haiti

 

No décimo segundo dia do ano de 2010, pouco mais de 35 segundos e pronto… 70% da Capital Porto Príncipe vieram abaixo, matando mais de 200 mil e deixando um milhão e meio de Haitianos desabrigados. O mundo todo viu as cenas , o mundo todo presenciou, comentou e se comoveu, alguns julgaram e até culparam os Haitianos!
Não demorou muito e quase 2,3 bilhões de dólares foram disponibilizados ao Haiti entre 2010 e 2011, porém desse dinheiro cerca de 1% foi parar nos cofres do Haiti, e o restante desse montante, ou seja, 90%, aonde foram parar? Foram destinadas para as empresas tanto haitianas como estrangeiras e ONGs internacionais (estudo feito pela agência norte americana Center for Economic and Policy Research), 75 % de todo o dinheiro enviado para o Haiti (informações da Agência de Desenvolvimento dos EUA (USAID)) foi cair nas mãos das empresas das regiões de Washington, Maryland e Virginia! Sim amigos, acreditem nisso, o dinheiro que era para o Estado de Porto Príncipe.
Podíamos questionar sobre como os governantes do País se mantém passivos, mas basta ver superficialmente pra notar que a impotência deles se explica pelos muitos casos de corrupção e escândalos dos “chefes”. Fica claro que as migalhas que sobram (depois dos ianques devorarem a ajuda monetária) ficam com esses lideres. Essa tal “cooperação internacional” que era pra reconstruir o País, fracassou, ou ainda pior, basta andar pela Cidade e notar ainda que cerca de 350 mil pessoas continuam morando naquelas mesmas barracas e tendas improvisadas nas praças e terrenos de Porto Príncipe, em condições de higiene , saúde e alimentação deploráveis. Cerca de um milhão de pessoas continuam morando nas casas (cerca de 250 mil foram marcadas por correrem riscos de desabamento) que foram condenadas e deveriam estar vazias, apenas 5.911 casas foram reconstruídas, e mais de 18 mil ainda estão sendo reparadas.
Falar que os problemas seriam monetários ou que a corrupção ou incompetência dos agentes seria inocência, pois essa vergonha, esse fracasso, essa “exploração da miséria e tragédia”, já podia ser notada antes mesmo da dita reconstrução do Haiti já que o planejamento foi feito para as empresas multinacionais, para os “chefes”, para alguns e não para a população que sofre nas ruas, nas praças e nos escombros.
Percebam que quanto mais miséria e mais pobreza, mais se passa a retrógada idéia de os negros africanos ou haitianos serem incapazes de se governar. O que usam como justificativa das intervenções e ocupações militares utiliza demais “intenções humanitárias” e mais presença de ONGs, mais colonização disfarçada.
Quero dizer que as grandes ONGs internacionais ficam com a maior parte de todos os recursos que são destinados ao País e a minimizar os estragos sofridos pela população. Acham que estou exagerando ou mesmo fantasiando tão fato grotesco? Então vá até Porto Príncipe e não vai demorar a notar que existem dois mundos diferentes, distintos e incomunicáveis. Totalmente heterogêneo, o mundo dos brancos, estrangeiros e o mundo dos negros, haitianos. Essa “elite” tem uma vida privilegiada em meio a tanta miséria, eles comem em restaurantes que vem aumentando em quantidade e qualidade nos bairros mais ricos de Porto Príncipe nesses últimos dias, fatos demonstram com clareza o enriquecimento desses cooperativos estrangeiros em contraste ao empobrecimento da população. Essa elite branca e estrangeira anda com jipe importado, mora em mansões e se hospedam nos poucos hotéis luxuosos do País (que custam U$ 100 a diária), onde ficam essas áreas? Em Petiónville, que é o bairro rico da cidade, ostentando hoje até um shopping onde esse sangue suga podem fazer compras sem serem incomodados pela visão deplorável ao redor de miséria, fome e humilhação (novamente). Sugam, exploram impiedosamente as riquezas do País, mantém dezenas e em alguns casos centenas de trabalhadores assalariados sob suas ordens e as ONGs prestam serviços para aqueles que se aproveitam da miséria e expropriam cada vez mais, com essa calamidade ainda mais, de tudo que a cidade e o País possa oferecer de bom.
Olhe a ONG brasileira Viva Rio, que “presta” serviços na periferia da cidade, ao lado da assassina e opressora polícia militar, tentando fazer, como fazem aqui, amansar a população, controlar as lideranças naturais controlando o clima de nitroglicerina que se mantém nessas comunidades. Com a ocupação militar os lideres não correm risco de um levante popular legítimo, a repressão e a violência latentes são conhecidas da comunidade internacional, a Minustah (Missão da ONU no país encabeçada pelo Brasil, os cabeça azuis) é a principal projetora da repressão, pois eles vão além do que dizem que era pra ser feito, eles oprimem e reprimem greves legítimas, protegendo as instituições dos movimentos sindicais e dos operários e sabe quem acionou as forças da ONU pra reprimir greves e manifestações populares dos trabalhadores? Os empresários e europeus, que freqüentam aquele shopping e comem bastante nos restaurantes de luxo daquele mesmo bairro citado há pouco, são os seguranças das empresas e das ONGs.
Ai alguns desavisados podem dizer que é precisão da polícia, pois a cidade é violenta. Espera ai, a cidade de Ouanaminthe, que possui aproximadamente 100 mil habitantes, tem uma guarda policial de cerca de 15 soldados, o que demonstra claramente que o Haiti não é um País violento como os Europeus e os Ianques pintam (você imagina São Paulo por exemplo, com um efetivo policial equivalente em porcentagem da população?) é impensável isso em São Paulo ou em qualquer grande cidade do nosso país. O Haiti não possui um exército nacional, ele foi dissolvido pelo ex- presidente deposto Jean-Bertrand Aristide, ou seja, a única força capaz de conter a rebeldia (legitima) de milhares de operários e da população oprimida e humilhada é a Minustah (principal política internacional defendida pelos sucessivos governos), as tropas brasileiras tem a função verdadeira de garantir que tudo vai continuar como está: miséria, fome, humilhação de uma nação nobre e honrada, a primeira a se libertar com suas próprias forças da escravidão e que tinham tudo pra se tornarem um exemplo, foi destruída pelas mesmas forças que hoje a destroem usando o falso nome de ajuda humanitária, do mesmo jeito que foi traída e explorada por seu filho denominado Papa Doc. Agora temos uma “partilha” do Haiti, temos um imperialismo disfarçado de ajuda, de apoio.
Querem mesmo ajudar o Haiti? Saiam de lá! Mas não só as tropas, saiam os presidentes das ONGS, os diretores das Estatais, entreguem tudo ao seu povo, pois eles já se livraram “deles” no século XVIII e se deixarem eles serão capazes de fazer isso novamente.

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