Collingwood Voluspa

Caros leitores, nesse texto de hoje vamos prosseguir com o tema passado, a criação do mundo, mas usaremos os versos do Völuspá para base dos discernimentos. Embora o Völuspá esteja presente no Codex Regius dos Eddas poéticos, é importante não esquecermos da versão de Hauksbók. O Hauksbók é um dos poucos manuscritos nórdicos medievais com autor conhecido, seu nome era Haukr Erlendsson, e seu manuscrito é basicamente o Völuspá sem influencias cristãs.

Pois começando pelo começo, como é o certo, vejamos os primeiros versos do Völuspá:

01-“Eu peço silêncio a todo o povo sagrado, grandes e pequenos, filhos de Heimdallr. Você deseja que eu,Valföðr, conte bem antigas histórias dos homens, aquelas que primeiro recordo?”

02-“Eu me lembro dos Jötnar nascidos no principio, aqueles que com o tempo me geraram. Me lembro de Nove mundos, nove sustentados, na famosa árvore Mediadora, que penetra na terra.”

 03-“No inicio dos tempos, então nasceu Ymir, não existia nem areia,nem mar, nem ondas frescas. Não existia nem Jörð, nem Himin acima, apenas o Ginnungagap, e não havia capim em parte alguma.”

04-“Primeiro os filhos de Borr trouxeram a terra, eles que criaram a famosa Miðgarðr. A Sól brilhou do sul nos salões de pedras; então na terra começou a crescer os verdes galhos.”

 

Valföðr (um dos nomes de Odin)ao inicio das narrações e chama ali a alguns (ou talvez a todos) de filhos de Heimdallr, isso pressupõe alguma ligação entre a criação do homem e ele, mas é muito provável que ele nos chame assim pelo fato do deus estar cuidando a ponte de passagem entre os mundos que separam os mortais dos deuses, e por nos observar quase constantemente.

Logo em seguida ele fala que foi gerado por gigantes, o que entra em uma contradição com o texto anterior sobre a criação dos Deuses. Ele cita os nove mundos e após dar uma introdução as suas memórias começa a falar sobre Ymir, citando apenas a existência do vazio, mas logo em seguida ele pula para criação de midgard falando dos filhos de Borr (o qual foi falado no texto passado). É estranho esse salto em relação a linearidade da história, mas isso mostra que nem mesmo nas citações de Odin sobre a criação do mundo, existe uma linearidade própria dos eventos, o que nos força buscar a e organizar os eventos.

 

05-“A Sól se atirou do sul, a companheira de Máni, estendeu sua mão direita perto da orla do céu; a Sól não sabia onde ela pertencia; as estrelas não conheciam seu lugar no céu, o Máni não sabia de seu próprio poder.”

  06-“Então todos os Regin se sentaram em suas cadeiras, as divindades sagradas para debaterem sobre isso: para Nótt e as fases lunares, nomes impuseram; para manhã deram nome e para o meio-dia, entardecer e anoitecer, para contar os anos.”

07-“Os Æsir se encontravam em Iðavöllr, altares e templos eles edificaram, [suas forças eles provaram, todas as coisas tentaram,] forjas acenderam, riquezas forjaram, pinças fabricaram, e fizeram utensílios.”

08-“No campo jogavam em tabuletas, eram alegres, não sentiam de modo algum a falta de ouro, até chegarem as três donzelas Þursar, muito poderosas, do Jötunheimr.”

Vemos no quinto verso que o sol é tratado dentro do feminino. Isso não é um erro de gramática, e sim o astro era visto dentro da cultura como algo feminino e belo, mas a lua também é feminina, e uma companheira, uma amiga, o sol e a lua não são opostos e sim se complementam. É muito comum as pessoas pensarem no sol como um sinônimo masculino e na lua como sendo o feminino, mas essa representação não cabe ao modo do criacionismo nórdico.

No sexto verso temos o debate sobre a lua e sua função, os deuses sentam e debatem sobre como determinar as fazes do dia, o nome da Noite (nótt) e as fazes lunares, usando tudo isso para contar os anos. Isso é outro ponto a se observar como até mesmo os deuses não haviam denominado propriamente tudo, isto é, após a criação as coisas eram nomeadas, e nunca antes, elas não eram criadas com um intuito próprio para servir a algo, e sim simplesmente criadas e livres, os deuses depois disso criavam os nomes e atribuições das funções que suas criações iriam designar.

Do oitavo verso em diante começa-se a falar sobre o trabalho logo depois do estabelecimento dos deuses em seu primeiro local de residência, o Iðavöllr (ou planície do esplendor). É descrito a criação de altares e ao que parece algo muito curioso, os deuses começaram a auto conhecer suas limitações e poderes, tentando todas as coisas e fazendo provas de força, além de é claro fabricar riquezas, moldar coisas através de forjas e criar utensílios.

Até o oitavo verso é que podemos trabalhar a criação no Völuspá, pois a partir daqui começa-se a introdução para o tema do ragnarok que também está ali presente. Então por fim, os Deuses viviam bem em seu local de escolha, não sentiam falta de ouro até que chegaram as donzelas gigantes trazendo sabedoria. Sim, isso remete um pouco aquela “arvore do paraíso” cristão, mas nesse caso quem trouxe o conhecimento que corromperia os deuses ao ouro e as coisas mundanas e que seria o fruto de todas as futuras desgraças foram os gigantes.

Para finalizar eu gostaria de pedir a você leitor que deixe sua contribuição, todo conteúdo é importante e todo conhecimento é bem vindo, espero que todos tenham gostado da leitura e deixarei ao final algumas referencias para maiores pesquisas. Qualquer duvida poste uma pergunta e mandem sugestões de temas a serem debatidos, todas serão lidas e respondidas.

 

Fontes:

Franchini, A. S. As melhores histórias da mitologia nórdica. 2008.

Lindow, John. Norse Mythology – a guide to the gods, heroes, rituals, and beliefs. 2001.

Bulfinch, Thomas. O livro de ouro da mitologia. 2002.

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