Nunca antes na história desse país foi tão fácil de se gravar e distribuir música, consequentemente a isso o público é bombardeado de músicas e bandas boas o tempo todo e na minha opinião nunca antes tivemos tantas bandas boas por metro quadrado.

Mas mesmo com a facilidade da distribuição muitas vezes a música não chega no público alvo, as vezes teu vizinho não sabe o que tu tá fazendo além de barulho, devido a isso sempre surgem as pessoas que movimentam a cena local e por isso o Cultura em Peso resolveu fazer uma série de entrevistas com essas pessoas, quem são elas? Aonde habitam? Do que se alimentam? Tudo isso e muito mais nessa nova série de reportagens.

Thomas Michel Antunes, lageano, altura mediana, 30 anos, guitarrista das bandas Plunder e 355, é pai do projeto Palco Aberto Marajoara e do Festival Santana’s Sunday. Pega os óculos de grau porque o papo ficou longo, mas bem legal.

 

Não temos certeza desta fonte, mas esperamos muito que esse rapaz seja o Thomas.

 

CEP: Olá Thomas meu jovem, todos sabemos que o ultimo “boom” da música autoral lageana aconteceu com o projeto Palco Aberto Marajoara (PAM) foi um momento na cidade que se você chutasse uma pedra saia duas bandas autorais de baixo. Conte para o Cultura em Peso (CEP) como surgiu a ideia deste projeto?

Thomas: A ideia do projeto surgiu por acaso, eu queria um lugar que as bandas ensaiassem, apresentei a ideia para a fundação cultural e eles falaram que queriam mais, eu pensei em um show pois só seria liberado o espaço um sábado por mês, eles me exigiram músicas autorais para evitar pagar o Ecad, deu medo no início, mas acabou dando muito, muito certo.

 

CEP: Como funcionava o projeto?

Thomas: Acontecia o seguinte, durante um mês juntávamos quatro bandas autorais e durante esse tempo fazíamos uma formação metodológica, dava-se as ferramentas para as bandas trabalharem quase todos os aspectos que necessários. Era como uma profissionalização, não trabalhávamos exatamente com música, mas fornecíamos as ferramentas para as bandas montarem seus próprios shows, fazer release, fotos, produção de palco, como entrar em contato com a imprensa, entre outros temas.

Durante esse mês de reuniões já se organizava o evento, as próprias bandas organizavam o evento (se o evento foi bom, parabéns para as bandas, se o evento deu muito ruim, aí a culpa é das bandas), a gente guiava o trabalho, mas era uma filosofia muito forte de “Do It Yourself”.

 

CEP: Se você fosse para uma ilha deserta quem ou o que você levaria?

Thomas: Eu não sei, mas uma guitarra eu levaria.

 

CEP: Como foi o apoio por parte da Fundação Cultural, Prefeitura e outras organizações?

Thomas: Por parte da Fundação Cultural, tivemos muito apoio, principalmente técnico, durante o PAM, foi algo bem legal por parte deles, pois apoiaram e não precisou ser com dinheiro, se criou uma política de música autoral na cidade, coisa que nunca teve. Isso acabou se provando que não é necessário dinheiro para fazer incentivos na cidade, provou que falta de dinheiro não é desculpa para não promover cultura na cidade.

 

CEP: Como foi o apoio dos músicos mais antigos (ou experientes) da cidade? Colaboraram, participaram ou apoiaram?

Thomas: Alguns dos músicos mais experientes da cidade achavam que eles não precisavam do projeto porque já tinham muito conhecimento (e realmente têm) e blablabla, mas nunca foram contra. Por outro lado, teve músicos muito experientes que participaram do projeto, músicos com mais de 20 anos de experiência. Então foi meio dividido, teve gente que não apoiou, mas não foi contra.

 

CEP: Você esta solteirão? Está no Tinder?

Thomas: Atualmente eu não estou solteirão, nem no Tinder.

 

CEP: Como foi sua relação com músicos participantes do projeto?

Thomas: Foi muito massa a relação com os músicos, logico que é tenso tu organizar um evento e foram seis eventos, com quatro bandas cada, com uns cinco músicos por banda ou seja foram cento e poucos músicos, mas me dei bem com a gigante maioria, muitos eu criei um vinculo muito forte, pude ver que são pessoas que se puxam pra fazer as coisas e essas pessoas merecem reconhecimento e meu apoio total. No meio do caminho conheci muitas bandas que eu não conhecia e foi muito bom ver bandas novas de qualidade na minha cidade e sempre que faço eventos por fora eu ainda tento chamar aquelas bandas e músicos que tem muita qualidade e eu sei que posso confiar no trabalho.

 

CEP: Ainda veremos o Palco Aberto em Lages ou outras cidades?

Thomas: Talvez sim, talvez não. Eu gostaria que ele voltasse forte em várias cidades, pois é um projeto importante para promoção cultural e de divulgação da música autoral, até para uma política de promoção de música autoral, porque sinceramente o Iron Maiden vai acabar, o Cazuza já morreu, Mutantes e Pink Floyd já acabou. O mundo como um todo precisa de músicas novas e se não tivermos uma política de consumo dessas músicas vai ficar uma chatice, vamos ter menos músicos, menos shows, menos cultura e isso vai ser um saco.

 

CEP: Você chegou a sentar na cadeira e botar um sorriso na cara orgulhoso do seu trabalho tipo “Alcançamos nosso objetivo”?

Thomas: No final eu fiquei MUITO feliz, mas um pouco frustrado. Porque eu queria fazer muito mais e não deu.

O PAM deveria ter três fases, a primeira, que era a formação metodológica das bandas (que aconteceu), a segunda, que era a parte de divulgação na comunidade, que seria uma serie de shows com pouca remuneração ainda, mas shows de divulgação para a população, iriamos atacar e fazer 40/60 shows em três meses na praça, no teatro, no mercado em todo canto, para as pessoas notarem que tinha algo acontecendo na cidade. A terceira fase seria a monetização, porque cultura x mercado, vivemos no capitalismo e precisamos remunerar as bandas, eu tenho uma quase bronca com o underground porque “aah, vamos lá só pra divulgar, apoiar a cena, vamos pela camisa” isso é muito legal, mas as bandas acabam morrendo, os lugares acabam fechando e se as casas de show fecham não tem onde tocar, ai as bandas morrem, se as bandas morrem não tem mais show, nem público, se não tem público não tem musico, se não tem musico não tem promoção cultural. Claro que tudo tem suas exceções mas acaba minando todo um cenário que é muito difícil recuperar.

A gente sempre vive ondas do underground, eu toco desde 2003, vi várias dessas ondas onde estamos bem de bandas e shows e logo estamos sem nada, então, estamos em um momento bom, mas já esteve melhor. É muito difícil recuperar, principalmente público e formação de público é nosso principal entrave.

Mas no fim teve sorriso na cara sim, virou uma moda na cidade musica autoral, eu vi muitas bandas e músicos novos fazendo música autoral e isso é sensacional, vários shows, casas sobrevivendo (tendo grana, tá ligado?) e bandas crescendo só com música autoral, isso é sensacional, quebrar esse paradigma do cover.

Foto pós-show da quarta edição do Projeto Palco Aberto Marajoara com as bandas Plunder, Megaluce, Nova d.C e Curto Circuito (2016).

 

CEP: Qual sua cor preferida?

Thomas: Acho que é verde, mas gosto de todas as cores.

 

CEP: Você acha que todos os objetivos foram alcançados?

Thomas: Nem todos os objetivos foram alcançados, tem muito trabalho, por isso eu digo que o PAM talvez volte, mas por mais que tivesse muita gente que me ajudava, era temporário, demorava muito tempo e eu tenho emprego preciso pagar meu aluguel, contas, na época eu tinha um apoio legal da Fundação Cultural, hoje eu já não tenho um apoio tão forte do poder público, o que dificulta as coisas e eu não falo sobre grana é apoio mesmo, de falar “vamos lá, vamos fazer, eu carrego essas caixas pra você”, isso se perdeu bastante, ainda tem um trabalho a ser feito por isso eu ainda digo que talvez volte

Show da banda Megaluce no Projeto Palco Aberto Marajoara

 

CEP: Podemos dizer que o Santana’s Sunday é um filho deixado pelo Palco Aberto?

 

Thomas: O Santana’s Sunday não é um filho do PAM, é o pai!

 

O PAM só começou porque eu fui convidado pelo Eduardo Vicari (Xuxu), que trabalhava na Fundação Cultural, ele veio de Florianópolis e chamou todos que estavam fazendo evento na época, produtores e músicos, para que ele conhecesse o cenário de música atual e eu estava começando o Santana’s Sunday, aí ele deu a ideia e perguntou se eu tinha algum projeto, eu levei o projeto e aí toda a história aconteceu, então o PAM que é o filho.

Mas o Santana’s Sunday é retroalimentado PAM, pela questão da gigante parte das bandas que tocam no Santana’s Sunday serem autorais, a gente ta fazendo agora dia 16/09 e não tem nenhuma banda cover.

 

CEP: Pega a menina: ( ) no ford; ( ) no chevrolet; ( X ) de transul.
(pra quem não entendeu)

 

CEP: Indique algumas boas bandas que passaram pelo projeto.

Thomas: Bandas boas pelo projeto? Teve um monte, AbomiNação, John Liar, Megaluce, Arconde, Plunder (heheh minha banda), Nova d.C, sei lá porra, Doctor Holmes, Nona Avenida, não vou lembrar todas mas teve muita banda que me surpreendeu que eu não conhecia e acabei parando e escutando realmente de tipo “pô, essa banda vou escutar em casa”.

 

CEP: Qual sua dica para quem tem uma banda autoral?

Thomas: Tem que se criar um objetivo, pois isso é muito importante para saber o que você quer ser com a banda. Por exemplo, na minha banda Plunder, nosso objetivo é que queremos tocar em tudo que é festival de metal, na 355 o objetivo é gravar músicas, queremos ter um CD e tocar na rádio. Então tem que definir os objetivos e se levar a sério para cumprir eles.

Show no calçadão de Lages com a banda 355

 

CEP: Deixe um salve/oi/tchau para os leitores do CEP.

Thomas: Galera do Cultura em Peso eu acho sensacional o trabalho de vocês e de todas as mídias alternativas/undergrounds/independentes que movimentam muito a cena e tem um papel muito importante, que é promover as bandas e que os fãs conheçam essas bandas. É sensacional o trabalho de quem faz e quem lê também, é muito foda, Cultura em Peso é foda!

Thomas sendo Thomas 🙂

Gostaria de agradecer Thomas por reservar um tempinho para o Cultura em Peso, eu pude ter a experiência de participar deste projeto com a minha banda e posteriormente ter sido convidado para fazer parte da equipe para promoção do Palco Aberto Marajoara e digo, cada cidade deveria ter um projeto desses é muito engrandecedor para a valorização da música na cidade e para os músicos.

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