlist que consistiu numa jornada majestosa através de seus 21 anos de história, incorporando temas como “Cry for the Moon“, “Storm the Sorrow” e “Unleashed“.

Com seu maravilhoso maneirismo e voz angelical, Simone Simons será sempre o ponto fulcral e brilhará no palco combinando carisma brilhante com refinamento elegante. Também se sente uma alegria considerável por parte de todos os membros da banda durante toda a performance. Os sorrisos que descem do palco por parte de todos os seis integrantes são contagiantes e o espetáculo assume um tom quase eufórico.

Epica – Vagos Metal Fest – Dia 2 | @the.goldenrush

O público reagia a cada braço levantado e a cada chamada e resposta. Quando Coen Janssen não está a tocar ou a fazer girar o teclado como se fosse um carrinho de compras, junta-se à Simone para animar a multidão. É um exemplo maravilhoso de banda e fãs em perfeita harmonia.

Epica é a banda que agrada a todos, até aos mais resistentes, com a complexidade dos temas, os momentos pesados e riff’s que ficam no ouvido, impressionam qualquer. O público esteve em êxtase durante toda a performance!

GOD DETHRONED

Os holandeses God Dethroned estiveram encarregues de encerrar o segundo dia do Vagos e mesmo após tantas horas de música e da hora já avançada, tiveram bastante público, público esse totalmente envolvido no concerto. A banda de Blackened Death Metal experiente, pois conta já com 32 anos de carreira, traz na bagagem uma vasta discografia (11 álbuns + 1 que irá ser lançado em setembro).

Donos de uma capacidade intrínseca de fundir melodia com peso, sem nunca soar forçado, sendo isto bastante característico da banda. Ao vivo, não se cingiram a apenas tocar os seus originais, mas principalmente a interpretá-los de forma grandiosa e intensa. Algo que por vezes, neste tipo de bandas, se pode perder sem que se dê conta.

God Dethroned – Vagos Metal Fest – Dia 2 | @the.goldenrush

E assim terminou o alinhamento do segundo dia do Vagos, com bastante peso.

 

Para além dos fantásticos espetáculos, do rigoroso cumprimento de horários, do ambiente familiar, da comida e da bebida, este segundo dia do Vagos ficou marcado por um triste acontecimento que aconteceu com um dos seguranças mais icónicos do festival, ou talvez o mais icónico, Nuno Damas, que foi despedido pela entidade patronal por “alegadamente” ter efetuado crowdsurfing. É o profissional mais respeitado não só no Vagos, mas em outros festivais de metal que decorrem em Portugal e rapidamente todo o público e até a organização lhe prestou apoio inalcançável, provando que a comunidade metaleira é realmente atenciosa…

Notícias tristes à parte, o segundo dia do Vagos Metal Fest teve tudo para ficar na memória de todos os presentes durante muitos e muitos anos. E mais uma vez digo, o Vagos está muito bem de saúde e veio com a nova organização Illegal Productions com toda a força para surpreender a 200%…

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