Desde que comecei com esse lance de ter banda e estar envolvido com o underground, ouço falar que para as coisas evoluírem na cena precisamos de união. Não importando a classe social, etnia, gênero e tudo mais. Você concorda com essa ideia? Pois é, eu também. Inclusive muitas vezes falei no palco que éramos uma família, uma verdadeira legião. Porém, contudo, todavia, entretanto precisamos ficar atentos. Por que digo isso? Será que é possível união com quem tem valores tão diferentes de você? É possível tolerar
quem não te tolera?

Baseado nessas questões, é possível pensar que há pessoas que não se importam com isso,
pois “no moshpit tudo mundo é igual”. Todas as diferenças são colocadas de lado pelo amor ao metal. Porém nem tudo é passível de tolerância, ao meu ver. Veja bem, não me refiro ao fato de pessoas torcerem por times de futebol diferentes, preferir feijão ao lado arroz do que em cima, ou se você é gosta de uma cor diferente da minha. Falo daqueles que explicita ou sutilmente atentam contra o que é diferente, simplesmente pelo fato de ser diferente. Aqueles que são racistas, homofóbicos, machistas, supremacistas em geral, e todos os intolerantes. Com o advento da internet, onde temos acesso mais fácil ao que acontece ao redor do mundo, nada ou quase nada fica sem registro. Fica somente ao seu critério ser conivente ou não com a intolerância que você vê. Digo isso, pois muitos não se importam com a forma como muitas pessoas pensam, se comportam e falam. Então eu pergunto: É válida a união mesmo que no underground, com pessoas que não toleram sua maneira de viver a vida, ou pior, não toleram quem você é? No Metal todos são bem vindos, desde que entendam que é necessário que todos precisam viver em harmonia. Nossa sociedade é preconceituosa com os negros, gays, mulheres e todos que visualmente ou intelectualmente fogem do padrão. Talvez seja ingenuidade demais esperar que o banger aja de forma diferente, pois todos somos humanos e com isso herdamos as muitas contradições inerentes à espécie. Mas não deixa de ser um ideal para se buscar, pois se quisermos uma cena mais unida precisamos evoluir como seres de fato pensantes e capazes de entender nosso papel na sociedade em que estamos inseridos.

No Preto no Metal acreditamos que a união sempre é válida para agregarmos conhecimento, trocar experiências e somarmos forças, mas sempre atentos os verdadeiras idéias de quem nos aliamos. O preconceito racial é muito forte aqui e quase nunca é explicito. É fato que muitos pretos dizem não terem sofrido racismo simplesmente por não conseguirem identificar por exemplo, aquela preconceito disfarçado de piada de mau gosto do brother que muitas vezes é “amigo” de longa data. O conhecimento principalmente da história ajuda e muito na hora de identificar situações que não ficam explícitas, até mesmo porque o racismo é estrutural e tem seus tentáculos firmemente presentes em inúmeros aspectos da sociedade. Leia muito, estude história, valorize a ciência e o conhecimento. Parece chover no molhado, mas com essa onda crescente do neo fascismo e do negacionismo ao redor do mundo, nunca é demais lembrar.

Portanto fique atento, procure saber mais sobre a forma de pensar das pessoas que você
se alia na sua rotina e no rolê também. Não é porque você não é preto que você deve
tolerar o racista. Não é porque você não é mulher que você deve ser machista. Até
porque o que hoje aceitam em você, amanhã pode ser motivo de intolerância. Todas as lutas se resumem em uma só conceito: Respeito e aceitação. União sim, com quem agrega e respeita. Quem diminui alguém pela sua etnia, gênero, ou por ter idéias humanistas que se una com seus iguais.

Texto por: Lohy Silveira

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