Números e estatísticas servem para quantificar ou controlar, serve para desumanizar o que por si só já é desumano demais, quando olhamos as pesquisas feitas referentes ao desaparecimento de pessoas, a maioria dos especialistas que as elaboraram ou aqueles que se debruçam sobre os números estatísticos, nem se quer se lembra de que ali, são mais que apenas números frios e isolados, não se lembram de que estamos falando de pessoas, seres humanos, que tem (ou teve) mãe, pai e família, que tinham uma vida, uma existência, sonhos, amores, desejos e todo sentimento tão humano que faz desses números mais que números. Mas como tudo que não seja favorável a manutenção do sistema, pouco importa para as autoridades e para a massa de manobra que por ele é moldada. Quando falamos de desaparecidos, falamos em sua maioria de pretos, pobres em condições precárias de subsistência, em sua grande maioria são jovens que graças a nossa política social, não são vistos da mesma maneira que o restante da população, falamos de homens e mulheres que simplesmente desapareceram em circunstâncias suspeitas e em sua maioria nas favelas, becos, guetos e vielas. Abrindo os números frios das estatísticas, contabilizaremos que os pretos estão no topo das pessoas desaparecidas, mas não por ser essa uma coincidência, mas por ser fato incontestável que os jovens pretos estão sendo caçados nas periferias e subúrbios do País, e o que é notório é que grande maioria foram vistos, antes de desaparecerem, ou em abordagem policial ou em fugas ou conflito. Quando falo de fuga ou conflito, me refiro não apenas a fugas de pessoas com passagens pela polícia ou em condições de “débito” com as autoridades, mas inclua aí nessa lista, ativistas sindicais, representantes de ONG ou projetos sociais, de Quilombolas e outros negros que atuam contra a desigualdade social. Sei que pela cabeça de alguns que estão lendo esse artigo, passa a ideia que a maioria eram bandidos, mas ao analisarmos caso a caso e não os números notamos que as coisas não são assim dessa maneira que a propaganda do sistema quer fazer parecer. Desaparecem jovens que nunca tiveram problema algum com a justiça, estudantes e líderes, que seus erros não foram empunhar uma arma e sair roubando por aí, mas pretos que lutavam contra injustiça e racismo institucional, seja ele em seu bairro em Associações e ONGs, seja em coletivos independentes. Os Altos de Resistência servem como álibi quando alguns dos algozes (fardados ou milicianos), não conseguem fazer o “serviço” de maneira “limpa”, e acabam produzindo provas que descaracterizam o “desaparecimento”.
Quem procura nas delegacias, nos IML e hospitais, são sempre aquelas senhoras ou senhores pretos, que na sua inocência, acreditam que as autoridades possam ajudar a encontrar seus filhos, mas o representante da lei, sempre insinua que o jovem era ladrão ou traficante, mesmo sem ser a verdade por trás dos fatos, depois de longas jornadas e caminhadas sem nada encontrar, voltam pra casa com a esperança que um dia ele vai voltar… pessoas humildes que em sua maioria acreditam no que lhes contam e muitas vezes, graças às modificações de locais e evidências conseguem apagar completamente os rastros, fazendo o neguinho desaparecer de verdade.
Os aliciamentos aos jovens pelo tráfico e pelo crime, também devem ser levados em consideração, pois o tráfico, o crime, são braços do sistema e o outro lado da moeda (mas ainda é a mesma moeda), que arrastam incautos para uma condição ainda pior que apenas os pré-conceitos institucionais, pois agora sim esses estariam onde o sistema realmente gostariam que eles estivessem, lotando as cadeias, lotando as UTI´s e lotando os necrotérios.
O neguinho sumiu, não por que ele queria se afastar da família, da sua pseudo moradia, mas porque desde 1888 (na verdade, desde as primeiras décadas de 1500) são vistos como algo indesejável para o sistema vigente, desde o início o desejo de que todos os “neguinhos” sumissem se fez presente em políticas intensivas para esse propósito, primeiro nos fazendo sumir das vistas da cidade (centros e bairros mais estruturados), e progressivamente nos fazer sumir da história do País, mas suas políticas de higienização e embranquecimento não surtiu o efeito necessário, iniciaram a política de extermínio. Os números frios e desumanos mostram isso.
O neguinho sumiu!!! E seguem as buscas secular, mesmo sabendo que, mesmo que se o seu corpo magro e preto for encontrado apodrecendo em alguma das diversas valas comum, ele realmente nunca será encontrado.

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