A morte da Rita Lee me deixou um vazio imenso. Quando recebi a notificação que ela havia partido, aqui trabalhando quietinha, neste mesmo computador, só consegui me engasgar. Por dias a fio, não toquei no assunto, muito menos escrevi. Eu precisava elaborar, entender que o que tinha acontecido, as coisas tinham mudado.

Mesmo assim, por força do hábito, me prestei a assistir a comoção pela sua passagem, todos lamentando, postando fotos e letras de música (até quem nunca tinha se prestado a ouvir Rita estava chorando), e a grande mídia falando uma bobagem atrás da outra – chamadas e textos que constrangiam e envergonhavam tanto, mas tanto, que a gente ficava se perguntando, sem obter respostas, é claro, como alguém aprovou um texto de tamanho escárnio (se não me engano falava sobre drogas e discos voadores, mas em geral os obituários eram ridículos e cheios de clichês) a respeito da maior roqueira que esse mundo já viu? Com essa figura sensacional, criativa, debochada, gênia, deusa e diva das divas que era Rita Lee? Como alguém ousa tamanho desrespeito? Acabei não me atendo a essas bobagens que essa gente infeliz profere nesses momentos: “ela viveu intensamente”, sugerindo o uso de drogas, e que Rita teria “pago por suas escolhas”.

Depois de alguns dias dessa triste perda, pensando de maneira mais clara e já mais resignada, cheguei à conclusão que Rita Lee, a quem acompanhei a carreira de perto tanto quanto pude, indo a dois show (o primeiro no Planeta Atlântida, em 1996) – abaixo, uma palhinha:

e o segundo no Bourbon Country, lá por 2006, se não me engano, ela era como se fosse uma irmã mais velha pra mim. Lembro da época gloriosa que ela participava, junto com a Fernanda Young, do programa Saia Justa, do GNT, e do qual eu não perdia um episódio. Vocês têm noção que a Rita Lee aparecia, como todo o seu nonsense, ironia e psicodelia, num canal da Globo, todas as quartas-feiras? Se tu não acredita, ou não teve chance de ver na época, é só assistir aqui, ó (impagável, falando de escatologia):

Eu fico apavorada quando penso que a Rita Lee não está mais aqui. Eu, que nem acredito em vida após a morte, e muito menos que “ela descansou” ou “foi para um lugar melhor”, apenas lamento que vou ter que viver num mundo que agora não tem mais um ser da marginalidade da Rita Lee. Que lástima, viu? Depois de viver décadas acompanhando a sua carreira, resgatando os sucessos dos Mutantes e tentando decifrá-los, agora me sinto sozinha. Rita sem dúvida era a alma e a graça dos Mutantes, ao lado de Sérgio e Arnaldo Batista. Abaixo um post de Sérgio, despedindo-se. (Mas que não esqueçamos o escanteio que os Mutantes deram Rita quando a banda resolveu fazer rock progressivo). Rita, por sua vez, seguiu com a banda Tutti Fruti para depois, iniciar seu trabalho solo.

 

Impossível não mencionar a carreira que envolvia a linda história de amor ao lado de Roberto de Carvalho, relação que deveria servir de exemplo para todos os casais do mundo: simplesmente perfeita, livre e com respeito. Os dois tiveram três filhos: Beto, em 1977; João, em 1979; e Antônio, em 1981. Transgressora, Rita Lee não gostava de rótulos como “lenda do rock”, afinal, quem é roqueiro de verdade é avesso a esse tipo de cafonice típica da grande imprensa, mas que eu, com jornalista, confesso que às vezes é difícil de fugir. Rita ria dela mesma, e quem a acompanhou no Twitter, também pode ter contato com essa revolução de genialidade que era Rita Lee.

Abaixo, disponibilizo vídeos fundamentais para quem quer conhecer mais sobre a carreira de Rita.

 

 

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